Na região de Ahmedabad, no oeste da Índia, uma casa rompe com o senso comum de como deve ser uma residência. Longe de linhas retas ou estruturas convencionais, o projeto assinado pelo estúdio Achyutam Designs parece ter sido esculpido diretamente na paisagem, como uma formação natural ou uma escultura de concreto repousando suavemente sobre o solo.
O desenho propõe mais que uma moradia: é uma obra que instiga, um experimento visual que se comunica com a terra. São formas cilíndricas e contínuas, sem emendas, que criam a impressão de que a casa nasceu ali, como um tubo orgânico moldado pelas forças da natureza. Para os arquitetos do projeto, a intenção foi clara: “dissolver a lógica tradicional de paredes e tetos, criando espaços que fluem como conchas ovais”.
Espaços orgânicos que se abrem para a paisagem
A residência ocupa 817 m² e foi organizada em dois grandes blocos: um para as áreas sociais e outro dedicado aos quartos da família. Esses volumes dialogam entre si de maneira fluida, reforçados por generosos recortes estruturais e painéis de vidro do chão ao teto que se voltam para um jardim interno exuberante.

A transparência das superfícies não é meramente estética. Ela intensifica a sensação de leveza das formas curvas e permite que a luz natural invada todos os ambientes, criando cenas que mudam ao longo do dia, em sintonia com o movimento do sol. Uma das protagonistas desse cenário é a piscina em formato semicircular, que se estende até os espelhos d’água laterais e amplia o diálogo entre a arquitetura e o jardim.
Segundo o arquiteto Akshat Bhatt, professor da Faculdade de Arquitetura de Deli, “a ousadia do projeto está justamente na forma como o concreto foi manipulado para evocar suavidade. É como se a matéria bruta tivesse aprendido a respirar com a paisagem”.
Concreto, luz e minimalismo: uma casa onde o essencial ganha forma
Os interiores seguem o mesmo princípio de fluidez. O design de mobiliário é completamente integrado à arquitetura. Mesas, bancos e camas parecem brotar do próprio concreto, como se fossem raízes dessa nova natureza construída. Nada parece adicionado; tudo foi pensado para ser parte indissociável da estrutura.

No chão, a escolha pelo Kota stone, uma pedra nativa da Índia de coloração terrosa, reforça o vínculo com o território. Com tons suaves e textura firme, ela estabelece uma continuidade visual que valoriza o minimalismo predominante e faz eco às formas esculpidas do exterior.
Para a arquiteta e professora Nikita Jain, da CEPT University, o projeto representa uma virada no modo como a arquitetura indiana pode dialogar com o contemporâneo sem perder identidade. “A estrutura sugere inovação formal, mas sem deixar de lado a relação profunda com os materiais locais. É um convite à contemplação e à redefinição do espaço doméstico”, afirma.