A arquitetura brasileira tem revelado uma vocação crescente para dialogar com a natureza, especialmente em regiões onde o clima impõe desafios diários. Em Cuiabá, cidade frequentemente citada entre as mais quentes do planeta, essa necessidade se torna ainda mais evidente. As temperaturas que ultrapassam os 50 °C no auge do verão pressionam engenheiros e arquitetos a buscarem soluções que deixem de depender apenas de equipamentos artificiais para garantir conforto térmico.
É nesse cenário que surge o Solum Hub, um edifício empresarial que abandona a lógica tradicional e se inspira diretamente em uma das estruturas naturais mais avançadas já observadas: os cupinzeiros. Projetado pelo escritório Leinemann Ortiz, o prédio adota conceitos de biomimética, campo que estuda como processos da natureza podem ser reproduzidos na arquitetura e no design para resolver problemas humanos.
Os cupinzeiros, tão comuns no Cerrado, servem como referência porque funcionam como sistemas naturais de ar-condicionado. Seus túneis internos permitem que o ar quente seja expulso enquanto o ar fresco circula, mantendo a colônia em equilíbrio térmico mesmo sob temperaturas extremas. O Solum Hub nasceu justamente para reinterpretar esse fenômeno biológico em escala urbana.
Arquitetura circular que abraça o clima e recria a lógica dos ninhos
O formato circular do Solum Hub não foi pensado apenas para causar impacto visual. O desenho das fachadas, aliado às aberturas distribuídas de maneira precisa, cria caminhos por onde o ar se desloca com suavidade. A própria orientação da construção foi calculada para que a incidência solar direta fosse reduzida durante grande parte do dia, diminuindo a carga térmica sobre o prédio. Segundo a proposta arquitetônica da Leinemann Ortiz, a ideia era permitir que o edifício respirasse como um organismo vivo, absorvendo e devolvendo ar conforme as mudanças climáticas externas.

Além da ventilação natural, outra característica marcante é a presença abundante de vegetação. Nas varandas externas, plantas projetadas para resistir ao calor ajudam a suavizar a temperatura e aumentam a sensação de frescor. Dentro do prédio, jardins internos, espelhos d’água e um terraço arborizado criam uma atmosfera que contrasta com o clima severo da região. O próprio Solum Hub descreve essa integração como “um oásis corporativo conectado à cidade, mas guiado pela natureza”, reforçando sua função de espaço de bem-estar.
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Como o sistema inspirado nos cupinzeiros funciona na prática
Nos cupinzeiros, o ar aquecido sobe, perde calor ao atravessar as paredes externas e desce resfriado por canais estreitos. Essa circulação constante mantém a estrutura estável, independentemente da temperatura do lado de fora. O Solum Hub reproduz esse comportamento por meio de aberturas estruturais que estimulam o movimento natural do ar. Dentro do edifício, o ar quente é direcionado para o exterior, enquanto correntes mais frescas entram pelos pontos de renovação. É um processo contínuo, que reduz a dependência de sistemas artificiais e permite que grandes áreas se mantenham naturalmente agradáveis.
A estratégia também envolve isolamento térmico reforçado e um estudo detalhado da posição solar. As superfícies foram planejadas para evitar absorção excessiva de calor, algo fundamental em uma cidade como Cuiabá. A vegetação desempenha um papel importante nesse equilíbrio, colaborando para purificar o ar e absorver parte da radiação solar. Com isso, o prédio não apenas se mantém mais fresco, mas também reduz o consumo energético, já que o uso de ar-condicionado torna-se complementar, não indispensável.





