Viver em uma casa de praia é acordar com o som das ondas, receber mais luz natural e adotar um ritmo de vida mais leve. Porém, junto com a vista privilegiada vem um desafio silencioso: a maresia. As partículas de sal em suspensão no ar se depositam em superfícies, penetram em frestas e aceleram o desgaste de móveis de madeira, estruturas metálicas, estofados e até revestimentos. Entender como esse processo funciona e adotar boas práticas desde o projeto até a manutenção do dia a dia é fundamental para manter o décor bonito e durável.
A arquiteta Paola Ribeiro, que assina diversos projetos no litoral brasileiro, costuma explicar a seus clientes que decorar perto do mar não significa abrir mão de materiais sofisticados, mas sim saber combiná-los com inteligência. Segundo ela, “a maresia não é inimiga da decoração; ela só exige escolhas mais conscientes. Quando o morador entende o comportamento dos materiais, é possível ter ambientes elegantes e, ao mesmo tempo, muito resistentes”. Assim, a casa se mantém acolhedora, com superfícies bem cuidadas mesmo após temporadas de sol forte, vento e umidade.
Por que a maresia afeta tanto os móveis?
Para colocar em prática boas práticas para proteger os móveis contra a maresia, vale começar entendendo o problema. Nas regiões litorâneas, o vento carrega microgotículas de água do mar, ricas em sais minerais. Esse sal se deposita nas superfícies, retém umidade e acelera processos de corrosão e oxidação, principalmente em metais. Nos móveis de madeira, a presença constante de umidade favorece a dilatação das fibras, o surgimento de manchas, descascamentos de verniz e, em casos extremos, rachaduras.

O engenheiro civil e especialista em desempenho de edificações João Gavião ressalta que os danos não aparecem de um dia para o outro; eles são cumulativos. Nas palavras dele, “o grande perigo da maresia é o acúmulo. Um móvel pode parecer intacto durante meses, mas se o sal não é removido e os acabamentos não são reforçados, a estrutura vai se fragilizando por dentro. Quando o problema se torna visível, muitas vezes já está avançado”. Dessa forma, prevenir é sempre mais eficiente – e mais econômico – do que corrigir.
Materiais que se comportam melhor à beira-mar
Quando o assunto é casa de praia, a escolha dos materiais é a primeira barreira contra a maresia. Em áreas externas, varandas abertas e ambientes totalmente voltados para o mar, os móveis em alumínio, inox e fibras sintéticas costumam ter melhor desempenho. Essas superfícies têm menor tendência à oxidação quando comparadas a ligas de ferro comuns e, se limpas com regularidade, mantêm o brilho por longos períodos.

A madeira continua muito desejada por sua sensação de aconchego, mas ela não se comporta da mesma forma em todas as espécies. Em vez de optar por painéis frágeis ou MDF exposto, vale priorizar madeiras mais densas, com boa resistência natural à umidade, além de aplicações específicas como a madeira naval. Em ambientes semiabertos, onde ainda há proteção de beirais ou fechamentos de vidro, bancos, aparadores e mesas de centro em madeira funcionam bem quando recebem manutenção periódica e verniz náutico adequado.
Nos estofados, tecidos naturais e muito porosos tendem a absorver umidade e cheiros com facilidade. Revestimentos de alto desempenho, com propriedades impermeáveis e indicados para áreas externas, resistem melhor ao sal, ao sol e às limpezas frequentes. Dessa forma, almofadas, pufes e poltronas continuam confortáveis sem exigir trocas constantes.
Acabamentos e tratamentos que fazem diferença
Depois de escolher bem o material, o próximo passo é pensar no acabamento. Para móveis de madeira em casas de praia, o uso de seladores e vernizes náuticos cria uma barreira protetora que impede a entrada de umidade nas fibras. A reaplicação periódica desses produtos é essencial, principalmente em áreas diretamente expostas ao vento marinho. A superfície ganha mais resistência e, ao mesmo tempo, preserva o desenho dos veios naturais.
Em estruturas metálicas, tintas anticorrosivas e esmaltes específicos para ambientes externos formam um filme protetor que reduz a possibilidade de ferrugem. Em muitos projetos contemporâneos, é comum combinar bases metálicas reforçadas e tampos em pedra ou madeira tratada, equilibrando estética e durabilidade. Assim, mesas de jantar, aparadores e mobiliário de apoio podem ficar próximos às aberturas sem sofrer tanto com a maresia.
Nos estofados, a aplicação de impermeabilizantes profissionais ajuda a repelir respingos de água e facilita a limpeza do sal que chega com o vento. A arquiteta Paola Ribeiro costuma sugerir que o morador programe uma revisão anual desses tratamentos, especialmente em casas que recebem hóspedes na alta temporada. Ela explica que “um bom plano de manutenção é tão importante quanto a escolha dos tecidos. Em regiões litorâneas, vale pensar em impermeabilização como parte do projeto, não como um serviço complementar”.
Limpeza e ventilação: a rotina que prolonga a vida útil dos móveis
Entre todas as dicas para proteger os móveis contra a maresia nas casas de praia, a rotina de limpeza talvez seja a mais subestimada. O sal se deposita de forma quase imperceptível, mas, ao longo das semanas, forma uma película agressiva sobre superfícies metálicas, vidros, pedras e madeiras. Uma higienização suave, feita com pano úmido e bem torcido, seguida de secagem, remove o excesso de sal sem agredir os acabamentos.

O engenheiro João Gavião destaca que é importante evitar produtos abrasivos ou muito alcalinos, que podem desgastar vernizes e tintas protetoras. Ele recomenda soluções neutras, aplicadas com delicadeza, e chama atenção para um cuidado básico: “não adianta limpar e deixar a peça molhada. Em casa de praia, a água parada é tão prejudicial quanto o sal, porque mantém a superfície constantemente úmida”. Dessa forma, secar bem é tão relevante quanto lavar.
A ventilação também tem papel fundamental. Ambientes sempre fechados acumulam umidade, favorecem mofo em móveis de madeira e tecidos, além de potencializar a ação da maresia. Portas e janelas abertas em horários adequados, ventiladores de teto e, quando necessário, desumidificadores ajudam a manter o ar em movimento. Em casas usadas apenas nos fins de semana, vale criar o hábito de arejar os cômodos assim que chegar, antes de colocar o ambiente em uso.
Estratégias de layout e proteção discreta
Outra maneira inteligente de aplicar as práticas para proteger os móveis da maresia em casas de praia está no próprio layout. Posicionar peças mais delicadas, como aparadores em madeira natural, estantes com livros e cristaleiras, em paredes menos expostas ao vento marinho reduz o impacto do sal. Já junto às janelas voltadas para o mar, é mais estratégico ter móveis em alumínio, inox, pedra ou madeira mais protegida.
Capas bem planejadas ajudam a preservar estofados e superfícies quando a casa fica fechada por períodos mais longos. Modelos confeccionados com tecidos próprios para uso externo permitem que o mobiliário respire e, ao mesmo tempo, reduzem o contato direto com o sal. Em varandas amplas, é comum utilizar cortinas de vidro, brises ou painéis vazados que filtram o vento, sem bloquear a vista.
Essas soluções criam uma camada de proteção quase invisível, integrada ao projeto. Em uma cozinha gourmet com vista para o mar, por exemplo, bancadas em materiais resistentes, como quartzo ou porcelanato de alta performance, convivem com armários superiores em madeira clara selada, enquanto os eletrodomésticos recebem acabamentos em inox com tratamento anticorrosivo. Assim, o conjunto mantém um visual sofisticado e ao mesmo tempo adequado ao clima litorâneo.
Marcenaria planejada e estofados pensados para o litoral
Na casa de praia, móveis planejados podem ser grandes aliados na luta contra a maresia. Ao desenhar armários, racks e painéis, o arquiteto pode prever vãos para circulação de ar, recuos que evitam contato direto com paredes muito frias e ferragens específicas mais resistentes à corrosão. Dobradiças e corrediças em aço inoxidável ou com tratamento galvanizado têm desempenho superior quando comparadas a opções tradicionais.
Nos quartos, camas com baú ou estruturas fechadas exigem atenção redobrada. Em muitos projetos, vale priorizar bases mais altas, que facilitem a limpeza do piso e permitam ventilação sob o móvel. Em vez de grandes estruturas pesadas, a combinação de camas simples, cabeceiras estofadas e mesas laterais soltas traz leveza e facilita a manutenção. Estofados desmontáveis e capas laváveis também ajudam, já que podem ser higienizados com mais frequência.
Para complementar, a escolha da paleta de cores pode trabalhar a favor da durabilidade. Tons claros e naturais tendem a disfarçar pequenas marcas deixadas pelo tempo, enquanto pinturas muito escuras evidenciam manchas de sal e arranhões. Dessa forma, o décor litorâneo se mantém atual por mais tempo, mesmo com o uso intenso da casa em feriados e férias.
Quando chamar um profissional
Embora existem muitas dicas para proteger os móveis contra a maresia nas casas de praia que podem ser colocadas em prática pelo próprio morador, uma avaliação profissional é sempre bem-vinda, especialmente em imóveis que passaram anos sem manutenção adequada. A arquiteta Paola Ribeiro costuma sugerir uma espécie de “check-up litorâneo”, em que são verificados o estado de portas, esquadrias, marcenaria, pisos, metais e ferragens.
Em alguns casos, uma simples repintura com produtos adequados já resolve o problema; em outros, é preciso substituir ferragens, reforçar juntas de madeira ou reposicionar peças demasiadamente expostas. O importante é entender que, em regiões de maresia, o projeto de interiores não termina quando o mobiliário é instalado. Ele continua vivo na rotina de cuidados, na revisão periódica dos acabamentos e na atualização de materiais à medida que surgem novas tecnologias mais resistentes ao ambiente marinho.





