A tradição que encanta gerações também tem espaço garantido no ambiente escolar. Organizar uma festa junina na escola vai muito além de montar barraquinhas e vestir os alunos com trajes caipiras. Trata-se de um evento que envolve cultura, história, integração comunitária e aprendizado lúdico — tudo isso embalado por bandeirinhas coloridas, músicas típicas e o aroma irresistível de milho, canjica e quentão (sem álcool, claro!).
Ao planejar uma festa junina, a escola tem a chance de fortalecer vínculos entre alunos, famílias e equipe pedagógica, resgatar tradições populares e até explorar conteúdos transversais como geografia, matemática, artes e cultura brasileira. Mas para isso, é preciso mais do que improviso: o segredo está no cuidado com os detalhes e na construção de um evento que celebre, acima de tudo, o espírito coletivo.
Muito além da quadrilha: o papel pedagógico do arraial
Para a pedagoga e especialista em eventos educacionais Patrícia Fonseca, o ponto de partida é entender que a festa junina pode e deve ser trabalhada como um projeto interdisciplinar.
“Ela oferece uma riqueza de conteúdos que se desdobram em sala de aula antes, durante e depois do evento. Os alunos aprendem sobre a origem das tradições, praticam leitura e escrita criando convites, trabalham a matemática ao montar cardápios, e até exploram geografia ao estudar festas regionais do país”, afirma.
Essa abordagem reforça o caráter educativo da festa, que vai muito além do entretenimento. Incorporar pesquisas sobre as danças típicas de diferentes estados, organizar oficinas de adereços juninos ou explorar receitas tradicionais nas aulas de culinária são formas de integrar o evento à proposta pedagógica, valorizando o aprendizado na prática.
Planejamento que une criatividade e logística
O sucesso de uma festa junina escolar começa com um bom planejamento. Assim que a data for definida, a equipe deve se reunir para distribuir responsabilidades, avaliar recursos disponíveis e definir a proposta estética do evento. Escolher um tema específico — como “São João Nordestino” ou “Festa caipira do interior paulista” — pode ajudar a dar identidade à festa e guiar as decisões de decoração, figurino e programação.

Para a arquiteta e cenógrafa Clara Antunes, que já assinou cenários temáticos para festas escolares em São Paulo e Belo Horizonte, a dica é investir em materiais acessíveis e reaproveitáveis. “Tecidos de chita, palha, juta e madeira reciclada criam um ambiente acolhedor e autêntico. As crianças podem participar da confecção das bandeirinhas e cartazes, o que aumenta o envolvimento com a festa”, sugere.
Outro ponto importante é garantir uma boa circulação no espaço. Mesmo em escolas menores, é possível montar um arraial funcional, com barracas distribuídas em formato de meia-lua, deixando o centro livre para danças, brincadeiras e apresentações.
A magia está nos detalhes: decoração, comidas e brincadeiras
Nada traduz tão bem o espírito junino quanto os elementos visuais. Bandeirolas em cores quentes, balões de papel, espantalhos feitos à mão e chapéus de palha compõem o cenário. A escola pode aproveitar para incluir cartazes feitos pelos alunos com trechos de músicas tradicionais, receitas juninas ou curiosidades sobre os santos celebrados: Santo Antônio, São Pedro e São João.

O cardápio também precisa ser pensado com carinho. Pipoca, bolo de fubá, canjica, maçã do amor, cuscuz, pamonha, milho cozido e outras delícias não podem faltar. E tudo isso pode ser adaptado para incluir restrições alimentares — opção sem glúten, sem açúcar ou sem lactose, por exemplo — garantindo a inclusão de todos.

Brincadeiras clássicas como pescaria, cadeia, boca do palhaço e argolas continuam sendo as favoritas entre as crianças. No entanto, muitas escolas têm inovado ao incluir jogos educativos com temática junina, como quiz de cultura popular, gincanas de cooperação ou oficinas de artesanato. A ideia é sempre unir diversão e aprendizado.
Um espetáculo que valoriza a diversidade e a coletividade
A apresentação da quadrilha é, sem dúvida, um dos momentos mais aguardados da festa. Mais do que a dança ensaiada, ela representa um grande ato de cooperação. É importante pensar na inclusão de todos os alunos, respeitando diferentes habilidades e preferências. Em algumas escolas, inclusive, a quadrilha é adaptada com cadeiras de rodas, audiodescrição e músicas com ritmo mais lento — um sinal claro de que o espírito junino deve acolher a todos.

Além da quadrilha tradicional, outras manifestações culturais podem ser incorporadas: danças típicas de outras regiões, declamação de cordel, apresentações musicais e dramatizações de causos caipiras. Isso amplia o repertório dos estudantes e enriquece o evento com novas referências.
Conexão com as famílias e o entorno da escola
A festa junina é uma oportunidade valiosa para estreitar laços entre a escola e a comunidade. Convidar os pais para ajudar na montagem das barracas, pedir doações para a decoração, ou mesmo organizar uma quadrilha dos professores e funcionários são formas simples de criar um clima de afeto e colaboração.

Algumas instituições também abrem espaço para barracas de empreendedorismo familiar, onde mães e pais podem vender quitutes ou artesanatos. Além de gerar renda extra, essa prática fortalece o sentimento de pertencimento e contribui para o sucesso do evento.