Em meio ao fluxo incessante da Avenida Paulista, uma silhueta incomum desafia a paisagem vertical e homogênea da principal via paulistana. Trata-se da Torre Paulista, antiga sede de bancos e empresas, cuja forma escultural e curvilínea ainda atrai olhares — mesmo mergulhada em degradação. Projetada na década de 1970 pelos arquitetos Jorge Zalszupin, José Gugliotta e José Maria de Moura Pessoa, a torre é um manifesto concreto do brutalismo brasileiro. Com 22 andares e mais de 130 vagas de estacionamento, o prédio foi erguido em um terreno generoso de mais de 3 mil metros quadrados, conectando a Paulista à Alameda Santos.
Desde sua inauguração, em 1974, o edifício — originalmente chamado Edifício Aquarius — não se encaixava no padrão dos demais blocos comerciais da avenida. Sua volumetria descendente, afunilando do térreo ao topo, criou uma espécie de “escorregador de concreto” que tornou-se referência estética para a época.
A ousadia de uma torre que rompeu o padrão
A volumetria curvilínea do edifício foi concebida com propósito. Em vez de erguer mais um bloco ortogonal e previsível, os autores optaram por uma arquitetura fluida, provocadora, sem abrir mão da funcionalidade exigida pela legislação. A base da construção ocupa quase 1.000 m², enquanto os andares superiores vão se estreitando até atingir cerca de 300 m² no topo. Tudo isso em concreto aparente, uma das marcas do movimento brutalista, que unia estrutura e estética em uma única linguagem.

Durante décadas, o edifício abrigou escritórios de advocacia, agências de turismo, sindicatos e, principalmente, o banco japonês Sumitomo, que teria se encantado com a forma do prédio por lembrar os templos orientais. Era a época em que a Avenida Paulista ainda despontava como o epicentro financeiro da capital — e a Torre Paulista reinava como um símbolo da modernidade.
Do prestígio ao abandono
Com o tempo, o cenário começou a mudar. A descentralização das atividades financeiras e a migração de grandes empresas para polos como a Avenida Faria Lima deixaram o edifício cada vez mais esvaziado. Já nos anos 2000, sua ocupação era limitada, fragmentada e sem relevância estratégica para o mercado corporativo. O abandono físico seguiu o simbólico: janelas quebradas, fachada pichada e marcas visíveis do tempo passaram a fazer parte da identidade do prédio.
A situação agravou-se a partir de 2018, quando o edifício foi totalmente desocupado para receber um novo projeto de requalificação. Na ocasião, foi anunciado que o prédio abrigaria a primeira unidade do Hard Rock Hotel em São Paulo, com previsão de abertura em 2021 e investimentos estimados em R$ 100 milhões. O projeto, no entanto, foi interrompido pouco tempo depois — e nunca mais retomado.
Um marco da arquitetura brutalista à espera de renascimento
Apesar de sua condição atual, a Torre Paulista ainda carrega potência simbólica e arquitetônica. Sua imponência segue intacta, mesmo que disfarçada pelo desgaste. Hoje, o edifício pertence a um fundo administrado por uma gestora privada, que segue à procura de novos rumos para o espaço. Com duas entradas — uma pela Paulista, outra pela Alameda Santos — e um formato inusitado que atravessa a quadra, a torre permanece como uma cápsula do tempo em uma avenida que se reinventa constantemente.
Enquanto isso, seu destino permanece suspenso, à espera de uma proposta que compreenda o valor histórico, estético e urbanístico da obra. Seja como hotel, centro cultural ou empreendimento corporativo, a Torre Paulista ainda aguarda uma intervenção à altura de sua arquitetura e de sua história. Um monumento silencioso de concreto, resistindo ao esquecimento no coração pulsante de São Paulo.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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