No emblemático Sesc Pompeia, projetado por Lina Bo Bardi, a CASACOR apresentou o manifesto do próximo ano, propondo uma jornada que une razão e sensibilidade. O evento, parte da série Eixos CASACOR, reuniu profissionais e pensadores para debater o futuro da arquitetura e do design sob o tema “Mente e Coração”, explorando o papel das moradas como espaços de reconexão e autocuidado.
A escolha do local não foi aleatória. O Sesc Pompeia, ícone do brutalismo brasileiro e da convivência coletiva, representou o cenário ideal para discutir os paradoxos do mundo atual — um tempo em que a busca por autenticidade se mistura à dependência tecnológica e à constante pressão por produtividade.
Antes do anúncio oficial do tema, um painel reuniu nomes de diferentes áreas, como a arquiteta Viviane Telles, o líder espiritual guarani Carlos Papá e a psicanalista Maria Homem. Juntos, eles refletiram sobre as inteligências orgânica, manual, ancestral e emocional, pilares que sustentam a proposta curatorial para 2026.
“Vivemos uma era em que o ruído é constante e o silêncio virou um luxo. Precisamos reaprender a ouvir a nós mesmos e aos outros”, destacou Maria Homem, ressaltando a importância da dimensão emocional na arquitetura contemporânea.
“Mente e Coração”: um manifesto para o novo morar
O tema “Mente e Coração” nasce do desejo de reencontrar o equilíbrio entre o interior e o exterior — físico, emocional e espiritual. Em meio ao avanço da inteligência artificial e à Síndrome de FOMO (“fear of missing out”, o medo de perder algo), a CASACOR propõe que o lar volte a ocupar seu papel essencial: o de porto seguro e território de cura.
Para Livia Pedreira, presidente do conselho curador da CASACOR, a casa se transforma em um espelho das contradições da vida moderna.

“Nosso abrigo simboliza uma era ambígua, que nos empurra à exposição, mas demanda recolhimento. A morada passa a ser o espaço sagrado de busca pelo equilíbrio entre corpo e espírito”, afirma.
Essa visão reflete uma tendência crescente no design de interiores e na arquitetura global: projetar ambientes que acolham e regenerem. A estética passa a ser uma ferramenta de bem-estar e autocuidado, com foco em materiais naturais, iluminação suave e integração com a natureza.
A casa como território sensível
A curadoria da CASACOR 2026 incentiva os profissionais a criarem espaços que dialoguem com o emocional, traduzindo sentimentos em texturas, cores e formas. A abordagem convida arquitetos e designers a refletirem sobre como os ambientes impactam a saúde mental e a vida cotidiana.
“Para nós, a casa é extensão da alma. Quando o espaço é tratado com respeito e escuta, ele cura”, explica Carlos Papá, reforçando a dimensão ancestral e espiritual da conexão entre morador e ambiente.
Nesse contexto, o lar assume um papel quase terapêutico — uma resposta à saturação de estímulos digitais e à urgência de se reconectar com o essencial.
Novos caminhos e legados da CASACOR
Além da revelação do tema, o evento apresentou outras novidades: a criação do Instituto CASACOR, dedicado à preservação e ocupação cultural de espaços urbanos, e a exposição “CASACOR e o Parque”, que acontecerá no Parque da Água Branca, entre novembro e dezembro de 2025.
Segundo André Secchin, CEO da CASACOR, o local continuará a ser o palco principal da mostra paulistana em 2026, prevista para o período de 2 de junho a 9 de agosto.
“Queremos colocar luz sobre os espaços naturais e culturais de São Paulo, promovendo sua revitalização e conexão com a comunidade. Nosso compromisso é fazer da CASACOR um agente de transformação urbana”, afirmou Secchin.
O legado do evento já é visível: mais de 700 toneladas de entulho removidas, R$ 3 milhões investidos em recuperação arquitetônica e um aumento expressivo no movimento de visitantes e no faturamento dos comércios do entorno.





