Curitiba vive um movimento silencioso, porém transformador, no coração de sua malha urbana. Os antigos edifícios do Centro, muitos fechados ou subutilizados, começam a ganhar nova vida com projetos de retrofit — processo de revitalização que preserva a estrutura original dos prédios enquanto os adapta às necessidades atuais. Longe de ser uma tendência passageira, essa prática tem se consolidado como resposta urbana e ambiental à escassez de terrenos e à crescente demanda por novas formas de morar e trabalhar nas áreas centrais.
Segundo a arquiteta Carla Choma Frankl, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), o retrofit permite ressignificar edifícios que antes pareciam condenados ao abandono. “Há prédios com valor arquitetônico importante e boa estrutura, mas que não se adequam mais às demandas contemporâneas. O retrofit não apenas resolve isso, como economiza recursos, evita demolições e promove sustentabilidade”, explica ela. Em um contexto onde o uso racional do espaço é fundamental, adaptar é mais inteligente do que demolir.
Sustentabilidade e urbanismo andam juntos
A renovação de edificações já existentes carrega, ainda, uma forte conotação ambiental. Comparado à construção do zero, o retrofit exige menos consumo de materiais e gera menos resíduos, tornando-se uma alternativa viável para cidades que buscam soluções mais sustentáveis sem abrir mão do crescimento.
“É uma obra com menor impacto ambiental: consome menos energia, água, e os resíduos são mínimos se comparados aos de uma construção nova. Ao mesmo tempo, permite reocupar áreas bem localizadas que já possuem infraestrutura urbana”, ressalta a arquiteta do Ippuc.
Além disso, o retrofit está alinhado a políticas públicas como o programa Curitiba de Volta ao Centro, que promove a revitalização do perímetro central da cidade em parceria com o setor privado, órgãos públicos e a sociedade civil. A proposta busca incentivar a presença de moradores, novos negócios e atividades culturais no Centro, muitas vezes esvaziado por décadas de expansão horizontal das cidades.
O renascimento do Edifício Apolo
Um exemplo concreto desse movimento pode ser visto na esquina das ruas Mateus Leme e Inácio Lustosa, atrás do Shopping Mueller. O Edifício Apolo, com mais de 50 anos, está sendo completamente repaginado em um projeto assinado pelo escritório curitibano Arquea. Ao contrário de uma simples reforma estética, a intervenção envolve reforço estrutural, ampliação da área habitável, implementação de tecnologias modernas e requalificação da fachada.
O prédio, construído em 1969, ganhará 54 novos estúdios residenciais de 25 a 40 metros quadrados, substituindo as antigas 28 unidades originais. As cinco lojas comerciais no térreo serão preservadas, valorizando o conceito de fachada ativa, em que o térreo dialoga diretamente com a rua e a vida urbana ao redor.
Segundo os arquitetos Fernando Caldeira de Lacerda e Pedro Amin Tavares, sócios do Arquea, o projeto foi pensado para oferecer conforto moderno sem abrir mão do respeito à identidade do edifício. “As novas unidades terão ventilação e iluminação natural, sacadas em muitos dos apartamentos e um terraço com vista para o Passeio Público”, destacam.
Além disso, o retrofit do Apolo inclui infraestrutura para lavanderia coletiva, academia, bicicletário, climatização e medição individualizada de água e energia — requisitos que se alinham às novas exigências de moradia contemporânea e ao perfil de moradores que valorizam mobilidade urbana e praticidade.
Valorização do patrimônio e novas centralidades
Um dos méritos mais relevantes do retrofit é sua capacidade de reconciliar passado e futuro. A estética urbana, muitas vezes marcada por construções emblemáticas dos anos 1940 a 1970, ganha uma segunda chance de protagonismo. Ao invés de serem demolidos, esses prédios retornam com nova função, linguagem arquitetônica atualizada e, acima de tudo, um papel relevante na vida da cidade.
Ao manter o uso misto — comercial e residencial —, o Edifício Apolo também ajuda a consolidar um novo modelo de centralidade urbana, que prioriza o adensamento inteligente, a diversidade de usos e a ativação dos espaços públicos. “A rua é extensão da casa”, defendem os arquitetos, e essa premissa se traduz na importância de manter lojas no térreo e aberturas visuais para a cidade.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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