A imagem surgiu como um sopro verde no meio do concreto digital. Uma cadeira de escritório com visual de folha tropical, tão realista que poderia ter brotado de um jardim, viralizou nas redes sociais ao misturar elementos do design natural com uma estética que beira o fantástico. O modelo, chamado de Monstera Desk Chair, tem formato inspirado nas icônicas folhas recortadas da Monstera adansonii, planta exótica conhecida também como costela-de-adão.
Ao primeiro olhar, a estrutura impressiona: base giratória com cinco rodas, braços robustos e um encosto verde-musgo que reproduz com minúcia os veios e os recortes orgânicos da folhagem. A paleta de cores remete à natureza, e o assento parece ter sido talhado de uma planta viva. Mas foi justamente esse nível de detalhamento que gerou controvérsia. Estaria o design diante de uma revolução estética ou de uma criação gerada por inteligência artificial?
Entre o desejo e a dúvida: real ou gerada por IA?
Postada por um perfil dedicado a botânica no antigo Twitter, a imagem alcançou mais de 4 milhões de visualizações em poucos dias. Os comentários oscilaram entre o encantamento absoluto e o ceticismo. Muitos usuários questionaram se a cadeira existia de fato ou se era fruto de alguma ferramenta de imagem generativa. Em tempos de Midjourney, Sora e DALL·E, não é difícil imaginar que a peça seja um produto da ficção algorítmica.

Ainda assim, o impacto da imagem evidencia um ponto inegável: há uma sede por design ousado, criativo e emocional. “O fascínio pela natureza na decoração é cíclico, mas agora ele vem aliado à tecnologia. É possível que esse tipo de imagem sirva como protótipo ou provocação para a indústria de móveis”, observa a arquiteta e designer Ana Lins, que trabalha com design biofílico e sustentabilidade.
O apelo do design bioinspirado
Independentemente de sua origem, a cadeira traz à tona um movimento crescente no universo da decoração: o uso de formas orgânicas, texturas naturais e referências botânicas para compor ambientes mais afetivos. O design bioinspirado, que busca nos ecossistemas soluções estéticas e funcionais, não é apenas uma tendência, mas uma forma de reconexão com o essencial — mesmo em ambientes corporativos.
A Monstera Desk Chair 🌿 pic.twitter.com/FyqcBAdXIt
— Houseplant Hobbyist (@HobbyistPlant) September 7, 2023
Segundo o designer de interiores Leandro Botelho, a aceitação de peças como essa, reais ou virtuais, revela uma mudança de paradigma. “Há uma abertura cada vez maior para o lúdico e para o poético no mobiliário. Elementos antes considerados apenas decorativos passam a ter protagonismo no layout. Uma cadeira que parece uma folha não precisa ser só estética: ela pode dialogar com ergonomia, conforto e identidade visual de um espaço.”
A inteligência artificial como provocadora estética
A suspeita de que a imagem seja criada por IA não diminuiu o encantamento — ao contrário, parece tê-lo ampliado. Essa nova geração de imagens hiper-realistas alimenta o imaginário de designers e consumidores, mesmo que muitas peças ainda não tenham se materializado. “É como folhear um catálogo de sonhos. Mesmo que a produção industrial não acompanhe esse ritmo, o desejo já foi instalado”, explica Ana.
Essa tensão entre o que é real e o que ainda não existe é cada vez mais comum no universo do design. Softwares de visualização arquitetônica e IA estão moldando o comportamento de consumo e, mais do que isso, redefinindo o papel do designer como criador e curador de experiências visuais.
O futuro das formas (e das cadeiras)
Se a Monstera Desk Chair será fabricada um dia, ninguém sabe. Mas seu impacto já é concreto. Ela inaugura — ou reforça — uma nova era no design de interiores, em que natureza, arte e tecnologia caminham juntas. Afinal, por que uma cadeira não pode ser também uma obra de arte botânica, mesmo que digital?
Para muitos internautas, o modelo seria o incentivo perfeito para transformar o home office em um refúgio criativo. Para outros, trata-se apenas de mais uma “imagem bonita que ninguém vai produzir”. O certo é que, real ou não, ela nos fez olhar para a mobília com outros olhos. E isso, por si só, já é um feito do design.