A produção artística contemporânea muitas vezes nasce de espaços que estão entre o pensamento e o gesto, entre o silêncio e a experiência compartilhada. É nesse território sensível que se insere o workshop gratuito conduzido pelo artista gaúcho André Severo, que acontece neste sábado (6) na CAIXA Cultural Curitiba. A proposta do encontro não é apenas apresentar ferramentas de criação, mas sobretudo provocar uma escuta mais profunda sobre como cada processo se estrutura, se transforma e se revela no percurso do artista.
Ao longo da tarde, Severo se dedica a explorar os bastidores da criação, destacando como procedimentos metodológicos podem expandir o vocabulário expressivo e dar corpo a camadas conceituais que, muitas vezes, permanecem invisíveis ao público. Para o artista, compreender o processo criativo é uma forma de compreender o próprio tempo: suas urgências, suas pausas e as tramas subjetivas que moldam a produção de sentido.
Processos de experimentação e troca de saberes
O workshop propõe um ambiente em que diferentes repertórios se encontram. Exercícios práticos, discussões coletivas e reflexões sobre trajetória e pesquisa tornam o espaço um território fértil para quem deseja ampliar horizontes. A troca de saberes é central para Severo, que costuma transitar entre disciplinas e friccionar linguagens em busca de novas possibilidades poéticas.
Nas dinâmicas propostas, os participantes são convidados a observar seus próprios impulsos criativos e a reavaliar como o gesto artístico pode se desdobrar em novas direções. Mais do que oferecer respostas, o artista abre caminhos. A intenção é provocar perguntas, estimular inquietações e acompanhar os participantes na construção de uma visão ampliada sobre o fazer artístico.
“Labirinto”: uma exposição que aprofunda a experiência
Paralelamente ao workshop, a exposição “Labirinto” segue em cartaz na CAIXA Cultural Curitiba até 25 de janeiro de 2026, criando uma continuidade natural entre teoria e vivência. A instalação reúne cerca de 400 fotografias e seis filmes, organizados de modo a compor um percurso sensorial que tensiona memória, tempo e finitude. Com curadoria de Marília Panitz, o trabalho convida o visitante a caminhar por uma espécie de corpo expandido da obra, no qual cada fragmento visual é um convite à introspecção.
“Labirinto” encerra a trilogia “El Mensajero”, que inclui também as obras “Metáfora” e “Espelho” — ambas criadas durante a pandemia. O conjunto nasce de um momento em que interrupções abruptas e mudanças coletivas redesenharam sensibilidades, afetos e percepções sobre a vida. Nesse contexto, o trabalho de Severo se aproxima de uma arqueologia íntima: peças que se encontram, se chocam e se reorganizam para construir outros modos de sentir.
Percursos de uma trajetória marcada pela experimentação
Nascido em Porto Alegre, em 1974, André Severo construiu uma carreira que transita entre artes visuais, audiovisual, curadoria e gestão cultural. Mestre em poéticas visuais pela UFRGS, desenvolveu projetos que investigam o território da imagem como campo de deriva, memória e fabulação, entre eles Areal, Lomba Alta e Dois Vazios. Realizou filmes, publicou livros fundamentais para o debate contemporâneo — como Consciência Errante, Soma e Deriva de Sentidos — e esteve à frente de iniciativas curatoriais de relevância nacional e internacional.
Sua atuação inclui a participação como curador associado da 30ª Bienal de São Paulo – A iminência das poéticas e a co-curadoria da representação brasileira na 55ª Bienal de Veneza. Em parceria com Marília Panitz, concebeu o projeto 100 anos de Athos Bulcão, apresentado em importantes centros culturais do país. Em 2021, ao lado de Paulo Herkenhoff, desenvolveu Arquiperiscópio, mostra retrospectiva que ocupou o Oi Futuro no Rio de Janeiro.
Ao longo da carreira, foi contemplado por diversos prêmios, entre eles o Programa Petrobrás Artes Visuais, o Prêmio Funarte Conexões Artes Visuais, o Marcantonio Vilaça, o Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea e o Prêmio Sérgio Milliet da ABCA.
Um convite aberto ao público
O workshop “Labirinto: Processo, contexto e apresentação” é gratuito, com classificação indicativa de 18 anos, e ocorre das 14h às 18h, na CAIXA Cultural Curitiba (Rua Conselheiro Laurindo, 280). As inscrições podem ser realizadas pelo link disponibilizado pela instituição.
A exposição “Labirinto” pode ser visitada de terça a sábado, das 10h às 20h, e aos domingos e feriados, das 10h às 19h. A entrada é franca.





