Reformar uma casa construída na década de 1960 é, ao mesmo tempo, um gesto de preservação e ousadia. No bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, essa dualidade ganhou uma narrativa envolvente nas mãos da arquiteta Samia Sarayedine Testa, que recebeu a missão de transformar a antiga residência de 250 m² em um lar contemporâneo, iluminado e emocionalmente significativo para seus moradores.
A intervenção não buscou apagar a história, mas reinterpretá-la com sensibilidade, criando ambientes que valorizam o bem-estar, a convivência e a fluidez. O resultado é um projeto que materializa a hospitalidade brasileira em cada detalhe, desde a escolha dos materiais às soluções arquitetônicas que estimulam encontros.
A transformação dos espaços e o novo olhar sobre a luz
Logo ao atravessar o hall de entrada, percebe-se a importância do aconchego como diretriz essencial do projeto. Samia desenhou porta, paredes e teto revestidos em madeira, criando uma atmosfera imediata de acolhimento. O piso de porcelanato acetinado que simula mármore travertino percorre toda a casa, costurando visualmente os ambientes e garantindo unidade estética sem abrir mão da elegância.

A arquiteta explica que “a luz natural guiou a reconfiguração dos espaços”, destacando que grandes painéis de vidro foram inseridos para ampliar a conexão visual com o exterior. Essa decisão permitiu que a área social se tornasse mais fluida e convidativa, como se os limites entre dentro e fora se dissolvessem ao longo do dia.
Design brasileiro como protagonista dos ambientes

A residência renovada celebra o design nacional em sua forma mais sofisticada. Peças icônicas de Sérgio Rodrigues, Jorge Zalszupin e Jader Almeida fazem parte da composição, reforçando um discurso estético que valoriza a identidade brasileira e o uso consciente de materiais.
Ao comentar sobre essa curadoria, Jader Almeida observa que “um ambiente ganha força quando o mobiliário carrega histórias e dialoga com a arquitetura de forma orgânica”, ressaltando como o design assinado foi essencial para dar personalidade ao projeto. Além dos móveis, obras de Ianelli e Burle Marx complementam a proposta, introduzindo arte e poesia sem rupturas visuais.
Cozinha integrada e marcenaria inteligente
O coração funcional da casa também recebeu atenção especial. O desafio proposto pelos moradores — acomodar todos os equipamentos em um ambiente integrado e harmonioso — serviu como ponto de partida para uma marcenaria meticulosamente planejada.

A solução encontrada por Samia foi unir cozinha e home de maneira contínua, criando um espaço que funciona tanto para o cotidiano quanto para receber convidados. A arquiteta destaca que “a integração traz praticidade, mas só funciona plenamente quando cada centímetro é pensado para organizar, esconder e revelar conforme a necessidade”. O resultado é uma cozinha ampla, com fluxo confortável e estética impecável.
Um anexo que vira lar: o apartamento independente
Um dos momentos mais expressivos da renovação está no anexo, completamente reconfigurado para se transformar em um apartamento independente destinado ao filho e à nora do casal, que vivem fora do Brasil.

A solução não apenas ampliou as possibilidades de uso da casa, mas também trouxe um aspecto emocional relevante: o de permitir reencontros prolongados, com conforto e privacidade. Essa decisão arquitetônica reforça a visão de Samia, sempre voltada ao bem-estar afetivo da família.
A suíte que abraça: descanso como prioridade
A suíte do casal segue essa mesma filosofia de conforto ampliado. Espaçosa, silenciosa e suavemente iluminada, ela tem como ponto focal a cama super king com cabeceira estofada em boucle, que se estende pela parede como um convite ao descanso.

Mesas laterais em laca complementam a composição, criando uma atmosfera serena que integra materiais naturais e texturas macias. Essa escolha reforça a ideia de que um quarto deve ser mais do que uma área de dormir: precisa funcionar como um refúgio pessoal.





