Depois de anos de supremacia do minimalismo nos interiores, o maximalismo retorna com força e maturidade — especialmente na cena arquitetônica nordestina. Em CASACOR Pernambuco 2025, esse reencontro com o exagero estético não é apenas visual, mas profundamente simbólico. Os ambientes da mostra apresentam um novo maximalismo, tropical e sensorial, que mistura afetividade, cultura e liberdade criativa. Não se trata de acumular, mas de expressar. E expressar com intensidade.
A edição 2025 da mostra pernambucana transforma a estética exuberante em linguagem narrativa. Cada ambiente conta uma história, através da sobreposição de cores vibrantes, materiais artesanais, formas esculturais e usos inesperados da natureza e da arte. O “mais” não se refere apenas ao volume, mas à carga de significado.
Quando a madeira molda o território
O projeto “Sob o Manto de Pernambuco”, assinado por Felipe Valadares e Liesid Neto para a Loja ADEPE, é um dos exemplos mais potentes dessa estética sensorial. O espaço é uma travessia entre o litoral e o sertão, onde a madeira moldada em grandes relevos conduz o olhar, evoca memórias e revela camadas de identidade. Ao lado da pedra natural em tons de areia, surge um ambiente que acolhe — não apenas por sua forma, mas pelo que representa.

(Walter Dias / CASACOR)
O artesanato local é tratado como patrimônio vivo, integrando-se à arquitetura como extensão do território. Aqui, o maximalismo não grita — ele sussurra em curvas, texturas e silêncios preenchidos por significado.
Arte, textura e tridimensionalidade

(Walter Dias / CASACOR)
Já no Apartamento Electrolux, projetado por André Carício, o maximalismo se manifesta na escolha de uma obra de arte como elemento central da ambientação. A escultura tridimensional de Beth Cyrne, “Semear o Sonho, Agradecer o Existir”, amplia o volume do espaço e propõe um novo olhar para os interiores. O ambiente, com pé-direito duplo, mescla o resgate de elementos originais com o gesto contemporâneo, em um jogo entre passado e futuro.
A paleta cromática, os materiais e a iluminação valorizam cada textura, compondo um cenário que abraça o visitante com camadas de memória e sensorialidade.
Ousadia nas paredes da cozinha
A Cozinha Viva Deca, assinada por Cecília Lemos, reforça que o maximalismo é também uma linguagem da memória. Com sua mistura vibrante de estampas, intervenções artísticas e revestimentos expressivos, o espaço desconstrói a neutralidade tradicional das cozinhas. As paredes ganham vida com a arte de Bruna Emery, enquanto o mobiliário dialoga com o erudito e o popular.

(Walter Dias / CASACOR)
O ambiente não tem medo de contrastes: mescla o intuitivo ao sofisticado, o afeto ao design. É o retrato de uma casa viva, pulsante e plural — como o Brasil que a inspira.
Acolhimento através da cor

(Walter Dias / CASACOR)
O Living Brávia, de Andrea Calabria, apresenta uma leitura emocional do maximalismo. A parede laranja em diálogo com o biombo tropical não apenas delimita os espaços, mas os colore de afeto. A proposta une sala e cozinha num fluxo contínuo de convivência e calor humano. O design sensorial está nos detalhes, nas curvas, nos objetos. A casa se torna um abraço visual, onde tudo coexiste e se relaciona.
A floresta como manifesto

(Walter Dias / CASACOR)
Na proposta “Refúgio da Alma”, da Atmosphera Plantas & Paisagismo, o maximalismo assume sua faceta mais naturalista. Trata-se de um espaço de introspecção, onde árvores e folhagens compõem uma floresta urbana interna, criada para reconectar o visitante ao silêncio e à contemplação. O verde se infiltra na arquitetura, em uma simbiose entre paisagismo e construção. Aqui, o excesso não cansa — acalma.
Cerâmica como herança viva

Na Loja Oficina de Cerâmica Francisco Brennand, projetada por Diogo Viana, a matéria bruta se transforma em arte com memória. O ambiente celebra o legado do mestre pernambucano por meio de uma paleta de cores que remete ao seu universo criativo. O painel de cerâmica de 1968, assinado por Brennand, ganha protagonismo e reforça a integração entre arte, mobiliário e arquitetura. É uma homenagem tátil e visual à cerâmica como linguagem cultural.
Maximalismo geométrico e contemporâneo

(Walter Dias / CASACOR)
Finalizando a mostra, o projeto da loja-conceito Gustavo Eyewear, da Duopl Arquitetura, aposta em formas anguladas, espelhos tensionados e volumes diagonais para provocar o olhar. A proposta mostra como o maximalismo contemporâneo pode ser geométrico, intelectual e sensorial ao mesmo tempo. O ambiente estimula múltiplas perspectivas — sobre o espaço, sobre os objetos e, principalmente, sobre o próprio observador.
Serviço – CASACOR Pernambuco 2025
- Quando: de 4 de outubro a 30 de novembro de 2025
- Onde: Complexo Niágara S.A. – Esquina da Av. Rio Branco com a Rua do Apolo, Bairro do Recife
- Horário de funcionamento: ambientes (1º e 2º pavimentos), de terça a sábado, das 14h às 22h (bilheteria até 21h). Domingos e feriados, das 12h às 20h (bilheteria até 19h). Operações gratuitas (bar, café, restaurante e espaço de eventos), de terça a sábado, das 12h às 22h. Domingos e feriados, das 12h às 20h.
- Bilheteria digital: https://appcasacor.com.br/events/pernambuco-2025
- Valores dos ingressos: R$ 90 (com meia-entrada garantida por lei)