A indústria de materiais de acabamento, historicamente ligada ao ritmo do setor imobiliário, tem enfrentado uma mudança de panorama que acende alertas em toda a cadeia da construção civil. Após um início de ano promissor, os últimos meses revelaram uma tendência clara de retração na produção de tintas e um arrefecimento do ritmo de crescimento nos revestimentos cerâmicos — setores estratégicos para reformas e novos empreendimentos.
Segundo dados recentes da Abrafati (Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas) e da Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento), os números mostram que, embora o acumulado de 12 meses até agosto ainda aponte para um crescimento de 5,5% na produção de cerâmicas, essa curva tem perdido força mês a mês. Em março, por exemplo, o avanço era superior a 10%, revelando um fôlego que já não se sustenta diante dos atuais desafios do setor.
A situação é ainda mais preocupante quando se observa o desempenho da indústria de tintas, que migrou de um crescimento modesto para um resultado negativo. Até agosto, o setor passou a registrar uma queda de 0,6%, confirmando um movimento de retração que vem sendo observado de forma gradual desde o segundo trimestre de 2025.
Juros elevados e mercado imobiliário travado: os vilões do momento
Entre os fatores que mais pressionam os segmentos de acabamento e revestimento, está a manutenção da taxa básica de juros em patamares elevados. O crédito mais caro impacta diretamente o consumo de materiais voltados a reformas e construções, principalmente no segmento residencial, onde grande parte da demanda é financiada.
Esse efeito é agravado pela atual desaceleração do mercado imobiliário, que também vem sentindo os efeitos do cenário macroeconômico desafiador. As incorporadoras, mais cautelosas, frearam lançamentos e repensaram investimentos, o que se reflete diretamente na menor demanda por materiais como porcelanatos, tintas e acabamentos finais.
Além disso, o consumo das famílias segue em compasso de espera. Com menos crédito disponível, o investimento em melhorias residenciais — tão impulsionado durante a pandemia — perdeu tração. Reformas e atualizações estéticas em imóveis têm sido postergadas, especialmente quando não há uma necessidade urgente ou ganho de valor imediato.





