Ao entrar no apartamento de 140 m² localizado em um prédio da década de 1970, nos Jardins, em São Paulo, o que se vê hoje é a exata antítese do que ele era antes da reforma: um imóvel segmentado, com compartimentos fechados e espaços que não dialogavam entre si. O novo morador, um homem solteiro que vive só, desejava exatamente o contrário — um lugar aberto, fluido, prático e com personalidade.
O Studio Lim, comandado pelos arquitetos Cyro Guimarães e Luciano Aguiar, assumiu a missão de transformar completamente o imóvel. O primeiro passo foi o mais radical: derrubar paredes e repensar a planta original. Um dos dormitórios foi eliminado para ampliar a área social, conectando living e cozinha, enquanto a nova disposição favoreceu a entrada de luz natural por meio de janelas duplas que hoje definem a atmosfera iluminada da sala.
Integração visual e atmosfera masculina
O novo layout se desenha ao redor de uma ilha central na cozinha, que cumpre o papel de ponto de encontro e, ao mesmo tempo, de mesa de jantar. Um gesto arquitetônico simples, mas que redefine a circulação no apartamento e favorece momentos de convivência.
Nas luminárias, o caráter industrial surge de forma inusitada e autêntica: elas foram confeccionadas com canos originais da prumada do prédio, transformando resíduos em design. A estética brutalista se repete na parede de concreto aparente, que emoldura a sala e traz textura, contraste e identidade ao ambiente, sem recorrer a excessos decorativos.
Esse tom mais sóbrio e masculino se revela também no mobiliário: peças de linhas retas e contemporâneas, como a poltrona Baixa, de Guilherme Wentz, convivem com cadeiras de palhinha e mesas de centro discretas. O sofá generoso e confortável, por sua vez, ancora o espaço para o relaxamento, reforçando a vocação do imóvel como refúgio urbano.
Materiais frios, madeira quente
Apesar do apelo visual mais austero dos elementos industriais, o projeto encontra equilíbrio ao introduzir a madeira como elemento de acolhimento. Um painel de MDF divide a área molhada da cozinha e também reveste a parede das janelas, criando uma espécie de banco/apoio e suavizando o branco predominante das superfícies verticais.
O piso de cerâmica, escolhido pela praticidade e resistência, reforça a sobriedade dos ambientes, mas é contraposto por pontos de aquecimento visual cuidadosamente posicionados — como o painel de madeira e os estofados com tons neutros e aconchegantes.
A ausência de ornamentos supérfluos não significa frieza: o apartamento é funcional e cheio de soluções inteligentes que respondem ao cotidiano do morador, ao mesmo tempo que valorizam a memória do edifício.
Uma nova vida para um imóvel com história
Em seis meses, o apartamento foi inteiramente transformado para acolher não só um novo estilo de vida, mas uma nova maneira de habitar o espaço com liberdade, conforto e design consciente. Sem recorrer a modismos ou exageros, o projeto prova que um imóvel antigo pode ganhar nova vida sem perder sua essência, equilibrando passado e presente com sofisticação contida.
O resultado é uma morada que respeita o tempo — tanto o da construção quanto o do morador — e traduz, em concreto aparente, madeira e luz natural, a beleza da simplicidade bem pensada.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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