A luz solar é um dos elementos mais poderosos e, ao mesmo tempo, subestimados na arquitetura, pois não se trata apenas de clarear um espaço, mas de compreender como a trajetória do sol ao longo do dia influencia diretamente no conforto térmico, percepção visual, funcionalidade de um lugar e a comodidade do morador.
Para os arquitetos Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto, o sol é uma energia ativa e um projeto que ignora a sua orientação corre o risco de prover ambientes pouco convidativos, escuros ou excessivamente quentes.
“Nós acreditamos que a atmosfera de uma casa é definida por meio da luz que nela adentra, ainda que, por estar em fase projeto, não exista. Mas conhecer seu direcionamento nos permite tomar decisões como a distribuição dos ambientes na planta, a escolha dos materiais e sistemas de sombreamento”, revela os profissionais que juntos comandam o escritório Meneghisso & Pasquotto Arquitetura.
Ambientes vivos e corpos saudáveis
A luz do sol promove efeitos positivos comprovados na saúde física, emocional, psicológica e sensorial das pessoas. Além de estimular a produção de vitamina D, contribui para a melhora do humor, o fortalecimento do sistema imunológico e a sincronização do ciclo circadiano, o famoso relógio biológico interno. Na arquitetura de interiores, o corpo celeste é um aliado para a concepção de ambientes que promovam saúde e qualidade de vida.

“A luz tem uma função terapêutica. Ela organiza o corpo e nos entrega um tipo de vitalidade que nenhum recurso artificial consegue reproduzir. Por isso, projetar com o sol é cuidar da saúde de quem vai habitar naquele espaço”, reflete Mariana Meneghisso.
Desse modo, locais bem iluminados durante o dia contribuem para uma rotina mais equilibrada e ativa, enquanto espaços escuros e mal iluminados tendem a provocar fadiga, irritabilidade e perda de produtividade.
Mas como aplicar isso na prática?
Tudo começa com a análise da posição solar, uma etapa técnica essencial no planejamento arquitetônico. “Com essa orientação, definimos estrategicamente em quais momentos os ambientes ficarão mais expostos ao sol”, explica Alexandre Pasquotto. Nessa orientação geográfica, ele compartilha um exemplo: se o sol nasce a Leste, se põe a Oeste e percorre o Norte, as fachadas voltadas ao Norte receberão maior exposição durante todo o dia.

Assim, a dupla enfatiza que ambientes voltados ao Leste, como quartos e home offices, devem se beneficiar da luz suave da manhã, enquanto varandas e espaços de convivência posicionados ao Norte precisam de uma iluminação mais abundante e estável.
Por outro lado, áreas voltadas ao Oeste recebem o sol da tarde, mais quente e intenso, exigindo proteção específica. As salas costumam se dar bem com esse posicionamento e são propícias para receberem a luz dourada do entardecer, também conhecida como Golden Hour.
“A orientação correta dos espaços depende tanto da localização e do layout do imóvel, quanto da rotina de quem viverá na edificação. Assim, é possível garantir a durabilidade dos materiais, redução de gastos com energia e o bem-estar contínuo dos moradores”, afirmam os profissionais.

Como a luz solar não se distribui igualmente pela casa e cada cômodo responde de forma diferente à iluminação, Mariana e Alexandre indicam que as cozinhas são ambientes que pedem boa ventilação e luz abundante, especialmente pela manhã. Para tanto, nos seus projetos trabalham com a especificação de materiais que não sofram com o calor constante, incluindo bancadas e armários resistentes à radiação UV.
Em livings, salas de estar e TV, a presença do sol é benéfica para destacar texturas naturais, painéis e obras de arte, porém é necessário o controle com a utilização de cortinas de dupla camada.
Em dormitórios, Alexandre e Mariana são enfáticos em destacar que a orientação Leste é a mais indicada para um despertar orgânico e melhor regulagem do sono. “Quando morador tem o hábito de dormir até mais tarde, uma tela solar ou cortina blackout equacionam a questão”, indicam.
Já nos dormitórios, a luz natural é condição sine qua non para a boa concentração e o alto desempenho. Para desfrutá-la, o recomendado é posicionar a mesa próximo a uma janela, sempre preservando a tela do notebook contra os reflexos advindos da lateral. “Nesses casos, as cortinas de tecido leve são muito bem-vindas”, sugere Mariana.
No caso dos banheiros, sempre que possível os arquitetos buscam aproveitar as condições naturais para promover a ventilação cruzada e controle de umidade – sem contar que o ambiente se torna ainda mais alinhado ao desejo de bem-estar e à percepção de higiene.
Por fim, áreas externas podem receber o sol pleno, desde que ofertem pontos de apoio para o conforto térmico que podem surgir por meio de coberturas com policarbonato, toldos retráteis ou pergolados com vegetação para controlar a incidência.
E o sol da tarde?
O sol da tarde é considerado o mais crítico em termos de conforto térmico, pois o calor intenso é acompanhado pelo aumento da temperatura nos ambientes que, por sua vez, interferem no aumento no uso de ar-condicionado e o desgaste precoce de materiais como estofados, madeira e papel de parede.

Para contornar esses efeitos, os arquitetos sugerem soluções de sombreamento e controle solar como:
- Cortinas e persianas: modelos blackout ou de tela solar reduzem a entrada de calor;
- Toldos instalados em áreas externasbloqueiam a incidência direta do sol e os brises, nos ambientes internos, para a regulagem ao longo do dia;
- Tintas refletivas: refletem os raios solares, diminuindo a absorção de calor;
- Ventilação cruzada: a abertura de janelas em lados opostos da casa permite a circulação do ar, refrescando os ambientes;
- Vegetação estratégica: espécies de árvores como o Ipê-Mirim ou Ficus Lyrata, quando plantadas próximas às fachadas, proporcionam sombra no verão e a entrada de luz no inverno.
E quando o sol não chega?
Apartamentos em andares baixos, terrenos com grandes construções ao redor ou plantas baixas mal orientadas podem resultar em ambientes escuros ou posições solares limitadas. Nesses casos, a arquitetura de interiores precisa compensar essa ausência com soluções que ajudem a trazer mais luminosidade e bem-estar.

“Nem sempre o projeto parte de condições ideais, mas é possível simular a presença do sol com escolhas certas de cor, materiais e pontos de luz. O essencial é que o ambiente continue leve e funcional”, ressalta Mariana Meneghisso.
A combinação de cores claras, revestimentos reflexivos, espelhos bem posicionados e iluminação artificial com temperatura de cor semelhante à luz do dia cooperam na manutenção de espaços agradáveis. Outras opções como clarabóias, aberturas laterais e painéis translúcidos também podem ser considerados nos projetos de arquitetura.
Excesso de sol
Embora a luz natural seja desejável, seu excesso prejudica a funcionalidade dos espaços. Por isso, é preciso prever formas de controlar a intensidade, especialmente em fachadas voltadas ao Norte e Oeste.

Entre as soluções de sombreamento mais comuns, além das já mencionadas, estão o uso de vidros especiais com controle térmico e a composição de uma vegetação de folhas largas e cativas do sol. O emprego de elementos vazados, como cobogós e muxarabis, também auxiliam no sombreamento sem bloquear totalmente a entrada de luz.
“O sol precisa ser controlado com inteligência. Quando deixamos de prever esse controle, o espaço se torna cansativo, quente demais e perde sua função principal: acolher”, finaliza Mariana.
Sobre a Meneghisso & Pasquotto Arquitetura
Com referências importantes na viabilidade executiva do projeto, somado a formação afinada em forma e estética, a dupla de arquitetos se completa na criação e concepção dos trabalhos. O escritório atua em projetos residenciais, comerciais e corporativos. Tendo como premissa produzir soluções, através de projetos autorais funcionais, atemporais, nos diversos vieses estéticos e de estilo, que traduzam boa arquitetura e a personalidade do cliente.
Mariana Meneghisso. Arquiteta Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes. Pós Graduada em Responsabilidade Civil pela Fecaf, Pós Graduada em Neuroarquitetura pela Ipog, Especialista em Perceptual Design pelo Instituto Politécnico de Milão. Membro da Academy of Neuroscience for Architecture Brasil. Sócia da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura desde 2005.
Alexandre Pasquotto. Arquiteto Urbanista pela Universidade Bandeirantes de São Paulo, Técnico em Edificações pela E.T.E. Júlio de Mesquita, Pós Graduado em Cálculo Estrutural pela Ipog, atua na construção civil residencial, industrial e corporativa desde 1992, consultor em dimensionamento, viabilidade e custos no ramo civil. Sócio desde 2004 da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura.
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