Quando manchas de umidade aparecem no teto, a pintura começa a descascar ou aquele cheiro de mofo surge no ar, o alerta deve ser imediato: há grandes chances de um vazamento de água no apartamento. A situação, além de incômoda, costuma gerar dúvidas sobre quem é o responsável pelos reparos — e, muitas vezes, provoca conflitos entre moradores, síndicos e até proprietários.
Com a complexidade das instalações hidráulicas dos edifícios, localizar a origem do problema é o primeiro passo. Pode ser um cano rompido dentro da unidade, uma infiltração que veio do vizinho de cima ou até um defeito nas prumadas verticais que percorrem todo o prédio. E entender a raiz do vazamento é essencial para definir quem arca com os prejuízos — que, aliás, vão além da conta de água e podem envolver móveis, instalações elétricas e até a moradia temporária dos afetados.
Como identificar sinais de vazamento dentro do imóvel
Os sinais nem sempre são óbvios. Umidade em rodapés, bolhas na pintura, rejuntes escurecidos e aumento repentino na conta de água são indícios clássicos. Segundo o engenheiro civil Maurício Pires, especialista em patologia das construções, “as infiltrações geralmente se manifestam primeiro nas áreas mais vulneráveis, como junções de paredes e lajes, e podem se espalhar silenciosamente antes de aparecerem visualmente”.

Em muitos casos, o problema só é percebido quando o dano já atingiu áreas vizinhas. “O vazamento na unidade de cima pode demorar dias ou semanas para escorrer até o forro do vizinho de baixo. Isso dificulta a identificação exata do ponto de origem e exige avaliação técnica precisa”, explica Pires.
Para um diagnóstico inicial, moradores podem fazer um teste simples: desligar todos os registros de água do apartamento e observar se o hidrômetro continua girando. Caso sim, há fortes indícios de que o vazamento está dentro da unidade. Já se os sinais aparecem apenas no teto do vizinho inferior, o mais provável é que a tubulação embutida entre os andares esteja comprometida.
Vazamentos em prumadas ou ramais: o que muda?
É importante entender a diferença entre prumadas e ramais para saber de onde vem o problema. As prumadas são as colunas verticais que distribuem água para todos os apartamentos. Já os ramais são os trechos que levam a água do hidrômetro até os pontos de uso dentro de cada unidade.
Se o rompimento ocorrer nas prumadas hidráulicas, a responsabilidade geralmente é do condomínio. Quando o problema está no ramal individual, o reparo costuma ser de responsabilidade do morador. No entanto, há exceções.
“Em casos de ligação entre a prumada e a entrada da unidade, um laudo técnico pode determinar que a responsabilidade seja compartilhada”, explica a engenheira civil Lúcia Marim.
Atribuição de responsabilidade: quem paga a conta?
A regra geral é clara: quem causa o problema, paga. Mas nem sempre a definição é simples. Vazamentos provocados por defeitos na rede hidráulica comum, por exemplo, são de responsabilidade do condomínio, mesmo que afetem somente uma unidade. Por outro lado, se a origem for interna ao apartamento, o condômino ou o proprietário do imóvel (no caso de imóveis alugados) precisa arcar com os custos — inclusive com eventuais danos causados ao vizinho.

Em imóveis alugados, o tema pode se tornar ainda mais delicado. Vazamentos decorrentes de problemas estruturais — como canos antigos ou mal executados — devem ser resolvidos pelo proprietário. Já os reparos por desgaste de uso ou falta de manutenção são de responsabilidade do inquilino. Por isso, a vistoria técnica no momento da entrega do imóvel é fundamental. “Além de garantir transparência entre locador e locatário, a vistoria permite registrar infiltrações e possíveis riscos antes da mudança”, orienta Lúcia.
Quando a rede pública é a responsável pelo problema
Há ainda situações em que o vazamento ocorre antes do hidrômetro, ou seja, na tubulação da concessionária de água. Nesses casos, a responsabilidade é da empresa distribuidora, que deve fazer o reparo sem custo para o consumidor. É comum que esse tipo de vazamento afete diretamente o cavalete ou os registros externos. Ao perceber o problema, o ideal é comunicar a companhia imediatamente e documentar o caso com fotos.
Prejuízos e ressarcimentos
A lei determina que o causador do vazamento também é responsável pelos danos colaterais. Isso inclui pintura, móveis, instalações elétricas, eletrônicos e tudo que tenha sido afetado. Caso o morador precise deixar o apartamento devido aos estragos, pode haver indenização por perda de uso do imóvel. O importante, nesse cenário, é documentar tudo — laudos, registros fotográficos, boletins e orçamentos — para que o prejuízo seja reparado de forma justa.
A importância da prevenção desde o projeto
Muitos vazamentos poderiam ser evitados com um projeto hidráulico bem executado. Utilizar materiais de qualidade, prever acessos facilitados para manutenção e evitar excessos de curvas nas tubulações são cuidados básicos. Além disso, a impermeabilização correta das áreas molhadas, como banheiros e lavanderias, deve ser prioridade na entrega de novos imóveis.
“A manutenção preventiva evita que pequenos problemas virem grandes tragédias. O ideal é que condomínios incluam inspeções hidráulicas regulares no cronograma anual”, recomenda Maurício Pires.
O papel do síndico na mediação e solução
O síndico deve agir com agilidade ao ser comunicado sobre um vazamento. Seu papel vai desde verificar o problema até acionar profissionais qualificados e manter um canal de comunicação transparente entre as partes envolvidas. A omissão do gestor pode gerar prejuízos para o condomínio e até ação judicial, especialmente quando há demora injustificada ou negligência nos reparos.