Há artistas que atravessam fronteiras geográficas e também simbólicas. Alberto Massuda, nascido no Egito em 1925 e radicado no Paraná a partir de 1958, pertence a esse grupo que transforma uma trajetória pessoal em narrativa visual.
O Museu Oscar Niemeyer decidiu celebrar essa jornada com a exposição “A cor e o lirismo de Alberto Massuda – 100 anos”, que será aberta ao público no dia 13 de novembro, às 19h, na Sala 7, reunindo mais de 90 pinturas que permitem enxergar o artista em camadas: o jovem formado no Cairo, o imigrante que escolhe Curitiba, o criador de traço marcante e o professor que influenciou gerações.
“Celebrar o centenário de Alberto Massuda é também reconhecer a força transformadora da arte no Paraná”, afirma a secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira, ao destacar que o MON se posiciona como guardião dessas trajetórias.
Do Cairo ao Paraná: uma trajetória que se dobra em fases
A mostra foi pensada como um percurso. Começa pela produção de Massuda em sua terra natal, quando estudou na Escola de Belas Artes e na Faculdade de Pedagogia Artística da Universidade do Cairo e integrou o Groupe de l’Art Contemporain, grupo que dialogava com o que havia de mais vivo na arte moderna do período.

A curadoria de Fernando Bini reconstrói esse momento para mostrar que o artista não chega ao Brasil como um desconhecido, mas como alguém que já tinha circulado em instituições importantes, como o Museu de Arte Moderna do Cairo, em 1948, e que já havia levado sua pintura à Bienal de Veneza, em 1952, e à Bienal de Alexandria, em 1955, quando recebeu a Medalha de Bronze. Esse repertório internacional explica a soltura da linha, o gosto pelas figuras femininas e o colorido denso que aparecem com frequência em suas telas.
Quando se muda para Curitiba, em 1958, Massuda encontra um ambiente fértil. A capital paranaense buscava se modernizar também pelas artes, e o pintor se torna presença ativa no Movimento de Renovação das Artes Visuais. Mais tarde, em 1964, passa a integrar o Grupo Um (GUM), ao lado de Érico da Silva, René Bittencourt, Álvaro Borges e Waldemar Roza, mostrando que sua obra não era isolada, mas dialogava com uma geração que queria atualizar a visualidade local. A exposição do MON faz esse elo entre a bagagem internacional e a resposta que ele dá ao contexto brasileiro, evidenciando que a adaptação ao Paraná não apagou o artista egípcio, apenas ampliou o repertório.
O artista do traço poético e da cor densa
Uma constante que atravessa todas as fases apresentadas na Sala 7 é o desenho forte. Fernando Bini sintetiza isso ao afirmar que “é impossível catalogá-lo em uma categoria: ele é o poeta da cor e do onirismo próximo a Marc Chagall, mas com a cor herdada de Henri Matisse”. Essa leitura ajuda a compreender por que suas figuras parecem ao mesmo tempo familiares e levemente sonhadas, e por que os fundos coloridos não são apenas cenários, mas atmosferas. A mostra evidencia esse jogo entre o real e o lírico, aproximando o visitante do que a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, chama de “voar no tempo, guiados pelas cores e traços poéticos do artista”.

Essa dimensão lírica não exclui o rigor técnico. Massuda dominava o desenho a ponto de ensiná-lo. Atuou como professor de desenho e pintura na Casa Alfredo Andersen, no Centro Cultural Brasil–Estados Unidos e no Centro de Criatividade de Curitiba, encantando alunos justamente pela liberdade formal e cromática. Ao incluir obras de diferentes momentos, o MON não só homenageia o centenário como também mostra esse Massuda pedagogo, capaz de transmitir método ao mesmo tempo em que sustentava uma pintura de imaginação aberta.
A Sala 7 como espaço de memória paranaense
Nos últimos anos, o Museu Oscar Niemeyer tem fortalecido a Sala 7 como ambiente dedicado ao legado das artes visuais do Paraná. Ao receber uma retrospectiva de Alberto Massuda, o espaço reafirma sua vocação. “Entendemos que os museus são espaços vivos e de conhecimento, que incrementam repertório e proporcionam experiências únicas a seus públicos. Possibilitar diálogos constantes entre a arte paranaense e os nossos visitantes é um dos objetivos do Museu”, explica Juliana Vosnika. Assim, a exposição não se limita a comemorar uma data redonda; ela coloca o público diante de uma produção que ajudou a desenhar o imaginário artístico do estado ao longo da segunda metade do século 20.
A escolha do MON também reforça o papel de Curitiba como cidade de acolhimento de artistas estrangeiros. Massuda chegou ao Brasil com uma obra já reconhecida e, mesmo assim, se inseriu na cena local, participou de grupos, ensinou, dialogou com colegas e deixou acervo que hoje justifica uma mostra abrangente. Ao apresentá-lo como “artista de alma inquieta e de intensa sensibilidade”, como disse Luciana Casagrande Pereira, o governo do Estado e o museu sublinham que a história artística paranaense é feita tanto de nomes nascidos aqui quanto de criadores que escolheram o Paraná para viver.
Um convite ao público
Ao reunir cerca de 90 trabalhos, o MON oferece um recorte raro da produção de Alberto Massuda. É uma oportunidade de ver de perto o modo como ele articulava cor, desenho e lirismo para falar de temas humanos, muitas vezes atravessados por referências à sua origem e por um senso de suavidade que convive com traços firmes. A exposição, inaugurada em 13 de novembro, também reforça o compromisso do museu com ações de mediação e formação de público; por isso, a instituição segue promovendo visitas guiadas às sextas-feiras, aproximando os visitantes do conteúdo expositivo e ampliando o repertório de quem frequenta o museu.
“Massuda nos deixou um imenso legado”, resume Juliana Vosnika. Ao transformar esse legado em narrativa expositiva, o MON devolve ao público um artista que circulou pelo mundo, consolidou-se em Curitiba e, agora, tem sua obra de novo iluminada, exatamente no ano em que se celebra seu centenário.
SOBRE O MON – O Museu Oscar Niemeyer (MON) é patrimônio estatal vinculado à Secretaria de Estado da Cultura. A instituição abriga referenciais importantes da produção artística nacional e internacional nas áreas de artes visuais, arquitetura e design, além de grandiosas coleções asiática e africana. No total, o acervo conta com aproximadamente 14 mil obras de arte, abrigadas em um espaço superior a 35 mil metros quadrados de área construída, o que torna o MON o maior museu de arte da América Latina.
Serviço:
Exposição “A cor e o lirismo de Alberto Massuda – 100 anos”
Abertura: 13 de novembro, 19h
Espaços: Sala 7
https://www.museuoscarniemeyer.org.br





