Em meio ao ritmo acelerado da cidade, uma casa na Rua das Garças, em Campo Grande (MS), guarda um segredo que só é revelado após cruzar o portão. Ali, entre vasos reciclados, raízes esculpidas pelo tempo e pétalas exuberantes, Valmir Belini encontrou a verdadeira paz. Aos 62 anos, o ex-bancário natural de Maringá (PR) decidiu transformar a aposentadoria em algo que muitos sonham, mas poucos conseguem: um projeto de vida conectado à natureza e ao próprio bem-estar.
O que antes era rotina com papéis, metas e produção agrícola pesada, deu lugar a uma atividade silenciosa e profunda. Desde 2005, Valmir se dedica integralmente à jardinagem e cuida, sozinho, de um jardim com mais de **3 mil exemplares de rosas-do-deserto, além de suculentas e outras espécies adaptadas ao clima quente do Centro-Oeste. “A terra ensina, mas é preciso escutar. Jardinagem é uma forma de meditação em movimento”, define ele, com a serenidade de quem conhece bem o valor do tempo.
O santuário das rosas-do-deserto
O terreno onde Valmir cultiva suas plantas é quase uma galeria viva, onde cada vaso carrega uma história e uma intenção. As rosas-do-deserto são as verdadeiras protagonistas desse espaço. Originárias da África e da Península Arábica, essas plantas exóticas se adaptaram com perfeição ao calor seco de Campo Grande. “Elas gostam de sol, pouca água e solo bem drenado. No inverno, entram em dormência, e qualquer excesso de água pode ser fatal”, explica ele, enquanto mostra um exemplar com flores de cinco tonalidades diferentes.

Não se trata apenas de plantar: Valmir domina técnicas de polinização manual, enxertia e modelagem com arame, criando esculturas botânicas únicas. Algumas plantas, além da beleza natural, foram moldadas para florescer de maneira coordenada. Outras, mais raras, exibem um jogo de cores que mistura rosa, branco, lilás e vinho em um único caule. “É como pintar com pétalas, só que leva meses ou até anos para ver o resultado”, compara.
Um jardim que cura — e ensina
O que começou como um passatempo, aos poucos virou ponto de referência para quem quer aprender ou resgatar suas plantas. Entre os canteiros há também um espaço para as chamadas “plantas hospitalizadas”, que chegam trazidas por clientes em busca de ajuda. “Eu cuido como se fossem minhas. Algumas se recuperam, outras não. O importante é ensinar que o tempo da planta é outro, não tem milagre. Tem que acompanhar e respeitar”, diz com naturalidade.

Apesar das vendas — que variam de mudas simples a exemplares de valor mais elevado —, Valmir garante que o lucro não é o objetivo. “Já fiquei três meses sem vender nada no inverno. Mas não me abalo. Cuido porque amo. Me faz bem. O resto é consequência”, confessa, com um sorriso discreto.
Vida simples, rotina valiosa
A jornada de Valmir vai muito além das plantas. Ele também se divide entre tarefas domésticas, idas ao mercado e o papel carinhoso de avô. As manhãs são dedicadas ao cultivo e, no início da tarde, retoma o cuidado com as mudas. As vendas ocorrem, em sua maioria, pelo boca a boca e pelas redes sociais, onde compartilha o dia a dia no perfil @poucarega.
A sustentabilidade está no centro de tudo. Vasos, pallets, pedaços de madeira e arames usados na estrutura das plantas são todos reaproveitados. “Nada aqui é comprado por luxo. Tudo tem uma segunda vida. E isso também ensina: a natureza dá, mas também precisa de respeito”, reforça.





