A cozinha, antes isolada e funcional, tornou-se o coração da casa. As cozinhas abertas surgem como resposta direta a um estilo de vida mais dinâmico e acolhedor, em que cozinhar, conversar e conviver acontecem no mesmo espaço. Ao derrubar paredes e integrar ambientes, o lar ganha não apenas metragem visual, mas uma atmosfera mais fluida e afetiva.
Esse conceito, que caiu no gosto dos brasileiros nos últimos anos, não se limita apenas a plantas grandes ou modernas. Mesmo apartamentos pequenos podem apostar nesse modelo, desde que o projeto respeite o uso inteligente dos espaços e dialogue com a rotina dos moradores.
Segundo a arquiteta Mariana Simas, do Estúdio Mescla, “as cozinhas abertas refletem uma mudança de comportamento. Hoje, o ato de cozinhar está mais ligado à experiência de estar junto do que ao preparo solitário das refeições. Por isso, integrar virou quase um gesto de afeto”.
Integração que respeita desejos
No apartamento do casal Gabe e Rodrigo, a Quattrino Arquitetura realizou um desejo ousado: uma ilha central em uma cozinha com espaço reduzido. A solução envolveu colocar o fogão na ilha, o que liberou a parede lateral para receber um revestimento de tijolos aparentes, também usado na entrada do imóvel, criando unidade visual.
A marcenaria aérea, com portas de vidro, foi desenhada para exibir taças e cerâmicas de forma organizada e funcional, realçando o cuidado nos detalhes. “Foi um projeto de muito carinho e flexibilidade, com foco no que os moradores queriam de fato”, afirmam os autores. Esse exemplo mostra como personalizar a cozinha aberta com elementos visuais e afetivos — como revestimentos, iluminação e nichos — é um caminho para transformar o ambiente em um lugar vivo, que carrega a história de quem mora.
Charme e funcionalidade: quando a cozinha é extensão da sala
Em outro projeto inspirador, assinado pelo escritório Mari Carvalho Interiores, cada detalhe da cozinha foi pensado para que o espaço se tornasse não só funcional, mas também acolhedor. A marcenaria sob medida conversa com a iluminação suave, e o resultado é um ambiente que convida à permanência.
“Cozinha aberta é lugar de encontro”, destaca a arquiteta Mariana Carvalho. “Por isso, trabalhamos a iluminação com camadas, os tons da madeira, e até elementos afetivos — como o espaço do pet — para que a atmosfera da cozinha se estenda à vida cotidiana da família”. Aqui, o projeto mostra como os pequenos gestos — como inserir prateleiras, plantas, ou um ponto de cor — podem imprimir identidade ao espaço.
Cozinha ampla, verde e acolhedora
Com teto elevado e vigas aparentes, a cozinha aberta do projeto da Nuvem Arquitetura é um respiro visual. O uso do verde escuro na marcenaria contrasta com as bancadas brancas, criando uma composição sofisticada sem perder o aconchego. A escolha dos materiais foi pensada para dialogar com o resto do imóvel, ampliando a percepção do espaço.
A iluminação natural também é protagonista, reforçando a sensação de amplitude — um dos grandes trunfos das cozinhas abertas bem executadas. Esse projeto mostra como a integração pode valorizar a estrutura existente do imóvel, transformando o que antes era um espaço apenas técnico em uma área vibrante.
Quando fechar faz parte da abertura: o equilíbrio é tudo
Apesar de todo o charme, nem sempre a abertura total é o melhor caminho. Como aponta a arquiteta da Atrial Arquitetura, cada decisão precisa considerar o estilo de vida da família. “A pergunta ‘fechar ou não a cozinha?’ não tem resposta pronta. O projeto deve pensar na ventilação, nos cheiros, na dinâmica de uso, e até na acústica do ambiente”, comenta.
Para muitos, a solução intermediária — como painéis de correr, cobogós, portas de vidro ou até bancadas com altura estratégica — pode garantir integração visual com privacidade parcial. Assim, o morador pode “abrir” ou “fechar” conforme a ocasião e o humor do dia.
Beatles, pizza e vinho: uma cozinha com alma
No apartamento de 133 m² reformado pela arquiteta Letícia de Nóbrega, a cozinha foi pensada para um casal apaixonado por música, cinema e gastronomia. Integrada à sala e com referências à banda The Beatles, o espaço combina madeira, iluminação quente e soluções que permitem cozinhar, receber e relaxar sem sair do mesmo ambiente.
“O desafio era criar um layout fluido, mas sem abrir mão do conforto e da identidade do casal”, conta Letícia. O resultado é uma cozinha com alma, onde o som da música encontra o aroma do vinho e a presença de amigos completa o cenário.