Imagine aprender sobre ondas, caos e redes neurais sem abrir um livro, mas simplesmente observando um mural vibrante e repleto de movimento. É essa a proposta do FisArte, projeto da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que une arte e ciência para traduzir o conhecimento físico em uma experiência visual acessível e inspiradora. Criado em 2023, o projeto já produziu seis grandes murais e segue em expansão, com novas obras previstas para os próximos meses.
A iniciativa é coordenada pelo professor Romain Pierre Marcel Bachelard, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Segundo ele, a ideia nasceu da necessidade de aproximar o público da ciência por meio da estética, ampliando a percepção de que o conhecimento científico também pode emocionar e provocar reflexão.
Física que salta das paredes
Os murais ocupam o Departamento de Física da UFSCar e transformam corredores e fachadas em verdadeiras galerias a céu aberto. Os dois primeiros trabalhos, desenvolvidos com a artista Jhavana Ferro Palomino, representam conceitos como mecânica, propagação de ondas, termodinâmica, teoria do caos, redes neurais e astrofísica. Em cores intensas e formas dinâmicas, as obras convidam o observador a enxergar a física como uma linguagem universal, que vai além dos cálculos e fórmulas.
Já o artista Leonardo Gomes trouxe uma abordagem mais abstrata e simbólica, explorando a relação entre o pesquisador e o ato de investigar. Em uma das obras, a ideia de “conhecimento construído sobre os ombros dos gigantes” é representada visualmente por figuras sobrepostas, sugerindo o legado coletivo da ciência. Em outra, ele traduz a natureza física da música, representando ondas acústicas, o tempo, a frequência e o diálogo constante entre som e matéria.
Estudantes também pintam o conhecimento
O projeto não se limita aos artistas convidados. Durante a Semana da Física da UFSCar, estudantes também tiveram a oportunidade de contribuir com dois murais colaborativos. O primeiro, criado em 2024, celebrou o centenário de Cesar Lattes, um dos nomes mais importantes da física de partículas no Brasil. O segundo, previsto para 2025, mergulha no Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas, explorando visualmente os princípios que regem o comportamento das partículas subatômicas.
Essas obras reforçam a importância da divulgação científica como expressão coletiva, estimulando o envolvimento de jovens pesquisadores e artistas na construção de uma cultura visual que dialoga com o conhecimento.
Ciência para ver e sentir
Além da criação dos murais, o FisArte promove visitas guiadas de grupos escolares, em parceria com o Instituto da Cultura Científica e o Núcleo Ouroboros de Divulgação Científica e Cultural, ambos da UFSCar. As visitas transformam o aprendizado em uma vivência sensorial, permitindo que alunos de diferentes idades experimentem a ciência por meio da arte.
Cada pintura carrega uma narrativa científica, mas também uma poesia visual, mostrando que a física está presente em tudo — do som que escutamos às cores que enxergamos. Assim, o projeto reforça a ideia de que ciência e arte são complementares: uma busca compreender o mundo, enquanto a outra o interpreta.
FisArte: quando o conhecimento inspira beleza
O projeto da UFSCar se insere em um movimento global que enxerga a arte como ponte entre a pesquisa e o público. Iniciativas semelhantes já foram realizadas em países como França, Japão e Estados Unidos, mas no Brasil o FisArte se destaca por seu caráter educativo e colaborativo, envolvendo pesquisadores, artistas e estudantes em torno de uma missão comum: popularizar a ciência sem perder sua beleza.
Ao caminhar pelos murais, o visitante percebe que cada traço é uma metáfora, cada cor representa uma teoria, e cada forma traduz o fascínio humano por entender o universo. Dessa forma, o FisArte reafirma o poder da arte como meio de tornar o invisível compreensível — e o conhecimento, acessível a todos.