Ao pensar em jardinagem e paisagismo, logo vêm à mente imagens de bem-estar, estética e conexão com a natureza. No entanto, nem toda planta contribui apenas com beleza: algumas espécies podem, inadvertidamente, transformar o quintal em um abrigo ideal para escorpiões. Isso acontece, principalmente, com aquelas que oferecem ambientes úmidos, sombreados e protegidos da luz direta, criando o cenário perfeito para que o aracnídeo se esconda à espera de suas presas.
A situação se agrava em regiões urbanas com excesso de entulho, folhas secas, raízes expostas e pouca manutenção do espaço verde. Segundo Mariana Teixeira, bióloga e mestre em ecologia urbana, “o jardim pode se tornar um elo do desequilíbrio ambiental. Ao acumular matéria orgânica e atrair insetos como baratas, que são o principal alimento dos escorpiões, o local passa a oferecer alimento e abrigo, ou seja, tudo o que o animal precisa para se instalar”.
Plantas ornamentais que funcionam como abrigo
É importante deixar claro: as plantas em si não atraem escorpiões diretamente — o problema está no tipo de abrigo e nas condições que elas criam no ambiente. Espécies com folhas largas e densas, raízes expostas ou que acumulam água e detritos são as mais críticas nesse aspecto. As bromélias, por exemplo, embora encantadoras, acumulam água entre suas folhas em forma de roseta, o que favorece o surgimento de insetos e a umidade constante. Esse conjunto de fatores transforma a planta em um microecossistema propício para escorpiões

Outro exemplo comum em quintais tropicais é a bananeira, cujas folhas grandes e caídas formam verdadeiros tapetes de matéria orgânica no solo. O mesmo ocorre com palmeiras e coqueiros, que soltam folhas com frequência, além de contarem com raízes que criam frestas ideais para esconderijos. Além disso, plantas densas e com arquitetura volumosa, como dracenas, costela-de-adão e alguns arbustos ornamentais, também são citadas como espécies que criam áreas de sombra e umidade excessiva no entorno, contribuindo indiretamente para a presença do aracnídeo.
O papel da prevenção e da escolha consciente
A boa notícia é que, com manutenção correta, é possível conviver com essas plantas sem riscos. Segundo a engenheira agrônoma Valéria Mendes, especialista em paisagismo sustentável, o segredo está em observar o ambiente de forma integrada. “Não se trata de excluir plantas tropicais do jardim, mas de conhecer seus impactos. Com podas regulares, controle de pragas e limpeza ao redor, é possível reduzir muito o risco de escorpiões se instalarem”, afirma.
Ela recomenda atenção especial a áreas de difícil acesso, como a base das folhagens, locais sob jardineiras e cantos úmidos, principalmente em quintais com pouca iluminação natural. “São nesses locais que os escorpiões se abrigam durante o dia. Uma inspeção noturna, com lanternas UV, pode ajudar a identificá-los, já que seu corpo brilha sob luz ultravioleta”, complementa Valéria.
Além disso, manter a população de baratas sob controle é essencial, já que são a principal fonte de alimento dos escorpiões urbanos, especialmente o temido Tityus serrulatus, o escorpião-amarelo, comum em muitas regiões do Brasil.
Cuidados estruturais no entorno do jardim
O problema não está apenas nas plantas, mas também na infraestrutura ao redor do jardim. A presença de frestas em muros, ralos abertos, caixas de esgoto sem vedação e entulhos acumulados ao lado de espécies vegetais, por exemplo, formam o conjunto ideal para a proliferação.

Um cuidado importante para quem cultiva plantas como bromélias ou bananeiras é realizar a limpeza constante dos arredores, eliminando folhas mortas, podando excessos e evitando deixar objetos encostados nas raízes ou caules. Também é fundamental instalar telas em ralos e grelhas, vedar portas e janelas e evitar o uso de materiais de paisagismo que retenham muita umidade sem drenagem adequada.
Encontrou um escorpião? Saiba como agir
Mesmo com todos os cuidados, é possível que você se depare com um escorpião no quintal, principalmente à noite, quando eles saem para caçar. A orientação é não tentar capturá-lo com as mãos, nem mesmo com luvas. Use uma pá, vassoura ou recipiente com tampa, com extremo cuidado. Em seguida, entre em contato com o centro de controle de zoonoses ou vigilância ambiental da sua cidade para o encaminhamento adequado.
Evite usar venenos ou inseticidas por conta própria, pois eles podem matar predadores naturais dos escorpiões (como lagartixas e sapos) e provocar um desequilíbrio ainda maior no ecossistema do jardim.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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