Uma das artes manuais mais antigas da humanidade: conheça 10 razões para aprender a fazer cerâmica

Segundo o ceramista Jef Castelani, a busca por um refúgio fora do mundo ultra conectado encontra na cerâmica uma forma de terapia, através das pontas dos dedos, que lava a alma e promove um respiro para saúde mental

ceramica 1 Uma das artes manuais mais antigas da humanidade: conheça 10 razões para aprender a fazer cerâmica

O que, há milênios, poderia ser encarado apenas como uma atividade de manufatura, a arte de produzir com as mãos ganhou novos desdobramentos, principalmente em tempos como o nosso, quando a essência humana tem abraçado a busca por técnicas que resgatam o contato com o natural para um momento criativo e de paz interior. Nesse contexto, de alguns anos para cá a cerâmica voltou a reconquistar a atenção das pessoas.

À frente de seu ateliê, o ceramista e professor Jef Castelani revela que o trabalho rudimentar de moldar a argila é uma das atividades que mais promovem a sensação de bem-estar. “A cerâmica é um meio de expressão da criatividade que, em sua essência, expande a compreensão de quem somos e como nos conectamos com nós mesmos e com o ambiente”, define.

Nascido na turística Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, o artesão sempre foi um apreciador da manufatura. Porém, sua vinda para São Paulo, há 12 anos, se deu em decorrência de sua carreira corporativa na área administrativa. Foi quando desenvolveu um estresse crônico, por conta do trabalho, e se viu diante do anseio de mudar de carreira.

Primeiro, Jef cursou Design de Mobiliário, na Escola Panamericana de Artes, mas em seguida procurou conhecer mais sobre o manuseio com a argila e se encantou. Seu contato com a cultura asiática, após uma viagem de oito meses para Bali, na Indonésia, e Bangkok, na Tailândia, lhe trouxe uma série de aprendizados para os produtos que vende hoje em seu estúdio e para as aulas que ministra.

Criatividade

O exercício de criar algo do zero desafia a imaginação e, de acordo com Jef, permite a expressão humana do interno para o externo. Ou seja, a arte reproduz na argila a personalidade de seu autor, que por sua vez, manifesta parte de seus pensamentos, sensações e experiências.

A xícara da coleção Olímpica, assinada pelo ceramista Jef Castelani, é marcada por um visual único com sua boca e alça com amplos diâmetros | Foto: Divulgação

“É uma boa maneira para pessoas de todas as idades conhecerem aquilo que podem realizar. Podemos ser mais criativos do que pensamos e na cerâmica não há maneira certa ou errada”, avalia.

Mais foco!

Ao manipular a cerâmica, toda a concentração está focada na tarefa, deixando em segundo plano todas as preocupações e influências externas. “Ser capaz de se fixar totalmente em algo ajuda a mente a relaxar e expandir, além de contribuir para que consigamos destinar essa concentração para outros setores e momentos da vida”, explica o ceramista.

De acordo com ele, esta aptidão coopera na redução do estresse, já as distrações são atenuadas. “Sem contar que toda dor e desconforto ocasionada pela exaustão é aliviada durante o processo”, complementa.

Resistência

Entre os benefícios da cerâmica identificados pelo artesão Jef Castelani, fisicamente a arte corrobora para o fortalecimento de mãos e dos braços, além da destreza com os membros superiores devido ao manuseio da argila em frente ao torno | Foto: Fernando Alexandrino

Colocar a mão na massa demanda nosso corpo físico, mas de acordo com Jef, não se trata de força, mas sim a tonificação de mãos, pulsos e braços. Para pessoas propensas às questões de saúde como artrite, mexer com a argila auxilia na melhora da agilidade e do movimento das articulações.

Sociabilidade

Embora a cerâmica seja frequentemente associada a uma atividade solitária e ideal para quem prefere concentrar sua energia de jeito introspectivo no estúdio, ela também pode ser praticada em grupo com outros aprendizes. “A atmosfera leve e descontraída é benéfica para aliviar qualquer ansiedade social e facilita o início de uma conversa”, analisa Jef.

Imortalidade

O ceramista reflete sobre a compreensão do tempo presente em suas obras. Podendo durar anos, décadas e até séculos, ele ressalta que a arqueologia já foi capaz de recuperar registros desta arte milenar que foram confeccionados por civilizações há muito extintas. “A cerâmica está entre as artes mais nobres e imortais e uma peça confeccionada hoje pode ser eternizada na vitrine de um museu, preservando as memórias de uma época histórica”, pondera. Para ele, este é um pensamento inspirador.

Natureza e sustentabilidade

A cerâmica artesanal utiliza materiais naturais, como argila e minerais, mantendo uma forte conexão com o ecossistema e, ao contrário dos processos industriais, a produção manual consome menos recursos e gera menos resíduos. Em seu ateliê, Jef adota métodos ecológicos visando minimizar o impacto ambiental.

Para o ceramista Jef Castelani, a singularidade dos trabalhos está nas imperfeições presentes na peça executada por nossas mãos. Quem a tem convive com a certeza de que mesmo parecida com outra, tem em sua posse algo único e exclusivo | Foto: Divulgação

“Toda a argila empregada é reciclada e aproveitamos 100% do material. Além disso, toda a água é reaproveitada e os esmaltes para pintura são preparados com cinzas de árvores como ipês e pinheiros”, detalha.

Perspectiva otimista

Entre os pontos positivos experienciados por meio da cerâmica, o artista destaca a melhora na confiança e autoestima. “No momento da virada de chave da minha vida, a aplicação das técnicas reverberou em mim como uma válvula de escape para meus momentos de infelicidade e se transmutou no suprassumo que me concedeu força e a oportunidade de me (re)conhecer”, compartilha Jef.

Qualidade de vida

“A arte é, sem dúvidas, um hobby importante para a autoexpressão”, afirma o artesão que a classifica como um caminho de auto conexão ao mergulhar em novas criações, aprender novas técnicas e finalizá-las: essas etapas cumulam no compromisso vitalício de combinar um entretenimento com finalidade.

Sentimento de realização

Nenhuma peça é perfeitamente idêntica a outra e este detalhe é facilmente percebido na coleção Mescla, do ceramista Jef Castelani. Embora com formato cilíndrico, cada vaso exalta uma mescla de cores de argilas | Foto: Divulgação

Ao concluir um trabalho, o artesão experimenta uma sensação de conquista associada à satisfação de ver algo nascer do zero, por suas próprias mãos, e saber que dali surgiu elemento um funcional ou decorativo. “Desfrutamos da mais verdadeira satisfação acompanhada pelo sentimento incomensurável de gratidão”, ressalta Jef.

Oportunidade de empreendedorismo

Jef ressalta que a cerâmica artesanal também é uma oportunidade de negócio. “Com a valorização dos produtos feitos à mão no design de interiores, existe uma demanda crescente por peças personalizadas e sustentáveis”, explica ele, que ainda enaltece o senso de unicidade dos itens manufaturados.

Por mais que se tente reproduzir a peça da mesma forma, sempre haverá pequenas diferenças em seu molde, dimensões ou cor. “Este é o charme do artesanato e há uma procura cada vez maior que abre portas para quem almeja posicionar a paixão pela cerâmica em uma fonte de renda, seja através de vendas diretas ou de oficinas de ensino”, acrescenta.

Perfeita para servir convidados, a cumbuca da coleção Oriental, criada pelo ceramista Jef Castelani, evoca em seu design a simplicidade e a elegância inspirada nas louças orientais | Foto: Fifi Tong

Por fim, Jef assinala que a cerâmica artesanal vai muito além da simples criação de objetos: trata-se de um processo que congrega arte, terapia, sustentabilidade e uma profunda conexão com a história e a natureza.

Seu ateliê, localizado em sua própria casa, situada numa pequena vila no bairro de Indianópolis, subdistrito de Moema, na capital paulista, recebe grupos de alunos de até quatro pessoas. Ele define que o curso vai além do aprendizado técnico, com um propósito da infindável busca do autoconhecimento. “Tenho alunos que chegam, inicialmente, com a ideia de fazer as aulas para deixar a preocupação de lado. E nesse aspecto, a cerâmica também tem muito a nos ensinar”, conclui.

Sobre Jef Castelani

Natural de Poços de Caldas (MG), o ceramista Jef Castelani reúne experiências vividas em estúdios nacionais e internacionais. Formado em Design de Mobiliário pela Escola Panamericana de Artes, se descobriu posteriormente na cerâmica. A partir de então, realizou sua formação ao dedicar-se, por 8 meses, nos cursos que participou durante as estadas em Bali, na Indonésia, e Bangkok, na Tailândia.

Em 2019, abriu seu ateliê Cerâmica Castelani onde vende suas coleções feitas à mão e destina-se a ensinar as técnicas que o conduziram para um novo sentido de vida. Em 2022, convidado pelo renomado Studio Rusters, localizado no vilarejo de Ubud, na ilha de Bali, Jef participou de sua primeira feira fora do país e logo em seguida rumou para Bangkok, em busca de novos conhecimentos no Studio Poteri Clay Workshop.

Além de produzir suas coleções, o artesão ministra suas aulas por meio dos métodos asiáticos que se pautam na sustentabilidade na produção e o permitem produzir os esmaltes que colorem as peças. Seu estilo único resulta do feliz encontro entre a rusticidade, proveniente das suas origens mineiras, e a elegância das formas orientais.

@ceramica_castelani
https://ceramicascastelani.com.br/

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