Há projetos que parecem se formar naturalmente a partir da paisagem — como se cada árvore, cada sombra e cada nuance de luz tivesse guiado o desenho do espaço. Assim surgiu esta casa de veraneio em Ubatuba, concebida para uma família que buscava um refúgio contemporâneo onde o interior e o exterior se misturassem de forma contínua, eliminando fronteiras e ampliando a sensação de liberdade. Inserida em meio à Mata Atlântica, a residência assume uma vocação tropical elegante, com materiais naturais, volumetria leve e atenção absoluta ao conforto térmico, indispensável no clima litorâneo.
Segundo o arquiteto Thiago Brunini Pitta, do escritório Pitta Arquitetura, a intenção desde o início foi “criar uma casa onde o exterior e o interior se misturassem de forma fluida, sem rupturas visuais”. Essa premissa norteou não apenas a escolha dos materiais, mas também a implantação do projeto, a modulação dos brises, a generosidade dos beirais e o posicionamento estratégico das aberturas. O resultado é uma construção que parece repousar discretamente entre as árvores, respeitando a força da paisagem sem abrir mão de sofisticação.
Piscina, varanda gourmet e Mata Atlântica: a tríade que organiza o projeto
A casa de 260 m² se abre para um terreno denso, onde a vegetação tropical atua como moldura natural. Nesse contexto, a piscina e a varanda gourmet tornaram-se elementos essenciais para costurar a vida interna com a mata ao redor. A varanda, equipada com churrasqueira e painéis do tipo camarão, funciona como eixo articulador entre sala, cozinha e área externa. Quando aberta, prolonga o living em direção ao jardim; quando fechada, oferece acolhimento para momentos mais íntimos.

O piso que imita travertino, o teto revestido de madeira e o mobiliário artesanal importado da Indonésia reforçam a atmosfera descontraída, porém sofisticada, que permeia todo o projeto. Cada escolha de acabamento busca reforçar a unidade estética, aproximando a paleta arquitetônica das cores naturais da Mata Atlântica.
Para Pitta, a varanda gourmet é uma peça-chave da experiência da casa. Ele destaca que “essa varanda foi essencial para garantir o uso pleno da casa em todas as épocas do ano, com diferentes possibilidades de convivência”. O desenho generoso, somado aos materiais tropicais, cria um ambiente que pode ser extensão da festa ou suporte para o descanso após um dia de mar.
Conforto térmico como premissa da estética contemporânea
Os amplos beirais, a estrutura metálica escura e a madeira natural não são apenas recursos visuais; eles formam um conjunto técnico que garante frescor, sombra e ventilação cruzada. Nos espaços internos, o piso claro realça a luminosidade natural, contribuindo para a percepção de continuidade entre os ambientes. Grandes aberturas conectam living, sala de jantar e cozinha com o jardim, dissolvendo a linha que separa vida interna e externa.

A piscina, revestida de porcelanato azul-esverdeado, se integra ao paisagismo tropical que a circunda. Pisadas de travertino guiam o percurso ao redor da água, enquanto helicônias, marantas, palmeiras e samambaias criam uma composição exuberante que reforça a sensação de refúgio litorâneo.
O jardim como moldura viva da arquitetura
O paisagismo, assinado pela Plantare, abraça a construção com massas de vegetação tropical que reforçam a proporção dos volumes e criam camadas de sombra e textura. Na lateral da varanda, um corredor verde formado por plantas altas camufla o muro e conduz o olhar até a piscina. A ideia não foi criar um jardim ornamental, mas um ambiente vivo que dialoga com o bioma, sem competir com a arquitetura.

Essa escolha reforça a sensação de casa que cresce organicamente dentro da Mata Atlântica, priorizando espécies adaptadas ao clima e capazes de desempenhar funções estéticas e ambientais ao mesmo tempo.
Living integrado e áreas sociais pensadas para convivência
O térreo concentra os ambientes de maior circulação: salas de estar e jantar, cozinha com ilha, varanda gourmet e três suítes destinadas a filhos e convidados. A marcenaria em tons naturais, executada pela GM Marcenaria, e o mobiliário importado criam uma atmosfera acolhedora, fluida e sem excessos. Os espaços foram dimensionados para receber grupos maiores sem comprometer a circulação ou a privacidade.

Uma das suítes se abre diretamente para o jardim e a piscina, tornando-se a queridinha da família nos dias de sol. A experiência proposta pelo projeto é a de uma casa onde o cotidiano se desenrola ao ar livre, com o mínimo de barreiras físicas entre atividades internas e externas.
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Um pavimento superior intimista com vista para a Serra do Mar
No andar superior, a suíte máster funciona como um refúgio silencioso, pensado para descanso e contemplação. Com vista aberta para a Serra do Mar, o espaço recebeu teto de madeira, iluminação suave e mobiliário artesanal, reforçando a estética natural que permeia toda a casa. Brises e grandes aberturas filtram a luz e garantem ventilação constante, reduzindo a necessidade de climatização artificial.

O closet, com portas em tela de palha, alia estética e funcionalidade, permitindo ventilação interna e preservando os materiais. Já o banheiro máster combina porcelanatos claros e bancada em Dekton, criando uma atmosfera relaxante com inspiração no spa.
Matéria-prima natural como linguagem de integração
A paleta de materiais — madeira acinzentada, estrutura metálica preta e piso claro — sustenta a estética contemporânea e reforça a relação da casa com o entorno. Todas as escolhas caminham em direção a um mesmo objetivo: criar uma residência que se apoia na natureza para definir sua identidade, sem excessos e sem ruídos visuais.
Como resume o arquiteto Thiago Brunini Pitta, “essas peças trouxeram alma ao projeto, reforçando seu caráter tropical e contemporâneo”, referindo-se ao mobiliário indonésio que completa o conjunto.
A casa, assim, não se limita a ocupar um lote; ela se deixa impregnar pela Mata Atlântica, devolvendo ao morador a experiência de conviver em harmonia com a paisagem litorânea.





