Em meio à dinâmica intensa de São Paulo, criar um espaço que funcione como pausa sensorial se tornou quase uma necessidade. É a partir dessa premissa que nasce o projeto deste estúdio de 40 m², localizado no bairro dos Jardins, concebido como um refúgio urbano para um jovem executivo que alterna a rotina entre trabalho e descanso. O resultado é um ambiente que valoriza tons terrosos, materiais naturais e soluções arquitetônicas que ampliam a percepção de espaço sem abrir mão da funcionalidade.
Assinado pela arquiteta Renata Ferrão, à frente do Curió Arquitetura e Design, o projeto traduz uma linguagem contemporânea que se afasta da estética corporativa tradicional e se aproxima de um morar mais sensorial, leve e acolhedor.
Integração como estratégia para ampliar o espaço
Desde o início, a proposta buscou eliminar barreiras visuais. A retirada da porta da varanda foi decisiva para integrar interior e exterior, permitindo que a luz natural percorresse todo o apartamento e reforçasse a sensação de amplitude. Uma meia parede passou a cumprir o papel de organizar os usos entre cozinha e estar, criando limites sutis sem comprometer a fluidez.

Segundo Renata Ferrão, a ideia foi trabalhar com transições suaves. “Em espaços compactos, a arquitetura precisa ser quase invisível. Optamos por delimitar funções sem criar bloqueios visuais, deixando que os materiais e as texturas conduzissem o olhar”, explica a arquiteta, destacando a importância de pensar o layout como um percurso contínuo.
Lavanderia compacta e soluções que otimizam cada centímetro
Mesmo com o prédio oferecendo serviço de lavanderia, o projeto incorporou um tanquinho de porcelanato à cozinha, garantindo autonomia para o dia a dia. A solução vai além da funcionalidade: quando fechado com uma tampa do mesmo material, o tanque se transforma em apoio para o micro-ondas, mantendo a bancada limpa e visualmente organizada.

Essa escolha reforça o conceito de lavanderia integrada, cada vez mais presente em apartamentos compactos, onde móveis e equipamentos assumem múltiplas funções. Para Renata, esse tipo de solução é essencial em metragem reduzida. “O segredo está em desenhar elementos que se adaptem ao uso do morador, e não o contrário. Quando tudo tem mais de uma função, o espaço ganha fôlego”, comenta.
Porcelanato como fio condutor do projeto
O porcelanato aparece como protagonista em diferentes ambientes, garantindo unidade estética e praticidade. Na cozinha, a bancada em porcelanato dialoga com o tom verde Jacaré aplicado na parede, criando contraste suave e sofisticado. Os armários em MDF Curupixá, com frentes em palhinha natural, adicionam textura e reforçam a conexão com a natureza, um dos pilares do projeto.

No piso, o porcelanato com formato orgânico rompe com a rigidez dos cortes tradicionais e imprime movimento ao espaço, contribuindo para a sensação de fluidez. Já a parede da TV recebe um revestimento de textura terrosa, enquanto a divisória entre cozinha e área íntima aposta em superfícies que remetem ao barro, aprofundando a paleta de cores naturais.
Banheiro sensorial e unidade visual
No banheiro, a escolha por revestir piso, paredes e bancada com o mesmo porcelanato cria continuidade e facilita a manutenção. O destaque fica para a parede do espelho, que recebe um revestimento com textura inspirada nas dunas brasileiras, trazendo uma leitura mais sensorial ao ambiente.

Para a arquiteta, esse cuidado com a materialidade é fundamental. “Quando trabalhamos com tons terrosos e superfícies táteis, o espaço passa a dialogar com os sentidos. O banheiro deixa de ser apenas funcional e se transforma em um lugar de pausa”, observa Renata.
Muxarabi: leveza, privacidade e identidade
Elemento-chave do projeto, o muxarabi aparece em três momentos estratégicos: no fechamento do banheiro, na área técnica da cozinha e na camuflagem de equipamentos. Além de garantir privacidade, ele permite a passagem de luz e ventilação, criando uma relação equilibrada entre o que se mostra e o que se esconde.

Mais do que um recurso estético, o muxarabi reforça a identidade do estúdio e dialoga com a proposta de trazer referências naturais e artesanais para um contexto urbano contemporâneo. Assim, o projeto se revela como um exemplo de como arquitetura de interiores, mesmo em poucos metros quadrados, pode ser profunda, funcional e emocionalmente acolhedora.





