Peças feitas de sobras, descartes, refugos e materiais ignorados ganham espaço de protagonismo no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. A exposição “Pure Gold. Upcycled! Upgraded!” desembarca na Sala 2 do MON a partir de 21 de agosto, às 19h, reunindo 76 obras de design sustentável criadas por 53 designers de diferentes países. A mostra já passou por capitais como Londres, Barcelona e Bangcoc e agora propõe, no Brasil, uma conversa potente entre estética, consciência ambiental e inovação criativa.
Essa é uma realização do Institut für Auslandsbeziehungen (ifa), em parceria com o Goethe-Institut São Paulo e curadoria da renomada Adélia Borges, com idealização do professor e arquiteto alemão Volker Albus. A edição brasileira dialoga diretamente com o acervo do MON ao incluir sete obras da própria coleção permanente do museu, revelando como os limites entre o convencional e o reciclado já não são tão visíveis quanto imaginamos.
Design como instrumento de transformação social
Muito mais do que objetos interessantes, as obras apresentadas na mostra materializam uma crítica inteligente ao sistema de consumo atual e propõem alternativas sensíveis ao planeta. Segundo Juliana Vosnika, diretora-presidente do MON, “o design tem um poder narrativo. Ele nos leva a repensar hábitos, a criar pontes entre o belo e o necessário — e é exatamente isso que Pure Gold nos apresenta com precisão”.

O projeto surgiu da intenção de mostrar ao mundo que a supraciclagem (upcycling) é um gesto político e criativo. Volker Albus, curador alemão da mostra, destaca que todos os trabalhos foram desenvolvidos com ferramentas simples, muitas vezes à mão, usando “materiais pobres” ou que seriam descartados. “O interessante é que boa parte dessas obras poderia ser produzida em oficinas improvisadas ou até em bancadas domésticas”, explica. A exposição, portanto, oferece ao público não apenas inspiração, mas também viabilidade técnica e possibilidade de réplica — um valor raro no campo do design contemporâneo.
A estética da necessidade: lições da América Latina
O olhar latino-americano, conduzido por Adélia Borges, traz uma camada ainda mais profunda à mostra. A curadora explica que, em muitos países do Sul Global, a reutilização de materiais nasce mais da necessidade do que de uma consciência ecológica. “Ao longo da história, a pobreza marginalizou populações do sistema de consumo industrializado. Isso as levou a desenvolver uma cultura material baseada na criatividade, no improviso e na habilidade manual”, afirma.
Segundo Adélia, a reciclagem, a reutilização e a recontextualização fazem parte do cotidiano dessas comunidades, e por isso os designers latino-americanos da mostra carregam, em suas criações, os traços do design vernacular e das manifestações sociais de seus contextos. “Esses trabalhos nos provocam: será que é possível equilibrar estética, consumo e responsabilidade social? A resposta está na prática desses artistas”, completa.
Diálogo com o acervo e com o futuro
Ao lado das obras internacionais, o público também poderá observar peças do próprio acervo do MON. A intenção é clara: mostrar que a estética, a funcionalidade e o impacto não estão vinculados à origem dos materiais, mas sim à intenção e inteligência do projeto. Móveis feitos com latas, luminárias desenvolvidas a partir de tecidos descartados, objetos ressignificados que poderiam habitar salas de estar sofisticadas — tudo isso convida o visitante a refletir sobre o que, de fato, define o valor de uma peça de design.
Entre os destaques brasileiros estão obras de Domingos Tótora, referência no uso do papel reciclado para criar peças esculturais, e Brunno Jahara, que mescla arte, humor e crítica social ao transformar objetos comuns em peças provocativas.
Para a arquiteta e pesquisadora Paula Neder, o uso do reaproveitamento no design vai além de uma tendência. “Hoje, criar com consciência é um ato político e poético. O design precisa se alinhar com as urgências do planeta, mas sem perder sua capacidade de emocionar”, defende. Ela acredita que exposições como essa apontam caminhos não apenas estéticos, mas também éticos para as próximas gerações.
Já o designer e professor Fernando Prado vê a mostra como uma “quebra de paradigmas”. Segundo ele, “essa exposição demonstra como o que era visto como resíduo pode ocupar as páginas das revistas de decoração e os salões de design internacional. É a beleza que nasce da engenhosidade”.
A experiência sensorial e educativa
Mais do que uma exibição, “Pure Gold” é uma experiência expandida. Ao caminhar pelas obras, o visitante é convidado a rever conceitos, desconstruir padrões e imaginar futuros mais sustentáveis. Cada peça carrega uma história que mistura o pessoal, o social e o ambiental. O design deixa de ser apenas um exercício de forma e função para se tornar ferramenta de crítica e mudança.
O MON ainda promove, em paralelo à mostra, outras exposições que abordam o mesmo tema, como os trabalhos do artista mexicano Gabriel de la Mora e do brasileiro Barrão, ambos com forte atuação no campo da ressignificação de materiais.
Serviço: Exposição no MON
A abertura oficial da mostra acontece no dia 21 de agosto, às 19h, na Sala 2 do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. O evento é gratuito e aberto ao público. A visitação segue nos meses seguintes como parte da programação do MON, que atualmente abriga um dos maiores acervos artísticos da América Latina, com mais de 14 mil obras distribuídas em 35 mil m² de área expositiva.
📍 Museu Oscar Niemeyer
Rua Marechal Hermes, 999 – Centro Cívico, Curitiba – PR
🔗 museuoscarniemeyer.org.br

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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