Em tempos de busca por autenticidade, conforto sensorial e estética emocional, poucas peças expressam tão bem o espírito do design brasileiro quanto a poltrona Jangada, assinada por Jean Gillon nos anos 1960. Com estrutura robusta de madeira, tramas manuais de corda náutica e almofadas generosas que convidam ao descanso, o móvel ultrapassou a função de assento para se tornar um verdadeiro manifesto visual.
Criada para evocar a simplicidade dos barcos de pesca do litoral nordestino — daí o nome “jangada” —, a peça mistura sofisticação e rusticidade em um equilíbrio raro. “Ela tem esse caráter escultórico que emociona, mas é acima de tudo uma poltrona feita para o corpo, para o conforto real”, afirma Lucas Takaoka, arquiteto e pesquisador em design brasileiro.

E o apelo da Jangada está longe de ser passageiro. Décadas após sua criação, a poltrona continua a surpreender por sua versatilidade: ela aparece tanto em salas contemporâneas com pegada minimalista quanto em ambientes afetivos de estética rústico-chic. Essa atemporalidade fez com que o mobiliário se tornasse figurinha carimbada em mostras de peso — como na CASACOR, onde a peça já foi utilizada por arquitetos como Marina Linhares, Patricia Anastassiadis e Leo Shehtman, valorizando espaços com uma brasilidade elegante e autoral.
Entre a tradição artesanal e o luxo tropical
O que torna a poltrona Jangada um ícone não é apenas o visual marcante, mas o modo como ela traduz valores do nosso design moderno. Jean Gillon, romeno radicado no Brasil, foi pioneiro ao olhar para o saber manual de comunidades locais e integrá-lo à produção mobiliária de alto padrão. O uso da corda — trançada de forma artesanal — e a madeira nobre mostram esse diálogo entre técnica e poesia, natureza e aconchego.

A obra de Gillon tem sido resgatada em acervos internacionais e valorizada por colecionadores exigentes. “É uma peça que atravessa décadas e conversa com diferentes estilos. Hoje, ela é desejada por jovens arquitetos justamente por sua capacidade de se adaptar ao presente sem perder a história que carrega”, observa Bruna Petreca, curadora de design e professora da FAU-USP.
Esse resgate tem impulsionado reedições da poltrona por estúdios especializados em mobiliário autoral, muitas vezes com adaptações sutis que respeitam o projeto original, como o uso de novas tecnologias na madeira ou tecidos sustentáveis nas almofadas.
Presença marcante em interiores de alma brasileira

Na decoração contemporânea, a poltrona Jangada representa mais do que uma escolha estética: ela comunica valores como pertencimento, autenticidade e cuidado com o detalhe. Sua volumetria imponente, combinada ao toque natural das cordas e ao calor da madeira aparente, cria um efeito de aconchego imediato.
Em projetos residenciais, ela costuma ser colocada em varandas integradas, salas de leitura, suítes master e até áreas externas cobertas, ganhando destaque como ponto focal ou elemento de transição entre o rústico e o urbano. Nas mostras da CASACOR, não raro a peça é protagonista de composições que evocam o “refúgio brasileiro”, seja em ambientes urbanos ou casas de campo.

Além da sua beleza escultural, a poltrona também se conecta ao estilo de vida contemporâneo, que valoriza o descanso e o tempo em casa. Seu design orgânico dialoga com plantas, tecidos naturais, iluminação suave e outros elementos que compõem o conceito de bem-estar no morar.
Mais que um móvel, uma herança de design brasileiro
A permanência da poltrona Jangada nos projetos mais sofisticados de arquitetura e design mostra que o bom design — aquele que nasce com propósito e sensibilidade — nunca sai de cena. Hoje, ela é símbolo de um tempo em que o Brasil soube olhar para si, para suas tradições e para seu território criativo.

Ao escolher essa peça, moradores e arquitetos não apenas agregam charme e sofisticação aos seus espaços, mas também se conectam a uma história rica e inspiradora que transcende tendências.





