Construída no final da década de 1980, uma residência de 245 m² localizada em Cabreúva, no interior de São Paulo, passou por um cuidadoso projeto de revitalização que teve como premissa principal respeitar a história do imóvel ao mesmo tempo em que o preparava para um novo momento de uso. Assinada pela arquiteta Vivi Cirello, a reforma partiu da compreensão de que atualizar não significa apagar, mas sim reinterpretar.
Desde o início, o projeto buscou ampliar o conforto cotidiano, melhorar a funcionalidade dos espaços e, sobretudo, reforçar a relação da casa com o entorno natural privilegiado, marcado pela vista para a Serra do Japi. A paisagem deixou de ser apenas um pano de fundo para se tornar parte ativa da experiência de morar, influenciando decisões arquitetônicas, materiais e a forma como os ambientes se conectam.
Fachada contemporânea sem romper com a essência original
Uma das intervenções mais simbólicas do projeto de revitalização está na nova fachada. O desenho passou a ser marcado por uma laje em plano reto, que funciona como mirante e introduz uma leitura contemporânea ao conjunto arquitetônico. Esse novo elemento não nega a construção existente; ao contrário, estabelece um diálogo visual ao se inserir entre as diferentes águas do telhado original.
Segundo Vivi Cirello, a intenção foi criar uma transição equilibrada entre passado e presente. “A casa já tinha uma identidade forte. O desafio foi atualizá-la sem descaracterizar sua essência, criando novos pontos de interesse arquitetônico que conversassem com o que já existia”, explica a arquiteta ao comentar a escolha por preservar a volumetria original.

A materialidade teve papel fundamental nessa narrativa. Pedra madeira, porta ripada em madeira natural, pergolado com pintura em tom marrom e piso em pedra portuguesa foram combinados de forma harmônica, reforçando a sensação de solidez e acolhimento logo na chegada.
Área gourmet como extensão da convivência ao ar livre
O projeto de revitalização também redesenhou completamente a área de lazer, transformando-a em um espaço fluido e convidativo. A nova área gourmet foi integrada à área externa e à piscina, permitindo que diferentes atividades aconteçam simultaneamente sem rupturas visuais ou funcionais.
Nesse ambiente, os materiais assumem protagonismo. As cerâmicas decoradas, posicionadas de forma central no piso, criam o efeito de um tapete, delimitando o espaço sem a necessidade de barreiras físicas. Já o revestimento da piscina, que remete à madeira, contribui para uma estética mais natural e aconchegante, reforçando o conceito de continuidade entre arquitetura e paisagem.

O forro de palha no pergolado estabelece uma conexão direta com a antiga área da churrasqueira, criando unidade visual e uma atmosfera mais intimista. As paredes de tijolinhos, preservadas da construção original, foram pintadas de branco, valorizando sua textura e permitindo que a luz natural ganhasse protagonismo. O forno de pizza, por sua vez, recebeu revestimento azul e passou a funcionar como ponto focal, adicionando contraste e personalidade ao conjunto.
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Piscina como elemento central de bem-estar
A área externa foi organizada a partir da piscina, que se tornou o coração do lazer da casa. O espelho d’água foi dimensionado para atender diferentes perfis de uso, contemplando tanto momentos de descanso quanto a prática esportiva. De acordo com Vivi Cirello, essa decisão partiu de um pedido direto da moradora, ex-atleta e nadadora assídua.

“A cliente queria que a casa fosse um espaço que incentivasse hábitos saudáveis no dia a dia. A piscina precisaria atender essa demanda de forma funcional, sem perder o caráter de lazer”, comenta a arquiteta. Assim, o desenho privilegia proporções generosas e integração total com o entorno, permitindo que o esporte faça parte da rotina doméstica de maneira natural.
A conexão visual com a paisagem foi cuidadosamente trabalhada, ampliando a sensação de liberdade e reforçando o papel da arquitetura como mediadora entre o morar e a natureza.
Arquitetura biofílica e escolhas conscientes
Definido pela própria arquiteta como um projeto de revitalização com base na arquitetura biofílica, o trabalho adotou estratégias que valorizam a presença do verde, a ventilação cruzada e o uso consciente de recursos. A decisão de preservar a estrutura existente, em vez de optar por uma demolição completa, teve impacto direto tanto no orçamento quanto na sustentabilidade da obra.
“Reaproveitar a estrutura foi uma escolha técnica e ética. Além de reduzir custos, evitamos o desperdício de materiais e respeitamos a memória construída da casa”, afirma Vivi Cirello. Essa abordagem reforça uma tendência cada vez mais presente na arquitetura contemporânea: a de intervir com responsabilidade, entendendo o potencial do que já existe.
O resultado é uma casa que equilibra passado e presente, técnica e sensibilidade, oferecendo ambientes mais confortáveis, integrados e alinhados a um estilo de vida que valoriza bem-estar, natureza e permanência.





