Resumo
• Frank Gehry, morto aos 96 anos, foi um dos arquitetos mais influentes do século 20, conhecido por transformar edifícios em esculturas habitáveis.
• Sua trajetória inclui obras icônicas como o Guggenheim Bilbao, o Walt Disney Concert Hall e a Dancing House, que redefiniram cidades e impulsionaram requalificações urbanas.
• Nascido em Toronto e naturalizado nos EUA, Gehry desenvolveu uma linguagem marcada por curvas, metais e dinamismo, inspirada em movimentos artísticos contemporâneos.
• Sua própria casa, a Gehry Residence, sintetiza sua visão experimental e revela aspectos íntimos de seu processo criativo.
• Premiado mundialmente, incluindo o Pritzker, deixou um legado que influenciou gerações e elevou a arquitetura a um diálogo permanente entre arte e urbanismo.
A morte de Frank Gehry, aos 96 anos, encerra um ciclo luminoso da arquitetura mundial. Considerado um dos grandes responsáveis por romper barreiras entre edifício e arte, Gehry trouxe ao século 20 — e muito além dele — uma visão ousada, emocional e profundamente autoral. Mais do que projetar construções icônicas, ele moldou novas formas de olhar a cidade e ampliou o repertório do que entendemos como espaço urbano, sempre desafiando limites, curvas, materiais e percepções.
Segundo sua equipe, o arquiteto faleceu em casa, em Santa Mônica, após complicações respiratórias. Deixa para trás um portfólio que se tornou referência acadêmica, cultural e turística, reunindo edifícios capazes de transformar não apenas paisagens, mas também a identidade das regiões onde estão inseridos. O Museu Guggenheim de Bilbao, a Dancing House, em Praga, e o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, são apenas alguns entre tantos símbolos que sobreviverão como testemunho de sua genialidade.
A formação de um criador inquieto
Nascido em 1929 como Ephraim Owen Goldberg, em Toronto, Gehry cresceu em meio a desenhos, maquetes improvisadas e uma curiosidade visual incomum. Apenas mais tarde, já na vida adulta, adotaria o nome pelo qual se tornou mundialmente conhecido. A mudança ocorreu ainda jovem, um gesto que ele próprio já relatou como tentativa de se proteger do preconceito e das barreiras profissionais impostas ao sobrenome de origem judaica.
Sua trajetória acadêmica começou na Universidade do Sul da Califórnia, onde se formou em arquitetura em 1954. Depois de servir ao Exército, frequentou Harvard para estudar planejamento urbano, enriquecendo sua visão sobre o impacto das cidades na vida cotidiana. Essa combinação entre inquietude, formação sólida e senso artístico ampliado resultou em uma carreira que se manteve ativa por décadas — inclusive após os 80 anos, período em que a maioria dos arquitetos já havia desacelerado.
A linguagem que fez escola: curvas, metais e o gesto escultórico
O estilo de Gehry é instantaneamente reconhecível. Volumes que parecem se mover, superfícies metálicas que capturam a luz de forma dramática e uma fluidez quase musical marcam seus projetos. O arquiteto se aproximou de artistas da pop art e dialogou com movimentos contemporâneos, traduzindo essas influências em construções que, muitas vezes, parecem desafiar a lógica estrutural.

O Guggenheim de Bilbao permanece seu momento mais emblemático: além de revolucionar a paisagem urbana da cidade espanhola, o edifício se tornou exemplo internacional de como a arquitetura pode impulsionar economia, turismo e autoestima cultural. Outros marcos, como o DZ Bank Building, em Berlim, e o Walt Disney Concert Hall, elevaram ainda mais seu prestígio ao conciliar engenharia precisa com uma estética inovadora.
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Entre o experimental e o afetivo: a residência que contou sua história
Apesar da escala monumental de muitos de seus projetos, Gehry também explorou dimensões íntimas. Sua própria casa, a Gehry Residence, em Santa Mônica, é um dos melhores retratos de seu espírito experimental. Construída nos anos 1970, a residência mistura materiais tradicionais a fragmentações calculadas, revelando a gênese de sua linguagem desconstrutivista de maneira crua e autobiográfica.
Gehry também aceitou desafios corporativos, como a ampliação da sede do Facebook a convite de Mark Zuckerberg, provando que sua assinatura se adaptava a grandes empresas sem perder integridade artística.
O olhar para dentro: o arquiteto como personagem de sua própria obra
O documentário Sketches of Frank Gehry (2005), dirigido por Sydney Pollack, aproxima o público do processo criativo do arquiteto. Esboços, conversas e reflexões revelam como suas obras surgiam de gestos aparentemente simples — como o amassar de um papel — até se transformarem em complexos edifícios reconhecidos mundialmente.

A produção reforça a percepção de Gehry como artista tanto quanto arquiteto: um criador que buscava emoção, surpresa e movimento em cada linha traçada.
Reconhecimento mundial e influência permanente
Frank Gehry recebeu algumas das maiores honrarias da arquitetura internacional, incluindo o Prêmio Pritzker, a Medalha de Ouro do Instituto Real de Arquitetos Britânicos e o título de Companion of the Order of Canada. Suas obras seguem estudadas em universidades, analisadas em debates urbanos e admiradas por profissionais que veem em sua trajetória um divisor de águas.
Seu legado reside não apenas nos edifícios que deixou, mas no impacto cultural, no debate sobre forma e função e na coragem de propor uma arquitetura que ultrapassa a técnica para tocar o imaginário.
Frank Gehry não foi apenas um arquiteto. Foi uma força criativa que reinventou o modo como o mundo vê a cidade — e, por isso, continuará presente em cada curva metálica que brilha à luz, em cada edifício que ousa ser escultura e em cada profissional que busca, como ele, romper fronteiras.





