A maneira como vivemos nossos espaços diz muito sobre como a energia flui – ou não – dentro de casa. Segundo o Feng Shui, uma filosofia milenar chinesa que busca harmonizar os ambientes com a natureza e as emoções humanas, certos hábitos que parecem banais podem estar criando verdadeiros bloqueios energéticos, interferindo no bem-estar dos moradores e até na prosperidade do lar.
Entre os erros mais comuns está acumular objetos atrás das portas. Esse gesto, que muitas vezes surge por falta de espaço ou comodidade, é visto pelo Feng Shui como um obstáculo direto à circulação de energia vital – o chamado “Chi”. Sempre que a porta não consegue se abrir por completo, há um represamento simbólico daquilo que deveria entrar: boas oportunidades, novos ciclos, leveza e conexão.
Mas o impacto vai além da teoria. Para a consultora de Feng Shui Silvana Occhialini, autora do livro “Feng Shui para Ocidentais”, esse tipo de bloqueio tem um reflexo direto no emocional e até nos relacionamentos dentro de casa. “Quando a energia encontra dificuldade para circular, a casa tende a ficar estagnada, e isso pode refletir em aspectos como desânimo, cansaço constante e até discussões mais frequentes entre os moradores”, explica.
Acúmulo: o inimigo invisível do equilíbrio
Deixar casacos empilhados no encosto da cadeira, bolsas jogadas no chão ou caixas esquecidas nos cantos são práticas que indicam mais do que desorganização. Elas revelam a permanência do passado no presente, segundo a visão do Feng Shui. E essa permanência pode estar prendendo os moradores em situações que já não fazem mais sentido, mas que seguem energeticamente “ancoradas” no espaço.

Segundo a arquiteta e especialista em feng shui contemporâneo Andrea Bisker, o acúmulo não precisa ser visível para causar impactos. “Mesmo objetos guardados de forma desorganizada dentro de armários ou atrás de cortinas podem influenciar no fluxo energético dos ambientes. A casa ‘sente’ o que guardamos, mesmo que os olhos não vejam”, afirma.
Andrea também destaca que o ato de organizar vai além do visual bonito – é um exercício de escuta com o próprio lar. “A energia da casa conversa com a nossa. Se a gente a entope de coisas que não fazem mais sentido, como vamos abrir espaço para o novo?”, questiona.
Desbloquear para receber: o gesto simbólico da renovação
Deixar as portas abrirem totalmente, liberar os corredores, permitir que a luz natural entre sem obstruções são atitudes simples que, segundo os praticantes do Feng Shui, funcionam como verdadeiros convites ao bem-estar. O ideal, para começar, é fazer uma “varredura energética”, observando os pontos da casa onde existe estagnação – tanto física quanto emocional.

É nesse momento que a sensibilidade entra em cena: há espaços em que você se sente mais pesado? Há objetos que evocam lembranças negativas, ou que estão apenas ali “por pena de jogar fora”? Esse tipo de percepção é o ponto de partida para que a energia positiva volte a fluir.
Ao se libertar de certos costumes automáticos – como o de usar o espaço atrás da porta como depósito –, o morador reencontra a essência da moradia como abrigo, e não como prisão. E essa reconexão, dizem os especialistas, transforma não apenas os espaços, mas também as decisões que tomamos neles.
Um lar mais leve começa por escolhas conscientes
Adotar o Feng Shui em casa não exige grandes reformas, mas sim pequenos gestos com intenção. A ideia é se perguntar constantemente: o que esse objeto representa? Ele contribui para o que desejo sentir neste espaço? O que preciso liberar para me sentir mais em paz aqui?
Esse tipo de atenção aos detalhes, além de trazer equilíbrio energético, também influencia na estética e funcionalidade dos ambientes. Afinal, decoração e energia andam juntas – e uma casa bem decorada, que respeita a circulação natural do Chi, tende a ser também uma casa mais acolhedora e feliz.