Resumo
• Granilite e terrazzo têm origens distintas — brasileiro e italiano — e isso influencia estética, tradição e aplicações em projetos contemporâneos.
• O granilite usa fragmentos menores e cria visual contínuo; o terrazzo adota pedras maiores e pode ser cimentício ou epóxi, oferecendo estética mais marcada.
• Moldados in loco, os revestimentos entregam superfícies monolíticas; em placas, principalmente no caso do terrazzo, surgem juntas de assentamento.
• O desempenho varia: ambos podem manchar se não selados, enquanto o terrazzo epóxi resiste mais a manchas, mas é sensível ao calor e pode amarelar.
• O granilite costuma ser mais econômico e ideal para grandes áreas; o terrazzo é mais caro, porém versátil, sobretudo na versão industrializada.
O interesse renovado por superfícies contínuas, de aparência artesanal e acabamento pontilhado, trouxe de volta ao centro dos projetos dois revestimentos que já figuram há décadas na arquitetura brasileira: granilite e terrazzo. Embora muitas vezes confundidos, eles carregam histórias distintas, processos de fabricação diferentes e comportamentos muito específicos no dia a dia — fatores que influenciam desde a estética até o custo final.
Ao analisar essas nuances, torna-se evidente por que arquitetos retomaram esses materiais como protagonistas de cozinhas, banheiros, varandas e áreas sociais contemporâneas.
A origem como ponto de partida
A primeira diferença entre os dois está na própria identidade. Como explica a arquiteta Yara Elias, do escritório Lynhas Arquitetura, o granilite é uma criação brasileira, desenvolvida a partir da combinação de cimento com fragmentos minerais moídos. Já o terrazzo tem raízes italianas, originado do reaproveitamento de pequenas sobras de mármore que eram incorporadas a uma base cimentícia para formar pisos contínuos.
Esse contraste geográfico ajuda a entender também por que o granilite se popularizou tão rapidamente em obras brasileiras ao longo do século XX, tornando-se um clássico de escolas, edifícios públicos e residências antigas — e ressurgindo agora com estética atualizada e novas possibilidades.
Como cada material é feito: bases, fragmentos e composições que definem o visual

Embora ambos sejam revestimentos de base cimentícia quando moldados no local, o acabamento varia de acordo com a granulometria das pedras. Yara Elias explica que o granilite utiliza minerais mais miúdos, resultando em um pontilhado delicado, quase textural. Já o terrazzo costuma incorporar fragmentos maiores, gerando um desenho mais marcado e expressivo.
O terrazzo também pode ser fabricado com base epóxi, o que amplia suas aplicações e permite a produção em placas industrializadas, bancadas pré-fabricadas e peças sob medida. Essa flexibilidade estética é um dos motivos pelos quais o material se tornou tão presente em projetos de interiores contemporâneos.
O cimento utilizado em ambos pode receber pigmentação, criando massas brancas, coloridas ou com tons terrosos, enquanto o acabamento pode ser liso, polido ou fulget, dependendo do efeito desejado e das necessidades de uso, sobretudo em áreas externas.
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A estética e a percepção visual
Apesar de parecidos à primeira vista, granilite e terrazzo contam histórias diferentes nas superfícies. O granilite, por ter agregados pequenos, cria um aspecto contínuo e homogêneo, ideal para quem busca um visual discreto. Já o terrazzo, com fragmentos maiores, proporciona uma leitura gráfica mais forte, que se destaca mesmo em ambientes minimalistas.

Essa distinção visual influencia diretamente o estilo do projeto: enquanto o granilite reforça a ideia de fluidez, o terrazzo assume protagonismo, funcionando quase como uma obra de arte no piso ou na bancada.
Moldado in loco ou industrializado
A arquiteta Cristiane Schiavoni aponta que existe ainda uma diferença difundida pelo próprio mercado brasileiro. Quando o material é moldado no local, com aplicação artesanal e polimento posterior, costuma ser chamado de granilite. Já quando chega à obra em placas prontas, muitas vezes produzido em indústrias especializadas, passa a ser reconhecido como terrazzo.

Essa distinção ajuda a entender o tipo de acabamento obtido. Moldado in loco, o revestimento se torna monolítico, sem emendas aparentes, o que reforça continuidade espacial e facilita a criação de rodapés arredondados e quinas macias. Já o terrazzo em placas exige juntas de assentamento, ainda que discretas.
Desempenho no dia a dia: resistência, porosidade e comportamento térmico
Quando o terrazzo é cimentício, compartilha com o granilite características típicas de materiais porosos. Yara Elias explica que ambos tendem a manchar com facilidade quando não recebem bons selantes, embora sejam naturalmente resistentes ao calor. Também podem apresentar trincas ao longo dos anos, sobretudo quando a base não é executada com rigor técnico.
O terrazzo epóxi, por sua vez, ganha maior resistência a manchas, mas perde quando o assunto é temperatura: uma panela quente, por exemplo, pode marcar a superfície. Com o passar do tempo, o epóxi também pode amarelar caso o material não receba um revestimento adequado de proteção.
Custo-benefício e instalação
O granilite costuma ser mais acessível, especialmente em áreas grandes, e mantém excelente desempenho estrutural. Para quem busca continuidade estética e orçamento controlado, ele se torna uma escolha estratégica. Por outro lado, sua instalação é complexa, exige profissionais experientes e deve ocorrer em etapas iniciais da obra, já que o processo envolve cura, polimento e aplicação de resinas.
O terrazzo em placas geralmente apresenta custo mais elevado por ser industrializado, mas ganha pontos pela praticidade de instalação, semelhante à de porcelanatos. Já o terrazzo cimentício moldado no local possui desafios parecidos com os do granilite.
Durabilidade e manutenção
A limpeza diária de ambos os materiais é simples, reforça Cristiane Schiavoni: água fria e sabão neutro resolvem bem a rotina. Quando o material perde brilho, o polimento devolve vitalidade e prolonga a vida útil da superfície.

Yara Elias ressalta que selamentos periódicos são indispensáveis para manter tanto o granilite quanto o terrazzo protegidos da umidade e das manchas. Esse cuidado, realizado de tempos em tempos, garante que o revestimento preserve cor, brilho e resistência por décadas.
Qual vale mais a pena para o seu projeto?
A resposta depende da intenção estética, da etapa da obra, do orçamento e da necessidade de continuidade visual. O granilite, com excelente custo-benefício e apelo clássico, é ideal para grandes superfícies e pisos integrados; o terrazzo, especialmente na versão epóxi ou em placas, se destaca em soluções contemporâneas que exigem versatilidade, personalização e protagonismo visual.
Ambos, porém, carregam uma qualidade que atravessa gerações: a capacidade de unir técnica e poesia em superfícies que contam histórias através de cada fragmento mineral.





