Receber 16 pessoas em uma casa de praia sem perder a privacidade parece impossível? Em Alagoas, um projeto de 1.700m² assinado por Isabela Barreto Bicalho provou que o segredo está na fragmentação. Unindo a expertise de Thereza Collor no paisagismo a soluções que ‘vencem’ a maresia, esta residência é o novo manual de como viver o litoral com luxo despretensioso.
Desde o início, o pedido dos moradores era claro: criar uma casa capaz de receber uma família numerosa durante as férias, chegando a acomodar até 16 pessoas, sem abrir mão da privacidade nem da fluidez dos espaços. O projeto, assinado pela arquiteta Isabela Barreto Bicalho, partiu desse equilíbrio delicado entre amplitude e acolhimento, traduzido em ambientes que se abrem para o exterior e se conectam entre si de forma intuitiva.
Arquitetura fragmentada que suaviza a escala e valoriza a paisagem
Implantada no condomínio Reserva Pituba, em Coruripe, a residência foi organizada em três núcleos bem definidos — social, íntimo e de serviço — interligados por passarelas revestidas de pedra e protegidas pela laje do pavimento superior. Essa fragmentação volumétrica dilui a imponência da construção no terreno e cria uma leitura mais leve da casa junto à paisagem litorânea.

Segundo Isabela, essa estratégia foi essencial para que a arquitetura não se impusesse sobre o entorno. A casa se espalha horizontalmente, permitindo que todos os ambientes desfrutem da vista para o mar, da ventilação cruzada e da iluminação natural abundante. Assim, a arquitetura se comporta quase como um conjunto de pavilhões conectados pelo jardim, reforçando a sensação de fluidez.
Materiais naturais e soluções pensadas para a maresia
A proximidade com o oceano trouxe desafios técnicos importantes. A estrutura metálica inicialmente prevista precisou ser revista por conta da ação constante da maresia. A solução encontrada foi o uso de lajes de concreto, que garantem maior durabilidade, associadas a revestimentos em madeira para manter o caráter acolhedor do projeto.

Madeiras como o cumaru, aplicadas em forros, vigas e escadas, dialogam com a pedra moledo presente em paredes e passagens. O resultado é uma combinação que transmite solidez e, ao mesmo tempo, conforto visual. Já os pisos em granito Siena levigado, devidamente impermeabilizados, foram escolhidos tanto pela resistência quanto pela leitura estética neutra, que permite que a paisagem e o mobiliário assumam protagonismo.
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Área social aberta, pé-direito generoso e clima de casa de praia
No bloco central, totalmente envidraçado, estão os ambientes sociais. Salas de estar, jantar e jogos compartilham um espaço amplo, marcado pelo pé-direito duplo e pela continuidade visual com o exterior. Grandes esquadrias de vidro emolduram o mar e permitem que a luz natural atravesse os ambientes ao longo do dia, criando diferentes atmosferas conforme o horário.

A decoração segue um minimalismo contemporâneo aquecido por texturas naturais e elementos artesanais. Peças produzidas na Ilha do Ferro e no sul de Alagoas convivem com mobiliário sob medida e obras de arte, reforçando o vínculo afetivo com o território. Para Isabela, a casa precisava refletir o espírito da praia: simples, elegante e despretensiosa, sem abrir mão da sofisticação.
Paisagismo tropical como extensão da arquitetura
Se a arquitetura estabelece o diálogo com o entorno, é o paisagismo que o consolida. Assinado por Thereza Collor, o projeto verde foi pensado desde o início como parte estrutural da casa, e não como complemento. O pedido dos moradores era claro: um jardim exuberante, com plantas grandes e floridas, capaz de resistir à maresia e exigir pouca manutenção.

Para isso, Thereza selecionou espécies adaptadas ao clima litorâneo, como palmeiras, bananeiras, pitangueiras, hibiscos, arecas, costelas-de-adão, alamandas e outras variedades tropicais. Muitas delas vieram do próprio viveiro da paisagista, o que garantiu plantas mais robustas e uma resposta rápida após o plantio. Em poucos meses, o jardim já apresentava crescimento vigoroso, com bananeiras frutificando e áreas de sombra bem definidas.
Segundo Thereza, a intenção sempre foi criar um jardim que “abraçasse” a arquitetura, permitindo que, com o tempo, a casa quase desapareça para quem observa de fora. O verde se infiltra nos pátios internos, acompanha as passarelas e envolve os dormitórios, reforçando a sensação de refúgio natural.
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Suítes integradas ao exterior e sensação de permanência
Nas áreas íntimas, a integração com o paisagismo continua sendo protagonista. As suítes se abrem para o jardim por meio de esquadrias pivotantes, que permitem ventilação constante e contato direto com o verde. No quarto principal, o reboco rústico em tom de areia queimado, a cabeceira em lâmina de cumaru e os objetos artesanais criam uma atmosfera serena, coerente com a proposta geral da casa.

Mais do que uma casa de férias, o projeto revela uma forma de viver o litoral com profundidade. Arquitetura, paisagismo e decoração trabalham juntos para criar um espaço onde o tempo desacelera, a convivência se fortalece e a natureza deixa de ser pano de fundo para se tornar parte essencial da experiência cotidiana.





