A rotina de obra é cheia de improvisos inteligentes que agilizam processos sem comprometer a segurança, e o uso do enforca-gato para amarração de ferragens se tornou um desses artifícios comuns. Ainda assim, a dúvida persiste: afinal, essa prática é permitida?
A resposta envolve compreender a função real de cada elemento da armadura, o comportamento estrutural do concreto armado e o limite entre uma solução prática e um risco técnico. É justamente nesse ponto que a engenharia contemporânea tem sido enfática, ao mostrar que simplicidade e eficiência podem caminhar juntas quando respaldadas por critério técnico.
A função da amarração e por que ela não altera o desempenho estrutural
Antes de discutir o enforca-gato, é essencial revisitar o papel do arame recozido — já tradicional na montagem das armaduras. O arame não participa do trabalho estrutural do concreto armado; ele não absorve esforços, não substitui barras e não interfere na resistência da peça. Seu único objetivo é manter a ferragem no lugar até a concretagem e assegurar que o cobrimento e o posicionamento da armadura sejam respeitados.
O engenheiro Pietro, da Petrun, reforça essa perspectiva ao explicar que “a estrutura não sabe se a barra está presa por arame ou por abraçadeira. O que importa é a barra estar exatamente na posição prevista no projeto, sem deslocamentos durante a concretagem”. A fala sintetiza o ponto crucial: a função da amarração é auxiliar na montagem, não compor resistência.
Quando o enforca-gato se torna um recurso útil — e até mais eficiente
Durante a montagem de ferragens, especialmente em trechos mais densos ou com acesso limitado, aplicar arame pode ser difícil, cansativo e pouco prático. A abraçadeira plástica surge como uma solução ágil e eficiente nesses pontos, porque permite fixação rápida, firme e sem necessidade de manuseio complexo. Ela não substitui o ferro, não assume papel estrutural e não interfere na função da armadura — exatamente como o arame recozido. Confira:
Segundo o engenheiro Pietro, “em locais apertados, onde o uso do arame exige esforço excessivo ou risco de soltura, a abraçadeira pode oferecer mais precisão e segurança na fixação temporária”. A amarração se torna mais uniforme, limpa e rápida, favorecendo a produtividade da obra sem alterar qualquer parâmetro de segurança.
Critérios indispensáveis ao adotar o enforca-gato na ferragem
O uso da abraçadeira é aceitável apenas quando respeita três condições fundamentais do projeto estrutural: o cobrimento correto, a posição exata da armadura e a compatibilidade com o detalhamento previsto pelo engenheiro. Se esses requisitos forem atendidos, a escolha entre arame e enforca-gato não altera o funcionamento da peça.
É importante lembrar que ferragem bem posicionada trabalha, isto é, reage aos esforços para os quais foi dimensionada. Já ferragem mal posicionada, independentemente de estar presa com arame, abraçadeira ou qualquer outro recurso, compromete o desempenho estrutural da obra. O problema nunca está no tipo de fixação, mas na precisão da montagem.
Por que o enforca-gato não afeta o comportamento da estrutura
Como a abraçadeira não assume qualquer carga ou esforço, ela não interfere no comportamento da armadura após a concretagem. O concreto endurecido encapsula as barras e passa a transferir esforços para o aço por aderência, e não pela fixação inicial. Assim, desde que o alinhamento, o espaçamento e o cobrimento estejam corretos, o projeto se comportará exatamente como calculado.
O engenheiro Pietro ainda destaca que “a abraçadeira cumpre bem seu papel quando entendemos que ela é apenas um elemento de auxílio. O desempenho da estrutura depende da engenharia, não do método de amarração”. Essa camada de entendimento técnico ajuda a derrubar mitos e reforça que boas práticas são construídas com informação, e não com suposições.





