Você entra no banheiro, pronto para aquele banho relaxante, e… nada de água quente. A ducha elétrica queimou. Situação frustrante, mas também bastante comum em residências brasileiras. E embora muitos pensem que a falha está no aparelho em si, na maioria das vezes, o problema começa em outro lugar: na instalação elétrica, na sobrecarga do sistema ou até mesmo no uso inadequado do equipamento.
Segundo o engenheiro eletricista Carlos Ribeiro, o que mais leva uma ducha elétrica a queimar é o descuido com a fiação. “Muitas casas utilizam fios com bitolas incompatíveis com a potência da ducha, o que causa aquecimento excessivo e, com o tempo, queima o aparelho”, alerta o especialista. Essa sobrecarga, aliás, é silenciosa — ela vai corroendo o sistema até o ponto de ruptura.
Antes de culpar a ducha, olhe para a instalação
A ducha elétrica é um dos equipamentos que mais exigem da rede elétrica de uma casa. Quando ligada, ela consome energia em níveis altos, principalmente nos modelos de maior vazão ou com controle eletrônico de temperatura. Por isso, um projeto elétrico adequado é fundamental. Um erro comum é ligar a ducha diretamente em tomadas convencionais ou extensões, o que compromete o fornecimento e gera risco de curto-circuito.

Além disso, é essencial que haja disjuntores exclusivos para a ducha e que o fio usado suporte sua potência. “Um modelo de 5.500W exige, no mínimo, fio de 6mm² e disjuntor compatível. Usar abaixo disso é pedir para ter problemas”, afirma Carlos. Muitos usuários acabam ignorando essas recomendações por acharem exageradas, mas essa negligência pode resultar não apenas na queima do equipamento, mas em acidentes elétricos sérios.
Trocar resistência nem sempre resolve
Quando a ducha queima, a primeira atitude de muitos é correr até a loja mais próxima e comprar uma nova resistência. E, de fato, ela é a parte mais sensível do aparelho, já que é a responsável por aquecer a água. No entanto, se o componente queimou uma vez, ele pode voltar a queimar se a causa raiz não for investigada. O mau contato nos terminais, a oxidação dos fios ou até mesmo a falta de manutenção preventiva são aspectos que devem ser verificados.
Luciano Teles, eletricista e técnico em instalações residenciais, explica que a forma como o usuário lida com a ducha também interfere diretamente na durabilidade. “Diferente do chuveiro convencional, o ideal é ligar a ducha (ajustar a temperatura quente) apenas após a água começar a sair. Se a temperatura for ajustada antes da água fluir, é possível que a resistência superaqueça, o que acelera seu desgaste”, alerta. Ela também recomenda que se evite alterar a temperatura da ducha durante o uso, prática que pode causar picos de tensão.
O perigo silencioso da fuga de corrente
Outro fator que pode estar por trás de uma ducha elétrica queimada é a fuga de corrente, um problema muitas vezes imperceptível. Trata-se de pequenas descargas que se dispersam para fora da instalação elétrica, o que representa não apenas risco ao aparelho, mas também às pessoas. Por isso, toda instalação de ducha deve ser equipada com dispositivo DR (Diferencial Residual), que desarma a rede ao detectar qualquer fuga.

Essa proteção é obrigatória pelas normas atuais e pode evitar choques, curtos e até incêndios. Contudo, ainda é comum encontrar banheiros antigos sem esse recurso. E quando somamos instalações antigas, fios ressecados e má vedação no teto do banheiro, o cenário fica ainda mais perigoso.
Como resolver de forma segura e definitiva
Para quem teve a ducha elétrica queimada, o primeiro passo é desligar o disjuntor e nunca tentar consertar com a energia ligada. Em seguida, é importante verificar o estado dos fios, da resistência e do próprio chuveiro — se ele já apresenta sinais de desgaste, talvez seja hora de substituí-lo por um novo modelo. Também é recomendável chamar um eletricista para avaliar toda a rede e ajustar a instalação às normas técnicas atuais.
A manutenção preventiva também é parte da solução. Verificar se os fios estão bem fixados, se não há pontos de oxidação e se os conectores estão em bom estado evita uma série de dores de cabeça. Vale lembrar que duchas modernas, com controle eletrônico de temperatura, exigem ainda mais atenção com a parte elétrica, pois são mais sensíveis a variações na tensão.
Quando prevenir sai mais barato do que consertar
Por fim, vale lembrar que a durabilidade da ducha está diretamente ligada à qualidade da instalação, do equipamento utiulizado e dos cuidados do dia a dia. Prevenir, nesse caso, é mais barato — e muito mais seguro — do que resolver problemas após danos causados. Evitar o improviso, usar materiais de qualidade e seguir as especificações do fabricante são atitudes simples que fazem toda a diferença.