Depois de um período marcado pela incerteza e pelo protagonismo do trabalho remoto, o mercado de escritórios corporativos vive um novo ciclo de crescimento. A retomada do presencial por grandes empresas reacendeu a demanda por espaços físicos mais eficientes, bem localizados e alinhados às novas formas de trabalhar. Em São Paulo, esse movimento já se traduz em números concretos: a taxa de vacância atingiu o menor patamar em 14 anos, enquanto a absorção líquida voltou a crescer de forma consistente.
Esse cenário não representa um simples retorno ao modelo anterior à pandemia. Pelo contrário. A nova fase do setor está diretamente ligada à valorização do retrofit, ao avanço das áreas compartilhadas, à descentralização geográfica e à incorporação de soluções tecnológicas e sustentáveis. A seguir, uma leitura aprofundada sobre como essas transformações vêm se consolidando e por que devem definir o desenho dos escritórios até 2026.
A retomada do presencial e o impacto imediato no mercado
A decisão de grandes corporações de reduzir o home office teve reflexo direto na ocupação dos edifícios corporativos. Empresas dos setores financeiro, tecnológico e de serviços passaram a buscar novamente grandes lajes, impulsionando regiões estratégicas da capital paulista. Com isso, áreas antes consideradas saturadas, como Faria Lima e Paulista, passaram a irradiar demanda para eixos vizinhos.
O entorno da avenida Rebouças é um exemplo emblemático desse movimento. A região começou a absorver empresas que buscavam localização estratégica, mas com valores mais competitivos e maior disponibilidade de terrenos e edifícios passíveis de requalificação. A chegada de novos empreendimentos corporativos de grande porte reforça essa vocação e evidencia uma mudança clara na geografia dos escritórios.
Retrofit como resposta à escassez de terrenos
Com a limitação de áreas disponíveis nas regiões mais valorizadas da cidade, o retrofit deixou de ser apenas uma alternativa e passou a ocupar papel central nas estratégias de investidores e ocupantes. A requalificação de edifícios antigos permite atualizar sistemas, melhorar desempenho energético, incorporar tecnologias e, sobretudo, criar espaços alinhados às novas expectativas dos usuários.
Edifícios emblemáticos do centro e do eixo Paulista vêm sendo reposicionados para atender padrões contemporâneos de conforto, eficiência e sustentabilidade. Além de preservar a memória urbana, essas intervenções aumentam a atratividade dos ativos e reduzem o impacto ambiental associado a novas construções, um fator cada vez mais relevante para o mercado corporativo.
A força das regiões descentralizadas
O aumento dos custos nas áreas mais consolidadas acelerou o interesse por regiões descentralizadas, como Vila Leopoldina, Berrini e partes do eixo oeste da cidade. Esses territórios oferecem maior flexibilidade de ocupação, valores mais acessíveis e infraestrutura em expansão, além de boa conexão com transporte público e vias expressas.
Essa descentralização não significa perda de prestígio, mas sim uma redistribuição estratégica da ocupação corporativa. O resultado é um mercado mais equilibrado, com novos polos de negócios surgindo e atraindo empresas interessadas em eficiência operacional e qualidade de vida para seus colaboradores.
Escritórios híbridos, hubs e unidades satélites
A lógica de um único escritório central vem sendo substituída por modelos mais distribuídos. Muitas empresas adotam hoje um espaço principal, que funciona como hub de integração, complementado por unidades satélites mais próximas das residências dos funcionários. Essa configuração reduz deslocamentos, melhora a experiência do colaborador e permite maior flexibilidade na gestão dos espaços.
Essa tendência reforça a importância de projetos arquitetônicos versáteis, capazes de acomodar diferentes usos ao longo do dia e de estimular encontros, colaboração e trocas presenciais, sem abrir mão da eficiência.
Áreas compartilhadas e novos layouts corporativos
O conceito de mesa fixa perde espaço à medida que crescem as áreas compartilhadas. Ambientes colaborativos, salas multifuncionais, espaços de convivência e estações flexíveis passam a ocupar parcela significativa dos projetos de escritórios. Essa mudança permite melhor aproveitamento das lajes e maior adaptação às variações de ocupação ao longo da semana.
Mais do que uma tendência estética, trata-se de uma resposta direta ao comportamento híbrido dos times. O escritório deixa de ser apenas um local de execução de tarefas individuais e passa a funcionar como um espaço de encontro, cultura e pertencimento.
Sustentabilidade, bem-estar e experiência como prioridades
Os escritórios que se destacam no mercado já não se limitam a oferecer metragem e localização. A busca por ambientes saudáveis, com boa iluminação natural, qualidade do ar, conforto térmico e presença de áreas verdes tornou-se central. O bem-estar dos usuários influencia diretamente a produtividade, o engajamento e a retenção de talentos.
Nesse contexto, critérios ligados a ESG deixaram de ser diferenciais e passaram a ser exigência básica. Certificações ambientais, eficiência energética e gestão responsável de recursos são fatores determinantes na escolha de um edifício corporativo, tanto para ocupantes quanto para investidores.
Tecnologia e inteligência aplicada ao workplace
A transformação dos escritórios também passa pelo uso intensivo de tecnologia. Sistemas de monitoramento de ocupação, climatização inteligente, automação de iluminação e soluções baseadas em dados permitem decisões mais precisas sobre o uso dos espaços. A chamada Workplace Intelligence contribui para reduzir custos operacionais e melhorar a experiência dos usuários.
Essas ferramentas ajudam a entender padrões de comportamento, ajustar layouts e criar ambientes mais eficientes, reforçando o papel do escritório como um ativo estratégico dentro das organizações.
Um novo ciclo para os escritórios em São Paulo
Os dados mais recentes do mercado corporativo indicam que a recuperação não é pontual, mas estrutural. A combinação entre retrofit, flexibilidade, tecnologia e foco na experiência aponta para escritórios mais inteligentes, humanos e conectados com a cidade. Até 2026, esses elementos devem definir quais edifícios se mantêm relevantes em um mercado cada vez mais competitivo.
Mais do que acompanhar tendências, os projetos que se destacam são aqueles capazes de interpretar mudanças culturais, econômicas e urbanas, transformando o espaço de trabalho em um verdadeiro ativo de valor para empresas e pessoas.





