A cada novo ciclo, as cores contam histórias que vão muito além da estética. Elas revelam desejos coletivos, comportamentos sociais e transformações culturais profundas. Para 2026, o movimento cromático aponta para uma virada emocional: a busca por equilíbrio, pertencimento e serenidade se traduz em tonalidades terrosas, variações de azul e tons neutros sofisticados.
O azul retorna com força, mas agora em versões mais densas e introspectivas. Os marrons e avermelhados da terra evocam ancestralidade e regeneração. Já os neutros ganham protagonismo como símbolo de pausa, essencialidade e elegância minimalista.
Segundo a colorista e consultora de tendências Vanessa Rozan, “as cores do momento precisam acolher, mas também provocar. A casa deixa de ser só um refúgio e passa a ser um campo de expressão pessoal e conexão com a natureza e a coletividade.
Azul Puro
Eleita pela Tintas Coral como a cor do ano de 2026, a tonalidade Azul Puro combina profundidade e leveza. Inspirada pelo céu e pela água em movimento, essa cor foi escolhida após um extenso estudo da AkzoNobel, que analisou transformações globais em áreas como meio ambiente, saúde mental e tecnologia.

“O azul sempre teve um papel emocional na decoração. Ele estimula a calma, mas também a expansão da mente”, afirma o arquiteto e pesquisador visual Daniel Farnese, que estuda o impacto sensorial das cores nos espaços interiores. “O Azul Puro é versátil: serve como base suave ou ponto focal sofisticado.”
Majari
A Iquine apresentou Majari como sua aposta para 2026, um tom azulado fechado que remete às águas escuras e densas dos rios amazônicos. A escolha não é apenas estética — ela representa, nas palavras da marca, uma reação emocional às grandes transições do mundo atual, como mudanças climáticas e transformações políticas.

Com influência natural evidente, Majari se encaixa em ambientes que buscam introspecção, estabilidade e uma estética sensorial quase meditativa. A tonalidade convida à contemplação, funcionando bem em salas de leitura, quartos e até banheiros, onde o frescor e a calma são desejados.
Ocala
O vermelho terroso batizado de Ocala pela Lukscolor traduz um desejo ancestral de conexão com a terra e com o corpo. Inspirada na argila, a cor dialoga com memórias táteis, sensoriais e culturais, ao mesmo tempo em que expressa movimento e transformação — qualidades urgentes para tempos incertos.

Ocala aparece como contraponto aos tons frios e oferece acolhimento e intensidade emocional. Segundo Farnese, “a argila é a matéria que molda, cura e sustenta. Reproduzir sua cor nas paredes é quase um manifesto de cuidado com a casa e com quem a habita.”
Terra Rica e Porcelana
A Eucatex decidiu inovar em sua abordagem para 2026 ao escolher duas cores complementares: Terra Rica, um marrom intenso e denso, inspirado nos solos férteis do interior brasileiro, e Porcelana, um off-white suave, quase etéreo, que remete à delicadeza dos materiais cerâmicos.

A proposta é equilibrar as forças da composição. Terra Rica evoca estabilidade, estrutura e enraizamento, ideal para criar ambientes aconchegantes e intimistas. Já Porcelana atua como um respiro visual, promovendo leveza e amplitude. Juntas, criam um diálogo visual que valoriza contrastes sutis e sofisticados.
Para a arquiteta e especialista em design biofílico Luciana Cordeiro, “essa combinação mostra uma das principais tendências do momento: unir natureza e neutralidade em espaços elegantes, mas com alma.”
A simbologia por trás da paleta 2026
O que une essas cores é mais do que um senso estético. Elas respondem a um tempo em que as pessoas buscam abrigo, presença e expressão em seus lares. A pandemia já ensinou o valor do refúgio; agora, a tendência é de redescoberta — tanto do mundo quanto de si mesmo.
Cores como Azul Puro e Majari revelam um anseio por fluidez e introspecção, enquanto Ocala e Terra Rica tocam na ancestralidade, na matéria-prima e na regeneração. Por sua vez, tons como Porcelana completam esse espectro com sutileza e silêncio.
Cada cor propõe uma atmosfera, uma intenção e, sobretudo, uma emoção. Em um mundo saturado de estímulos, as cores de 2026 surgem como linguagem afetiva, quase terapêutica.





