Em meio à paisagem preservada da Praia do Patacho, no litoral de Alagoas, uma casa de veraneio se destaca não pela imponência, mas pela forma sensível com que dialoga com o território.
Inspirado na oca indígena, o projeto propõe uma releitura contemporânea da arquitetura ancestral brasileira, criando um refúgio que valoriza materiais naturais, experiências sensoriais e uma relação profunda com o entorno. Mais do que uma casa de férias, o imóvel funciona como um convite ao desacelerar, ao convívio e à reconexão com a natureza.
Arquitetura que nasce da necessidade de pertencimento
Implantada em um terreno de 432 m² e com 314 m² de área construída, a residência foi pensada para acolher um casal e seus três filhos, além de amigos e familiares que costumam compartilhar temporadas no litoral alagoano. Quando o arquiteto Roby Macedo assumiu o projeto, a estrutura em concreto armado e alvenaria já estava executada, o que exigiu uma abordagem criativa para ressignificar volumes que, até então, remetiam mais a um conjunto fechado do que a uma casa de praia.

Segundo o arquiteto, a principal inquietação dos moradores era justamente a falta de conexão entre a construção existente e a paisagem natural ao redor. A resposta veio por meio de um conceito que buscou referências nos povos originários do Brasil, especialmente na simplicidade e na inteligência construtiva das ocas indígenas, que sempre se adaptaram ao clima e ao território de forma orgânica.
A inspiração na oca indígena como partido arquitetônico

O partido do projeto se consolidou a partir da criação de quatro chalés geminados, conectados por uma passarela suspensa sobre a piscina. Essa solução permitiu acomodar diferentes núcleos familiares, mantendo privacidade sem perder a sensação de coletividade — um princípio fortemente presente na arquitetura indígena.
Roby Macedo explica que o próprio nome Patacho, associado a um tipo de embarcação à vela do período colonial, evocou imagens do descobrimento e das primeiras habitações no Brasil. A partir dessa leitura simbólica, o arquiteto passou a “camuflar” a estrutura existente com elementos naturais, como pau canela, pedra quartzo e palha, criando uma nova pele arquitetônica que dialoga diretamente com a paisagem litorânea.
Fachada sensorial e transição entre mundos
Um dos aspectos mais marcantes da arquitetura da casa de veraneio é a fachada cega totalmente revestida em palha. Além de reforçar a estética rústica e ancestral, esse recurso atua como um filtro visual e térmico, protegendo os interiores e despertando curiosidade já na chegada.

O acesso ao conjunto acontece por um túnel formado por galhos de pau canela, que conduz o visitante até os chalés. Essa passagem não é apenas funcional, mas simbólica. Para o arquiteto, o percurso foi pensado como um ritual de transição, no qual o visitante deixa para trás o ritmo urbano e se prepara para vivenciar um tempo mais lento, alinhado à proposta da casa e ao espírito do lugar.
Interiores rústico-contemporâneos em sintonia com o litoral
No interior, o projeto adota um estilo rústico-contemporâneo, equilibrando simplicidade e conforto. A paleta de cores em tons de bege e areia reforça a sensação de leveza, enquanto o uso de madeira rústica, bambu e fibras naturais garante continuidade ao conceito arquitetônico.

No térreo, a área social integra sala, cozinha e jantar de forma fluida. Um grande sofá em alvenaria percorre a parede principal, atendendo simultaneamente a mesa de jantar e a área de estar, favorecendo a convivência. A churrasqueira, equipada com grelha para frutos do mar, se posiciona próxima à piscina, que se conecta visualmente ao chalé vizinho por meio da passarela suspensa, reforçando a ideia de integração entre os volumes.
Suítes pensadas para conforto e privacidade
No pavimento superior, quatro suítes completam o programa da casa, oferecendo conforto e privacidade aos hóspedes. Os dormitórios seguem a mesma linguagem estética do restante do projeto, com materiais naturais, iluminação suave e soluções que privilegiam ventilação cruzada e contato com o ambiente externo.

A proposta, segundo Roby Macedo, foi criar uma casa que não apenas abriga, mas que também ensina a viver de forma mais simples e consciente. Para ele, a inspiração na arquitetura indígena vai além da forma e se manifesta na maneira como os espaços incentivam o convívio, o respeito ao entorno e a valorização do essencial.





