A arquitetura é uma arte milenar que coleciona, através dos séculos, muitos recursos que expressaram soluções ou mesmo a visão daquilo que era considerado belo e valoroso para aquele período.
Todo esse conhecimento é acumulativo e não necessariamente excludente ou datado, por isso muitos métodos clássicos podem – e devem, por assim dizer – ser usados, até os dias de hoje, dentro de uma roupagem moderna e criativa.
A revisitação dos clássicos
Para a arquiteta Ana Rozenblit, responsável pelo escritório Spaço Interior, revisitar clássicos é uma importante ferramenta de trabalho, pois muitas dessas estratégias se mantêm por sua atemporalidade ou por incorporarem novos recortes para a vida moderna. “Um clássico recebe esse status por ser algo que marcou a história e dificilmente será esquecido”, explica a profissional sobre o tema.
“Utilizar esses elementos entrega ao décor cenários disruptivos e irreverentes que são pura criatividade!”, completa a arquiteta que costuma mesclar o passado com o presente para desenvolver projetos inesquecíveis e personalizados.
Boiserie
Muito popular na arquitetura desde o século XVII, a boiserie nos remete ao movimento artístico Rococó, quando as molduras nas paredes conquistaram os palácios franceses. Atualmente, são feitas com MDF, gesso ou poliuretano e diversificaram sua presença em diversos cômodos de um imóvel.
Elas também são ótimas escolhas para abrilhantar os dormitórios, principalmente quando o décor se guia dentro de um caminho estilístico que cruza os estilos romântico e clássico.
“Sem dúvidas, é o ambiente onde os clientes mais solicitam a boiserie e não é para menos, pois ela entrega uma atmosfera onírica e elegante onde todos se sentem príncipes e princesas de suas próprias trajetórias”, analisa a profissional sobre como o artifício que conversa com o imaginário e contribui com a construção da casa dos sonhos.
Brise-soleil
Com historiadores e estudiosos marcando o boom dos brises entre as décadas de 1930 e 1940, durante o modernismo arquitetônico, o Brise-soleil (do francês, quebra-sol) ganhou duas versões: uma mais ampla para a construção civil, controlando a entrada do sol em prédios e edificações robustas, e em versões residenciais, com tamanho condizente com os projetos de interiores.
“Eu adoro trazê-lo por sua funcionalidade em varandas amplas ou ambientes integrados que podem contar com uma divisória vazada”, pontua a arquiteta que trabalha com o mecanismo para delimitar espaços e controlar a entrada de iluminação natural nas áreas sociais de um lar.
A essência vitoriana
Milenares e protagonistas de grandes estudos nos campos da física e da filosofia, os espelhos foram inseridos no décor com o auxílio de molduras grossas e ornamentais, protegendo a peça no transporte e se destacando como centro na decoração.
Hoje em dia é bastante comum que os espelhos inseridos nos projetos residenciais revelem guarnições minimalistas ou invisíveis, porém se engana quem pensa que a rebuscada referência barroca saiu de moda!
“O emprego de molduras antigas é uma maneira de contar e prestigiar a história humana através da arquitetura de interiores”, descreve Ana. Ela conta que sua adição se traduz como “um ponto inesperado no cômodo que, como eternizado no livro ‘Alice Através do Espelho’, nos transporta para outro mundo através do reflexo emoldurado”.
A ode aos eletrodomésticos retrô
As décadas de 1950 e 1960 acompanharam uma verdadeira febre sobre os eletrodomésticos coloridos – uma tendência lançada nos Estados Unidos que conquistou o mundo e se estendeu para o Brasil até meados dos anos 80. “Eles nos trazem uma memória afetiva muito grande, uma vez que encontramos com alguns desses eletros na casa de nossos avós e antepassados”, reflete a arquiteta sobre a importância imaterial das peças.