Materializado a partir de camadas históricas, contemporâneas, culturais e tecnológicas, o ambiente Acalanto e Encontros, assinado pelo arquiteto Bruno Moraes, do BMA Studio, para a 37ª CASACOR São Paulo, é um verdadeiro portal para a alma do Brasil, onde cada detalhe valoriza as muitas raízes que formaram o país.
Em sua inspiração, ele deixa seu olhar esperançoso para o futuro da arquitetura nacional através de uma proposta com intersecções entre história, cultura e design, que convida os visitantes a emergirem em uma experiência que transcende o tempo.
Para 2024, a maior mostra de arquitetura, decoração e paisagismo das Américas pautou-se no tema ‘De presente, o agora’, reunindo renomados escritórios e profissionais para elaborar ambientes capazes de expressar o legado que o tempo presente está construindo para as futuras gerações e para o próprio planeta, principalmente no contexto da habitação.
Técnicas eco-friendly
Sem receios de encarar esse desafio, Bruno entrelaçou passado, presente e futuro em uma narrativa arquitetônica sustentável e autêntica, evidenciada na escolha dos elementos, no uso de materiais reciclados, técnicas construtivas eco-friendly e práticas de design consciente.
“Procuro reconhecer as nossas origens nos detalhes e reinterpretá-las dentro de uma leitura atual, pois elas sempre estarão conosco como parte da nossa identidade. Compreendo também que a formação de nossa ancestralidade tem como base o presente que, ao mesmo tempo, nos permite vislumbrar o futuro que desejamos estabelecer”, analisa o profissional que participa pela segunda vez da CASACOR São Paulo e que, logo na sua estreia, no ano passado, foi vencedor na categoria Cozinha Integrada | Espaço Gourmet, com prêmio concedido pelo júri da VEJA São Paulo.
Inovar na tradição
Bruno Moraes projetou um amplo living, de 59 m2, para impressionar e bem receber quem passeia pela mostra, acolhendo tanto os exploradores assíduos quanto aqueles que precisam fazer uma pausa, ambos de forma funcional com pontos de tomadas distribuídos no espaço que permitem aos visitantes o carregamento de dispositivos eletrônicos sem preocupações, enquanto desfrutam do aconchego e contemplação do Acalanto e Encontros.
Com sofás modulares de formatos orgânicos que permitem uma circulação tranquila, os tons terrosos e off white adicionam o calor e a naturalidade necessários. Em uma mistura do antigo e o novo, as paredes curvas remetem a grande era do Art Nouveau, que influenciou o Modernismo e o Futurismo por explorar formas dinâmicas e inovadoras.
No teto que atrai olhares, o profissional valorizou a estrutura histórica da laje nervurada do Conjunto Nacional ao adicionar uma camada extra de profundidade ao ambiente. Para tanto, foi executado um envelopamento de gesso que acompanha a construção original, que devido ao tombamento do prédio pelo patrimônio histórico, não era possível pintar diretamente as estruturas. “Assim, conseguimos aplicar a cor verde, presente em diversos elementos do projeto, sem comprometer a integridade histórica do espaço”, enfatiza o arquiteto.
Tapeçaria “indígena”
No coração do Acalantos e Encontros, um grande tapete de 6 x 5,5 m, produzido com retalhos de diferentes tecidos, texturas, cores e formatos, impressiona tanto por sua aparência, como pela história. O arquiteto conta que a tapeçaria é uma canção de ninar indígena, congelada no tempo e na arte, e que evoca um legado longínquo e anterior ao descobrimento do Brasil.
A criação da peça é do próprio escritório BMA Studio, que empregou a Inteligência Artificial e ferramentas de software para transformar o som em formas geométricas visuais, onde cada onda sonora foi isolada e depois montada em uma composição com todas elas entrepostas até formar o desenho do tapete. Em parceria com a by Kamy Verde, foi possível imprimir todas as ondulações sonoras e confeccionar a peça a partir de sobras de tapetes cortadas em curvas perfeitas.
“Junto com a by Kamy, que possui um compromisso de consciência ecológica, aproveitamos diversos fragmentos de tapetes, de espessuras, densidades, tecidos e texturas diferentes que, por sua vez, foram harmonizadas em um só. Denominamos como Acalanto, nome que além de batizar o ambiente, foi a primeira peça pensada e responsável por conduzir as demais cores que formam a nossa paleta”, conta Bruno.
Décor: longevo e o contemporâneo
No décor, a fusão entre o longevo e o contemporâneo é uma característica marcante, mostrando como diferentes gerações e estilos arquitetônicos influenciaram a construção do ambiente. Dos quadros com molduras do início do século XX aos móveis fabricados exclusivamente para a CASACOR com personalização e design da Full House, salientam, ainda mais, a qualidade e originalidade de toda criação de Bruno Moraes, que elegeu nomes, como de Sergio Rodrigues e Roberta Banqueri.
Na curadoria de arte, os quadros do fotógrafo Rogério Fernandes retratam os Jogos Mundiais Indígenas que aconteceram em Palmas – Tocantins no ano de 2015, dedicando uma homenagem ao evento de maior porte que já aconteceu. Outras obras dos baianos Kiolo e Mário Cravo expressam autenticidade para um espaço tão único.
Em tributo pessoal à ancestralidade, Bruno Moraes projeta um cenário que ressoa suas próprias raízes e memórias familiares, incorporando heranças, como antigos rádios, câmeras fotográficas e gravadores, uma verdadeira honraria de história e à tradição. “Esses objetos, carregados de significado e nostalgia que complementam a decoração do meu espaço, contam um pouco da origem da minha família até a formação de quem eu sou hoje. Com eles, quero que os visitantes reflitam sobre suas próprias histórias e conexões com o passado”, orgulha-se o profissional.
Outros grandes destaques estão nos móveis com nichos expositores que abrigam objetos e obras de arte que refletem a riqueza cultural brasileira. O bar central, executado em Blue Deep, quartzito ornamental exótico originário do Ceará, é um elemento que atrai olhares e frisa o ambiente de Bruno como ponto de encontro.
Projeção de um futuro sustentável
No Acalantos e Encontros, o arquiteto Bruno Moraes também buscou fomentar a reflexão da consciência ambiental ao incorporar práticas e materiais sustentáveis em todo seu espaço, enfatizando o seu compromisso com a preservação e a possibilidade de desenvolver projetos que promovam o equilíbrio entre o ser humano e a natureza.
Assim, ele investiu em materiais reciclados e reaproveitados, como no caso da tapeçaria, e a adoção de técnicas de construção limpa e sustentável, como o sistema drywall e iluminação de LED. Além disso, a instalação de um assoalho de madeira, pela Indusparquet, sobre um tablado preservou o piso original tombado pelo patrimônio histórico e, ao final da mostra, será todo removido e reaproveitado em outro local.
A pedra Blue Deep, utilizada no ambiente, também terá sua história ressignificada ao compor outro projeto. “O alinhamento com o meio ambiente é uma preocupação constante em meus projetos e tenho plena convicção que essa busca por um futuro mais sustentável é parte do legado que estou deixando”, finaliza o arquiteto do BMA Studio.