Na virada de seus 160 anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi, referência em ciência e cultura amazônica, expande suas fronteiras — desta vez, literalmente. Seus muros, antes limites físicos entre o conhecimento e a cidade, tornam-se agora suporte para criações muralistas que prometem ressignificar a relação do público com o espaço urbano. O projeto é fruto de uma parceria com o Museu de Arte Urbana de Belém (Maub) e abre caminho para que artistas de todo o país possam deixar sua marca em um dos centros de pesquisa mais antigos do Brasil.
Com inscrições abertas até 6 de setembro, o edital convida artistas e coletivos a propor murais que dialoguem com a sociobiodiversidade amazônica, com base em temas inspirados no vasto acervo do Goeldi. Os trabalhos vencedores serão aplicados no Parque Zoobotânico (bairro de São Brás) e no Campus de Pesquisa (Terra Firme), locais emblemáticos que compõem o complexo museológico.
Diálogo entre patrimônio, ciência e arte urbana
A proposta surge como uma celebração visual do conhecimento amazônico, mas também como um gesto de abertura. Ao transformar muros em tela, o museu aproxima sua missão científica da comunidade, usando a linguagem contemporânea da arte de rua para estimular o pertencimento e valorizar sua memória institucional.
A iniciativa também exige responsabilidade. Por se tratar de um patrimônio tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e pelo Dphac/Secult, a proposta passou por análise técnica e obteve parecer favorável, desde que as obras sejam reversíveis e compatíveis com os materiais das superfícies originais. Os muros selecionados envolvem diferentes texturas, como metal, alvenaria e madeira, exigindo técnica apurada dos muralistas.
O edital e os temas que inspiram os artistas
A seleção dos artistas será feita a partir dos 19 temas indicados pelo Museu Goeldi, que refletem aspectos centrais da região amazônica: fauna e flora nativas, arqueologia indígena, ciência tradicional, migração de peixes, manguezais, diversidade linguística, instrumentos científicos, entre outros. Com esse direcionamento, os participantes têm liberdade para criar narrativas visuais que integrem arte, ciência e ancestralidade.
Os projetos serão analisados por uma curadoria composta por representantes do Maub, do Museu Goeldi e do Iphan. Após a seleção, os croquis passarão por avaliação técnica antes de serem executados diretamente nos espaços públicos do museu.
Arte como ferramenta de democratização do conhecimento
Segundo Nilson Gabas Júnior, diretor do Museu Goeldi, o projeto é um avanço no compromisso institucional de democratizar o conhecimento. “Transformamos o espaço físico em um meio de comunicação visual com a sociedade, por meio de uma arte que emociona, educa e celebra a Amazônia”, declara. A parceria com o Maub nasceu ainda em 2022 e, desde então, ganhou corpo e respaldo institucional para se tornar realidade em 2025.
Gibson Massoud, idealizador do Maub, complementa: “Queremos fazer de Belém uma galeria a céu aberto, e o Goeldi é uma peça-chave nesse processo. Levar arte aos muros de uma instituição científica desse porte mostra como o muralismo pode ampliar o acesso ao patrimônio, sem tirar dele sua essência”.
A cidade como extensão do museu
Mais do que uma ação pontual, a intervenção urbana pretende lançar novas bases para a interação entre museus e público. Com isso, o Goeldi se soma a outras experiências nacionais e internacionais que têm utilizado arte muralista como ferramenta de mediação cultural, ultrapassando as paredes expositivas e ocupando o território urbano com identidade e pertencimento.
A realização do projeto é assinada pelas produtoras Sonique Produções e Oito Quatro Produções, com apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e patrocínio da Vale, sob a chancela do Ministério da Cultura e do Governo Federal.
Belém ganha arte, o museu ganha novos públicos
A primeira exibição dos murais será no dia 28 de setembro, com um grande festival gratuito de música e lazer, aberto ao público. A programação marca não apenas a entrega das obras, mas também uma nova fase na história do museu: mais participativo, urbano e integrado ao cotidiano da cidade.
Enquanto isso, o Parque Zoobotânico segue fechado para revitalização desde 18 de agosto, com previsão de reabertura no início de outubro. As melhorias fazem parte da preparação para receber visitantes nacionais e internacionais durante a COP30, em novembro, quando Belém será sede da conferência da ONU sobre mudanças climáticas.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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