São Paulo se reinventa como palco da memória arquitetônica nacional com a estreia da Semana da Arquitetura Moderna Paulista (SAM), que acontece nos primeiros dias de novembro de 2025. Inspirado na celebrada Modernism Week, de Palm Springs, o evento propõe mais do que uma homenagem à estética modernista — é um convite à experiência sensorial, ao encontro entre o passado e o presente urbano, ao resgate ativo de um legado que molda o imaginário arquitetônico brasileiro.
Com uma proposta inovadora e imersiva, a SAM abre ao público casas modernistas ainda habitadas, transformando lares privados em espaços de cultura, visitação e conexão. O diferencial está justamente no que pulsa dentro desses imóveis: histórias vivas, afetos preservados e estruturas que resistem ao tempo com a mesma elegância com que foram projetadas.
CAMP.ARQ.BR: memória digital como gesto de permanência
O lançamento da SAM coincide com a apresentação oficial do CAMP.ARQ.BR, um acervo digital robusto e sensível que reúne plantas, registros fotográficos e entrevistas com moradores e estudiosos do modernismo paulista. Mais do que uma plataforma de pesquisa, o CAMP é um instrumento de resistência contra o esquecimento arquitetônico, uma base de dados viva que permite o cruzamento de gerações, contextos e linguagens dentro do universo modernista.
Trata-se de uma reinterpretação contemporânea do que significa preservar patrimônio. Cada imagem catalogada, cada depoimento gravado, cada documento escaneado cumpre um papel de reativação — devolvendo ao presente o que poderia facilmente ser engolido pela negligência, pela especulação imobiliária ou pela simples erosão do tempo.
Quando abrir as portas também é um gesto político
Nos circuitos internacionais da arquitetura, abrir residências modernistas à visitação tornou-se prática comum. Palm Springs, Tel Aviv e Barcelona são hoje exemplos de cidades que enxergaram na arquitetura como experiência imersiva um poderoso vetor de identidade e turismo. Em São Paulo, a SAM ensaia esse mesmo passo com profundidade e sofisticação.
As casas modernistas não são apenas belas ou históricas — elas ensinam modos de habitar, proporções generosas, soluções climáticas inteligentes, integração com a paisagem e uso inventivo da luz. Elementos que, em tempos de crise ambiental e sobrecarga urbana, soam mais urgentes do que nunca.
O modernismo como patrimônio reocupado
A arquitetura modernista brasileira não é apenas um capítulo da história urbana — ela pode ser resposta para os desafios do presente. A reocupação ativa desses espaços com novas funções culturais e sociais, como mostra a Residência João Marino (sede do CAMP), reforça uma nova compreensão de patrimônio: não como relíquia intocável, mas como organismo dinâmico.
Casas que antes abrigavam famílias passam agora a acolher residências artísticas, laboratórios de criação, centros de pesquisa e eventos culturais. O imóvel modernista deixa de ser mero objeto museológico e se torna estrutura em movimento, atravessada por novas vozes e usos que mantêm sua essência viva.
Digitalização como democratização
Em paralelo à SAM e ao CAMP, iniciativas como a Casa da Arquitetura de Curitiba (CAC.ARQ.BR) seguem fortalecendo uma rede nacional de acervos digitais que democratizam o acesso ao conhecimento arquitetônico. É a tecnologia servindo à memória coletiva, permitindo que estudantes, pesquisadores, moradores e curiosos acessem uma base ampla, atualizada e acessível.
A digitalização, nesse contexto, não é apenas técnica. É uma decisão política de tornar visível o que por muito tempo foi relegado aos porões do esquecimento. É criar um novo repertório visual e crítico sobre o modernismo brasileiro, devolvendo às pessoas aquilo que lhes pertence: sua cidade, sua história, sua arquitetura.
O despertar do modernismo tropical como potência cultural
Embora nomes como Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Vilanova Artigas e Ruy Ohtake já figurem entre os grandes da arquitetura mundial, o acervo modernista de São Paulo ainda carece de visibilidade proporcional à sua importância. Com a Semana da Arquitetura Moderna, a cidade entra no radar internacional do turismo arquitetônico e dá início a um processo contínuo de valorização da sua paisagem construída.
Mais do que abrir portas, o evento escancara caminhos. Convida o público a reconhecer o valor das formas geométricas puras, dos materiais honestos, da lógica funcional que embasa o modernismo tropical. São Paulo se aproxima de Palm Springs, Tel Aviv e Milão — não apenas por afinidade estética, mas por consciência de que preservar é também celebrar, ativar, reinterpretar.
Serviço
Quando: de 7 a 9 de novembro de 2025
Saiba mais: camp.arq.br/semana-da-arquitetura-moderna





