Resumo
• Cimento queimado e concreto aparente têm visual semelhante, mas funções diferentes: um é acabamento, o outro faz parte da estrutura da edificação.
• O cimento queimado se destaca pela versatilidade, custo mais acessível e possibilidade de aplicação em pisos, paredes e forros, desde que com cuidados técnicos.
• O concreto aparente valoriza a autenticidade da obra, exige planejamento desde a construção e oferece alta durabilidade com baixa manutenção ao longo do tempo.
• A escolha entre os materiais impacta diretamente o orçamento, o cronograma da obra e o comportamento do acabamento com o passar dos anos.
• Ambos dialogam bem com estilos industrial e contemporâneo e podem ser combinados com madeira, metal e pedras para criar projetos equilibrados e atemporais.
A estética urbana deixou de ser tendência passageira para se consolidar como linguagem permanente na arquitetura contemporânea. Nesse cenário, dois materiais seguem em destaque absoluto nos projetos residenciais e comerciais: cimento queimado e concreto aparente. À primeira vista, ambos compartilham a mesma paleta sóbria e o apelo industrial, mas, na prática, apresentam diferenças profundas que impactam não apenas o visual do ambiente, como também o orçamento, a execução e a manutenção ao longo do tempo.
Nos projetos assinados pelo arquiteto Bruno Moraes, à frente do BMA Studio, a escolha entre cimento queimado e concreto aparente nunca é apenas estética. Ela envolve leitura do espaço, entendimento estrutural e uma análise cuidadosa do que o cliente espera do ambiente. Segundo ele, compreender essas distinções é o que garante coerência, durabilidade e um resultado arquitetônico bem resolvido.
O que define o cimento queimado na arquitetura contemporânea
O cimento queimado é um revestimento de acabamento, aplicado sobre pisos, paredes, forros e até bancadas. Sua composição parte da mistura de cimento, areia e água, espalhada manualmente e alisada para alcançar o efeito contínuo e levemente manchado que caracteriza o material. A técnica evoluiu muito nos últimos anos, permitindo variações de tonalidade, textura e até maior controle estético.

Para Bruno Moraes, o cimento queimado se destaca pela versatilidade e pelo custo mais acessível quando comparado a soluções estruturais. “Ele funciona muito bem como acabamento e pode assumir diferentes nuances conforme a pigmentação escolhida. No entanto, é fundamental reforçar que não se trata de um elemento estrutural, mas exclusivamente de um revestimento”, explica.
Apesar da aparência uniforme, o material exige planejamento técnico. A ausência de juntas ou a aplicação inadequada pode resultar em fissuras ao longo do tempo. Por isso, a previsão de juntas de dilatação e o uso de seladores são etapas indispensáveis, especialmente em áreas úmidas, onde a permeabilidade pode gerar manchas e desgaste precoce.
Concreto aparente: quando a estrutura vira protagonista
Diferente do cimento queimado, o concreto aparente não é um revestimento, mas a própria estrutura da edificação exposta. Pilares, lajes e vigas permanecem visíveis, sem receber camadas de acabamento, revelando a materialidade crua da construção. O resultado é um visual robusto, honesto e profundamente ligado às correntes brutalista e industrial.
Segundo Bruno Moraes, o grande diferencial do concreto aparente está na autenticidade. “É um material extremamente resistente, com baixa demanda de manutenção, que carrega a história da obra. Quando bem executado, ele valoriza o projeto e cria uma identidade forte”, afirma.

No entanto, esse tipo de acabamento precisa ser pensado desde a fase estrutural da obra. A qualidade das formas, o tipo de fôrma utilizada e o cuidado na concretagem interferem diretamente no resultado final. Em reformas, a solução passa por revelar o concreto existente por meio de lixamento e tratamentos específicos, sempre com avaliação técnica para garantir a segurança da estrutura.
Manutenção e durabilidade: diferenças que pesam na decisão
Embora ambos sejam duráveis, cimento queimado e concreto aparente se comportam de maneira distinta ao longo dos anos. O cimento queimado, especialmente quando aplicado em camadas mais finas, tende a exigir reaplicações periódicas de resina ou seladores para manter a aparência uniforme e evitar absorção de umidade.
Já o concreto aparente, por integrar a estrutura, apresenta resistência superior. Sua manutenção costuma se restringir à aplicação ocasional de produtos protetivos, principalmente em áreas externas ou sujeitas à umidade constante. Para Bruno Moraes, essa diferença deve ser considerada logo no início do projeto, evitando surpresas futuras.
Como combinar e em quais estilos cada material funciona melhor
Tanto o cimento queimado quanto o concreto aparente dialogam bem com estilos como industrial, contemporâneo, brutalista, rústico e até retrô. A neutralidade cromática permite combinações sofisticadas com madeira natural, metais, tijolos aparentes, pedras e tecidos em tons mais quentes.

Bruno explica que o equilíbrio cromático é essencial. “Por serem superfícies visuais fortes, prefiro evitar cores muito escuras nos complementos, que podem reduzir a sensação de amplitude. Tecidos claros e materiais naturais ajudam a criar conforto e equilíbrio”, comenta.
Alternativas contemporâneas para quem busca o mesmo efeito visual
Para quem deseja o visual do cimento queimado, mas sem os riscos de trincas, o mercado oferece soluções como microcimento, porcelanatos com efeito cimentício e tintas texturizadas de alta performance. Essas opções ampliam as possibilidades em reformas rápidas e ambientes onde a obra pesada não é viável.
No caso do concreto aparente, placas cimentícias e painéis pré-moldados surgem como alternativas interessantes, reproduzindo o aspecto bruto sem exigir intervenções estruturais complexas. Ainda assim, Bruno ressalta que nenhuma dessas soluções substitui completamente a força estética do concreto estrutural verdadeiro.
Escolha consciente para um projeto coerente
Ao final, a decisão entre cimento queimado e concreto aparente deve partir de uma análise cuidadosa do projeto como um todo. “O concreto aparente entrega robustez, autenticidade e permanência. Já o cimento queimado oferece flexibilidade, personalização e melhor custo-benefício. Ambos funcionam muito bem quando aplicados no contexto certo”, conclui Bruno Moraes.
Mais do que seguir tendências, compreender as características de cada material é o caminho para criar ambientes atemporais, funcionais e visualmente marcantes — exatamente como a boa arquitetura pede.





