Em um cenário onde a diversidade ainda avança a passos lentos, a arquitetura brasileira começa a traçar novos caminhos. Dados recentes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelam que 83,9% dos estudantes de Arquitetura no Brasil são brancos. Já o levantamento realizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU), em 2020, aponta que apenas 4,33% dos profissionais autodeclarados pertencem à população negra.
Buscando transformar esse quadro, nasceu o Programa Aproxima, um projeto inovador dedicado a estudantes pretos, pardos e indígenas de Arquitetura e Urbanismo. Com foco em jovens que ainda enfrentam grandes desafios para entrar no mercado, o programa oferece um sistema de estágio rotativo que visa ampliar o acesso e a representatividade no setor.
Uma nova perspectiva para a formação profissional
O Programa Aproxima funciona de forma simples e estratégica: os estudantes inscritos são alocados em vagas de estágio por meio de sorteios transparentes. Podem participar aqueles que estejam entre o segundo e o quarto ano do curso, matriculados em instituições localizadas na cidade de São Paulo. A seleção dos candidatos é criteriosa, considerando não apenas a raça, mas também o semestre do curso, a localização da faculdade e a cidade de residência.

Segundo Caroline Martins, fundadora da iniciativa, a construção do projeto é pensada para respeitar a identidade de cada estudante: “O recorte é intencional e afirmativo desde a triagem até a construção dos conteúdos e experiências. Trabalhamos para criar oportunidades e ambientes acolhedores, onde esses jovens possam desenvolver suas habilidades sem precisar apagar quem são”, afirma.
Além das vagas de estágio, o programa oferece acesso a uma plataforma de capacitação profissional e desenvolvimento cultural, elementos que ampliam a formação dos estudantes para além das salas de aula.
Estrutura sólida para apoiar talentos
Idealizado em 2023 e lançado em agosto de 2024, o Aproxima já soma mais de 50 estudantes alocados em diferentes escritórios de arquitetura, construtoras e incorporadoras parceiras. A estrutura de apoio inclui benefícios que tornam o estágio ainda mais atrativo: bolsa-auxílio mínima de R$ 1.550, seguro de vida anual de R$ 74, vale-refeição e vale-transporte.

A atuação do programa vai além da inclusão. As empresas participantes passam por um processo de letramento racial, com o objetivo de construir ambientes de trabalho mais conscientes e respeitosos. Para Caroline Martins, essa preparação é fundamental para romper os padrões excludentes ainda enraizados no setor: “A arquitetura ainda é um setor bastante excludente e elitista, que há anos repete um ciclo de oportunidades restritas a poucos. O Programa Aproxima viabiliza o acesso, capacita e proporciona vivências práticas para estudantes que, até então, enfrentavam diversas barreiras para entrar e se desenvolver na profissão”, destaca.
Outro diferencial é a biblioteca de cursos e a promoção de passeios culturais, pensados para ampliar repertórios e estimular novas conexões com o universo da arquitetura e do urbanismo. Tudo é cuidadosamente planejado para que os estudantes não apenas ingressem, mas permaneçam e floresçam em um mercado ainda carente de pluralidade.