Resumo
- Em Brasília, arquitetos, pesquisadores e gestores debatem soluções para adaptar as cidades brasileiras às mudanças climáticas, em preparação para a COP30.
- A expedição Road to COP30 percorre biomas brasileiros promovendo encontros sobre urbanismo sustentável, inovação e justiça social.
- O Ministério das Cidades prepara um plano nacional de adaptação urbana, que será apresentado oficialmente durante a COP30, em Belém.
- Moradia digna foi apontada como eixo central da sustentabilidade, com destaque para a Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS).
- Entre os desafios estão o acesso a financiamento climático e a qualificação técnica. A proposta de um festival nacional de urbanismo foi apresentada para 2026.
A preparação para a COP30, que será realizada em Belém (PA), vem mobilizando não apenas autoridades e ambientalistas, mas também arquitetos e urbanistas que enxergam nas cidades o palco central da crise climática e de suas possíveis soluções. Em Brasília, um encontro entre representantes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), pesquisadores e gestores públicos deu o tom das discussões que devem pautar os próximos anos: como adaptar os espaços urbanos às mudanças climáticas sem deixar ninguém para trás.
O evento integrou a expedição “Road to COP30 – Agenda de Ação em Movimento”, que percorre quatro biomas brasileiros — da Mata Atlântica à Amazônia — promovendo debates sobre inovação urbana, energia limpa e sustentabilidade. A passagem pela capital federal reuniu especialistas do Instituto Bem Ambiental (IBAM), do Ministério das Cidades, do Ministério da Fazenda e da Universidade de Brasília (UnB), além de conselheiros federais do CAU/BR.
Sustentabilidade, moradia e justiça social: os pilares da adaptação urbana
Durante a roda de conversa realizada no Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS-UnB), os participantes reforçaram que a sustentabilidade urbana precisa caminhar lado a lado com a política habitacional e o financiamento climático internacional. As cidades brasileiras, marcadas por desigualdades históricas, enfrentam o desafio de se tornarem mais resilientes sem ampliar as brechas sociais.
O diretor-executivo do IBAM, Sérgio Myssior, destacou que cerca de 41% dos domicílios do país apresentam algum tipo de inadequação estrutural — seja na construção, no saneamento ou na regularização fundiária. Para ele, “não há sustentabilidade sem moradia digna. Pensar a cidade sem integrar habitação, infraestrutura e planejamento é perpetuar o problema à margem das soluções estruturais”, alertou.
O debate reforçou ainda a necessidade de incluir a Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS) nas políticas de mitigação climática. O arquiteto Filemon Tiago, do movimento Arquitetos pela Moradia, defendeu que a utilização de materiais locais e técnicas tradicionais pode reduzir emissões e promover autonomia comunitária. Ele lembrou que “a sustentabilidade precisa estar enraizada na cultura e na realidade das pessoas”, ressaltando o papel da educação ambiental na formação de novos profissionais.
Planos e desafios rumo à COP30
Representando o Ministério das Cidades, o secretário Yuri Rafael Della Giustina anunciou que o governo federal está finalizando o Plano de Adaptação das Cidades às Mudanças Climáticas, documento que será apresentado oficialmente durante a COP30. “Essa agenda só avança se for construída de forma conjunta entre União, estados e municípios”, afirmou, ressaltando a importância da cooperação federativa para garantir resultados duradouros.
Apesar dos avanços, o grupo reconheceu os entraves que ainda impedem o acesso do Brasil a fundos internacionais de adaptação climática, como o Fundo Amazônia. Entre os obstáculos estão a fragmentação de dados, a burocracia excessiva e a escassez de profissionais capacitados para elaborar projetos técnicos de alto impacto. Nesse contexto, surgiram propostas para criar programas de qualificação regional voltados a arquitetos, urbanistas e gestores públicos.
Um olhar para o futuro urbano
O conselheiro federal Carlos Lucas Mali, coordenador da Comissão de Relações Institucionais do CAU/BR, defendeu que as discussões iniciadas na pré-COP30 precisam gerar resultados concretos. “Nosso compromisso é transformar esses debates em metas permanentes, para que o legado da COP30 seja duradouro e efetivo”, afirmou.
Os participantes também sugeriram a realização, em 2026, de um Festival Nacional de Urbanismo, reunindo projetos públicos e privados voltados à inovação climática, segurança urbana e economia verde — temas que já se consolidam como centrais nas metrópoles do futuro.
Com paradas programadas em Palmas, Imperatriz e Belém, a expedição Road to COP30 segue cruzando o país em um motorhome transformado em laboratório itinerante de sustentabilidade, levando debates, oficinas e experiências práticas de adaptação urbana. A jornada culminará no Pavilhão Cidades Resilientes, na Blue Zone da conferência, reafirmando que o caminho para o futuro sustentável começa — literalmente — nas cidades.





