Resumo
• A tábua de corte mais segura vai além do material: hábitos de uso e higienização são determinantes para evitar contaminações.
• Normas da Anvisa indicam que a superfície ideal deve ser lisa, impermeável e sem ranhuras, o que coloca o PEAD e o vidro em vantagem.
• Tábuas desgastadas oferecem risco, independentemente do material, e devem ser substituídas ao primeiro sinal de trincas ou sulcos.
• A contaminação cruzada é um dos maiores perigos na cozinha e acontece ao usar a mesma tábua para alimentos crus e prontos.
• Limpeza rigorosa e separação de usos garantem a segurança alimentar, tornando o PEAD a escolha mais prática e higiênica para o dia a dia.
A tábua de corte costuma ser um dos utensílios mais subestimados da cozinha. Silenciosa, sempre à mão e indispensável no preparo das refeições, ela também pode ser uma das maiores portas de entrada para contaminações se for escolhida ou usada da maneira errada. Por muitos anos, a recomendação de aposentar as tábuas de madeira dominou conversas sobre higiene alimentar — e, de fato, existe fundamento nisso. Mas reduzir a segurança da sua cozinha apenas ao tipo de material é ignorar fatores que têm impacto direto no que chega ao prato.
De acordo com especialistas em segurança dos alimentos, o risco não está apenas na superfície da tábua, mas nos hábitos cotidianos que passam despercebidos. A forma como você corta, lava, seca e armazena esse utensílio é tão relevante quanto a composição dele. E isso muda completamente a forma de escolher o item mais seguro para a sua rotina.
O que realmente define a tábua de corte mais segura, segundo as normas da Anvisa
A RDC 216/2004, uma das diretrizes mais importantes da Anvisa para estabelecimentos que manipulam alimentos, traz um ponto-chave: superfícies que entram em contato com comida devem ser lisas, impermeáveis, laváveis e livres de frestas ou ranhuras. Isso significa que a escolha ideal não está apenas em ter uma tábua bonita ou de um material “da moda”, mas em garantir que ela se mantenha íntegra ao longo do uso.
A madeira — e até o bambu — ganha fama de vilã justamente porque tende a se tornar porosa com o tempo, absorvendo líquidos e odores. Mesmo quando o utensílio é fabricado com madeira densa, a manutenção é delicada e exige reaplicação periódica de óleo mineral, secagem absoluta e substituição regular. “A madeira pode até ser usada, mas jamais deve apresentar trincas, aberturas ou absorção de umidade”, alerta a engenheira de alimentos Mariana Rossi, especialista em qualidade sanitária.
Por isso, materiais como o polietileno de alta densidade (PEAD) tornaram-se padrão em cozinhas profissionais. Além de rígido, o plástico de alta densidade atende plenamente às exigências da Anvisa, mantendo-se impermeável e resistente por mais tempo. Já o vidro temperado, apesar de extremamente higiênico, divide opiniões por oferecer risco de deslizamento durante o corte e por desgastar o fio das facas com rapidez.
A escolha do material, portanto, importa — mas ela não encerra o assunto.
Trocar a tábua na hora certa é tão importante quanto escolher o material
Uma tábua perfeita hoje pode se tornar perigosa amanhã se apresentar ranhuras, cortes profundos ou áreas que não secam completamente. Esses pequenos danos acumulados criam nichos onde bactérias se multiplicam com facilidade, inclusive algumas responsáveis por quadros de intoxicação alimentar.
Para a nutricionista e pesquisadora em segurança alimentar Patrícia Lemos, o erro mais frequente é insistir em um utensílio já comprometido. “A tábua pode ser de PEAD, vidro ou madeira; se tiver trincas ou sulcos profundos, ela se torna um ambiente perfeito para microrganismos. O primeiro sinal de desgaste é o ponto de troca”, afirma.
Isso vale para qualquer material — inclusive os mais resistentes.
A contaminação cruzada: o risco invisível que não depende da tábua
Mesmo quando o utensílio está impecável, um hábito muito comum pode transformar o preparo dos alimentos em um risco: usar a mesma tábua para cortar produtos crus e alimentos já prontos.
Carnes cruas, especialmente frango e suínos, carregam bactérias como Salmonella e Campylobacter, que podem contaminar frutas, verduras, pães e outros itens consumidos sem cocção. Por isso, a orientação profissional é clara: sempre que possível, separar as superfícies por categoria de alimento.
Quando não houver espaço para múltiplas tábuas, a higienização deve ser rigorosa. A lavagem ideal acontece com água corrente, detergente neutro e boa fricção utilizando esponja ou escova. Uma vez por mês, o item pode ser imerso em uma solução suave de água sanitária. Superfícies como PEAD e vidro aceitam bem esse processo, enquanto madeira e bambu podem deteriorar mais rapidamente.
Higienização eficiente e hábitos seguros fazem toda diferença
Como mostram especialistas, a segurança alimentar depende de uma combinação de cuidados. O material é importante, mas o que define mesmo uma tábua segura é a disciplina no uso e na limpeza.
Guardar a tábua completamente seca, evitar que ela fique encostada em paredes úmidas, não cortar alimentos diretamente sobre danos existentes e higienizar imediatamente após o uso são fatores que reduzem drasticamente os riscos. Utensílios de PEAD ou vidro podem ir à lava-louças (desde que o fabricante permita), o que aumenta a eficiência da limpeza e simplifica a rotina.
No fim das contas, a tábua ideal é aquela que une bom material + boa manutenção + bom uso.





