Em meio às gôndolas de hortaliças e laticínios, cresce um novo setor que vem mudando a paisagem dos supermercados brasileiros: o da jardinagem e floricultura. A presença de orquídeas, samambaias, vasos de temperos e até pequenas frutíferas não é mais um enfeite, mas uma estratégia.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), o setor de plantas ornamentais tem registrado um crescimento médio entre 8% e 10% ao ano na última década. E, cada vez mais, os supermercados aparecem como protagonistas nessa expansão.
A nova aposta verde do varejo alimentar
O movimento não é apenas uma moda passageira, mas um reposicionamento real de mercado. Supermercados de todos os portes — de redes nacionais a redes regionais e até mercados de bairro — vêm estruturando espaços fixos e setorizados para flores, plantas de interior, suculentas, hortaliças em vasos e itens de cultivo doméstico, como adubos, substratos e ferramentas básicas.

“Hoje, o supermercado é um canal estratégico de distribuição para o mercado de jardinagem, porque ele une conveniência e frequência de compra com a experiência sensorial de ver a planta ao vivo”, analisa Luciano Zanardo, paisagista e consultor em pontos de venda. “A compra de uma flor ou de uma muda de tempero muitas vezes é emocional, e o supermercado aproveita esse impulso como poucos.”
Parcerias com viveiros locais e produção sob demanda
Para garantir um mix de qualidade, muitas redes firmaram parcerias diretas com produtores e viveiros locais, criando cadeias logísticas que permitem a entrega regular de plantas frescas — algo que até pouco tempo era exclusividade de floriculturas especializadas.
No Paraná, por exemplo, redes como Condor e Muffato estruturaram canais com fornecedores de cidades próximas a Curitiba, oferecendo plantas regionais com rotatividade semanal. O mesmo se observa em São Paulo, onde o Carrefour e o Pão de Açúcar incluem orquídeas e suculentas em ações sazonais, como o Dia das Mães e datas comemorativas.
“Essas parcerias são vantajosas para todos. O supermercado ganha com um sortimento mais atrativo e com menor risco de perda, enquanto o produtor tem um canal garantido, com logística simplificada e previsibilidade de pedidos”, explica a engenheira agrônoma Cristina Nascimento, que atua na gestão comercial de viveiros no interior paulista.
O que mais vende? Plantas fáceis, úteis e decorativas
Embora o sortimento varie de acordo com a região, clima e perfil dos clientes, algumas espécies já se consolidaram como campeãs de venda. Ervas aromáticas em vasos, como manjericão, hortelã e alecrim, lideram as vendas por seu apelo funcional. Suculentas, pela facilidade de cuidado e preço acessível, também são estrelas.

Já para quem busca plantas ornamentais para interiores, jiboias, lírios-da-paz, samambaias e zamioculcas têm bom desempenho por sua resistência e estética. E não faltam flores: as orquídeas phalaenopsis, Kalanchoes, Lírios e rosas em miniatura aparecem com frequência, embaladas para presente, muitas vezes acompanhando campanhas específicas ou kits promocionais.
Jardinagem como experiência e conteúdo no PDV
Além da simples venda de plantas, algumas redes apostam em uma experiência ampliada para os consumidores. É o caso da rede Zona Sul, no Rio de Janeiro, que promove mini-oficinas de jardinagem e lança cartilhas com dicas de cultivo doméstico. Já em Belo Horizonte, redes como Verdemar e Super Nosso investem em ambientações cenográficas, com suportes, painéis verdes e QR Codes que explicam o uso de cada planta.
Esse conteúdo não é apenas decorativo — é estratégico. Ele fideliza o consumidor, cria vínculo emocional e insere o supermercado em uma cultura do bem-estar, alinhada ao conceito de “viver com verde”, que cresce entre moradores urbanos em busca de conforto visual e conexão com a natureza dentro de casa.
Desafios e oportunidades futuras
Apesar do sucesso, o modelo não está isento de desafios. A logística delicada, com plantas que murcham ou sofrem com transporte, ainda demanda cuidados especiais. Outro ponto é a falta de capacitação de funcionários, que muitas vezes não sabem orientar sobre cuidados básicos ou armazenar as espécies corretamente. Alguns supermercados estão começando a oferecer treinamentos básicos sobre plantas para suas equipes, o que pode transformar o atendimento.
Para os especialistas, no entanto, o saldo é amplamente positivo. “A jardinagem já não é mais um nicho de floriculturas: ela está entrando no cotidiano das pessoas pela porta da conveniência, do supermercado do bairro. E isso democratiza o acesso ao verde — tanto em termos de preço quanto de cultura”, afirma Cristina.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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