Na contramão dos ambientes simétricos, polidos e previsíveis, surge um movimento silencioso e profundamente poético que está conquistando o universo da decoração de interiores: o wabi-sabi. Originário da filosofia japonesa, esse estilo propõe uma nova forma de enxergar o lar – como um refúgio impermanente, repleto de texturas naturais, materiais crus e marcas do tempo.
No Brasil, onde o design de interiores há anos flerta com a tropicalidade, o minimalismo e os tons neutros, o wabi-sabi encontrou terreno fértil. Ele fala com quem busca autenticidade, acolhimento e, sobretudo, sentido. Não se trata apenas de estética, mas de uma nova percepção sobre o que é beleza duradoura – aquela que reside nas rachaduras, na madeira envelhecida, nos tecidos de linho puído e na cerâmica artesanal.
Materiais orgânicos e o elogio ao inacabado
Os ambientes que adotam o estilo wabi-sabi valorizam o uso de materiais naturais, como pedra, barro, madeira bruta e fibras vegetais. Cada elemento carrega uma história, uma textura única, e até mesmo suas imperfeições são consideradas traços de personalidade do espaço.
“Estamos falando de um estilo que reconhece o tempo como parte do design. Um móvel com marcas de uso ou uma parede descascada fazem parte da narrativa do ambiente”, explica o arquiteto Matheus Marcon, especialista em design biofílico e adepto do conceito em seus projetos residenciais.
Ele destaca que o minimalismo poético do wabi-sabi é diferente do estilo frio e impessoal que muitas vezes se associa ao minimalismo ocidental. Aqui, a sensação é de calor e intimidade.
Luz natural, texturas e paleta terrosa
A paleta de cores wabi-sabi é suave e inspirada na natureza. Os tons de areia, terra, argila e musgo criam ambientes silenciosos e contemplativos. A iluminação natural é essencial para realçar as texturas orgânicas, criando sombras suaves que se movem ao longo do dia.
De acordo com a designer de interiores Juliana Góes, o segredo está na sobreposição de sensações táteis. “Um sofá de linho, um tapete de sisal, uma mesa de madeira de demolição… tudo isso compõe um cenário onde o tempo é bem-vindo. A luz e o toque tornam o ambiente mais humano, mais sensorial”, afirma.

A valorização do feito à mão também é um traço forte do estilo, seja nas cerâmicas com formas irregulares, nas tapeçarias rústicas ou nos vasos esculpidos manualmente. O resultado são espaços que transmitem calma, introspecção e autenticidade.
Menos perfeição, mais verdade
No wabi-sabi, a simetria milimétrica perde lugar para a disposição espontânea dos elementos. Vasos assimétricos, arranjos florais descompromissados e móveis com histórias para contar tornam-se protagonistas. A ausência de ostentação e o apreço pela imperfeição elegante são as marcas dessa estética.
A filosofia por trás desse estilo convida à aceitação do que é efêmero – uma abordagem que ressoa com os tempos atuais, em que a busca por sentido se sobrepõe ao consumo exacerbado. “As pessoas estão se desconectando da artificialidade. Querem ambientes que transmitam verdade, e o wabi-sabi é exatamente sobre isso: sobre viver com o que é essencial e real”, analisa Matheus Marcon.
Wabi-sabi no Brasil: um novo olhar para o lar
A ascensão do wabi-sabi na decoração brasileira revela uma mudança de comportamento. Em um mundo hiperconectado e acelerado, as casas se tornam verdadeiros santuários emocionais. Não é à toa que arquitetos, decoradores e paisagistas vêm incorporando o estilo em projetos de interiores, varandas e até jardins, em busca de um diálogo mais profundo com a natureza e com o tempo.

Seja por meio de um banco rústico reaproveitado, de uma cerâmica artesanal com esmalte falhado ou de uma parede com textura natural, o wabi-sabi oferece um caminho para transformar o lar em uma extensão do que somos: imperfeitos, mutáveis, humanos.
Uma estética que acolhe
Na essência, o wabi-sabi não impõe regras. Ele se propõe como um convite para olhar com mais carinho o que já existe, aceitar o que o tempo molda e encontrar beleza no imperfeito. Na decoração brasileira, onde o afeto, a ancestralidade e o clima acolhedor já fazem parte da identidade visual dos lares, essa estética chega para somar – como um sussurro de serenidade em meio ao caos urbano.
O estilo wabi-sabi não quer impressionar. Ele quer acolher. E talvez por isso esteja conquistando cada vez mais espaço, não como tendência passageira, mas como uma forma legítima e profunda de morar.





