Na arquitetura contemporânea, poucos elementos conseguem unir tradição, inovação e funcionalidade como a fachada com cobogos. Longe de ser apenas uma escolha estética, esse recurso arquitetônico genuinamente brasileiro conquistou espaço nos projetos mais atuais por sua capacidade de transformar luz, sombra e ventilação em experiências sensoriais e visuais únicas.
O cobogó, nome derivado dos sobrenomes dos engenheiros Amadeu Coimbra, Ernesto Boeckmann e Antônio de Gois — que o patentearam nos anos 1930 em Recife — é um bloco vazado originalmente feito de cimento, mas que hoje pode ser encontrado em cerâmica, vidro, concreto pigmentado e até MDF resistente. E é exatamente essa versatilidade de materiais, formas e cores que tem encantado os profissionais de arquitetura e decoração.
Uso de cobogós em fachadas modernas
Na fachada, o cobogó não cumpre apenas um papel decorativo. Ele atua como um filtro entre o exterior e o interior da casa, promovendo ventilação cruzada, protegendo os ambientes do sol direto e garantindo privacidade sem enclausuramento. A arquiteta Mônica Costa, do Estúdio Ruarq, destaca que esse recurso cria uma barreira visual suave, permitindo a entrada de luz filtrada.

“O uso do cobogó traz uma poética que vai além da técnica. Ele molda os vazios, desenha sombras móveis e insere leveza nos volumes arquitetônicos”, comenta.
Além do impacto estético, a fachada com cobogos melhora o conforto térmico. Em regiões de clima quente, como o Centro-Oeste e o Nordeste do Brasil, seu uso é estratégico. A combinação de brises verticais, jardins verticais e elementos vazados como o cobogó torna os projetos mais eficientes sem depender de soluções artificiais de climatização.

O arquiteto Gabriel Teixeira, especializado em construções biofílicas, reforça: “O cobogó é um dispositivo climático. Quando bem posicionado, ele reduz em até 40% a incidência solar direta nos ambientes internos, permitindo que a temperatura fique até 3 graus mais amena no verão.”
Identidade visual
Outro atrativo dos cobogós está na sua capacidade de criar identidade visual. Diferentemente de uma fachada de vidro ou reboco liso, eles permitem a personalização do padrão, do ritmo visual e da interação com a luz ao longo do dia. Projetos de casas urbanas, sobrados modernos e até lojas de rua têm adotado fachadas com cobogos como marca registrada — um recurso arquitetônico que atrai o olhar e deixa uma impressão memorável.

Seja em formatos orgânicos, geométricos, lineares ou art déco, os blocos vazados permitem brincar com transparências e opacidades, resultando em fachadas que parecem mudar de aparência conforme a posição do sol. Essa movimentação sutil cria dinamismo ao projeto e reforça o vínculo entre o design e os ciclos naturais do dia.
Elemento como ponto de destaque
Ao mesmo tempo em que remetem ao modernismo brasileiro, os cobogós são elementos extremamente atuais, pois dialogam com os princípios da arquitetura sustentável e da estética minimalista. Uma fachada com cobogos pode ser tanto o ponto de destaque de uma construção contemporânea quanto um resgate elegante da memória afetiva de quem cresceu vendo essas peças em casas de avó ou escolas antigas.
Nos projetos atuais, muitos arquitetos têm utilizado o cobogó em conjunto com painéis verdes, decks de madeira e iluminação indireta. À noite, com a luz artificial projetada por trás dos blocos, as fachadas ganham um aspecto cenográfico, projetando sombras nas calçadas ou nas paredes internas da residência, criando verdadeiros efeitos escultóricos.

No entanto, para que o resultado seja realmente eficiente, é essencial considerar a orientação solar, o contexto urbano e o uso dos espaços internos. “Não se trata apenas de aplicar o cobogó pela beleza. Ele deve conversar com a função do ambiente e com as necessidades dos moradores”, reforça Mônica Costa.