A casa projetada pelo escritório Morada 31.12 Arquitetura e Interiores nasceu de um desejo muito claro: criar uma residência que deixasse a luz entrar com generosidade, que respirasse junto ao jardim e que traduzisse a rotina de um casal com dois filhos que utiliza cada metro quadrado do lar. A partir dessa premissa, a morada de 989 m², situada no Lago Sul, em Brasília, cresceu como um organismo vivo, onde a relação entre paisagem, vazios, texturas e volumes orienta a experiência sensorial e emocional de quem a habita.
Mais do que uma obra imponente, a residência foi concebida para ser acolhedora, humana e fluida. Desde o início, a arquiteta Mariana direcionou o trabalho para equilibrar a amplitude da metragem com a sensação íntima que a família desejava. “O desafio estava em integrar os ambientes sem perder a essência íntima e aconchegante que os moradores buscavam”, afirma ela. Esse pensamento costura toda a narrativa espacial da casa, definindo escolhas técnicas e estéticas que dialogam com a luz, o clima e o modo de viver dos proprietários.
Luz natural e fluidez como elementos estruturadores
O térreo abriga a maior parte das áreas sociais, que se conectam por meio de grandes panos de vidro, portas de correr e aberturas generosas que diluem os limites entre dentro e fora. A luz atravessa os ambientes ao longo do dia, acompanhando a rotina da família e reforçando a ideia de transparência e continuidade visual.

Um ponto de interesse surgiu logo no início do projeto: enquanto o morador sonhava com o pé-direito duplo para marcar a monumentalidade da casa, sua esposa priorizava uma escala mais intimista e acolhedora. A solução encontrada harmoniza ambos os desejos. O pé-direito ampliado foi aplicado apenas no hall de entrada e no living, criando um eixo de imponência que valoriza a escada helicoidal — peça escultórica com guarda-corpo curvo em madeira, degraus de mármore e pilar central em concreto. O restante da casa adota uma proporção mais humana, reforçando o conforto.
Acolhimento por meio da materialidade e das proporções

Nos ambientes íntimos, o forro mais baixo aproxima a arquitetura da escala do corpo, trazendo acolhimento e calor. Essa sensação é ampliada pelo uso estratégico da madeira, aplicada no living, no jantar e na varanda, criando uma continuidade tátil e visual que suaviza a monumentalidade da residência. O equilíbrio nasce justamente desse diálogo entre grandiosidade e intimismo, permitindo que a casa seja, ao mesmo tempo, elegante e profundamente habitável.
A materialidade tem papel essencial na construção dessa linguagem. Nas fachadas superiores, brises e venezianas móveis em madeira filtram a entrada de luz e auxiliam no controle térmico, aumentando a eficiência energética da construção. Já as paredes de pedra moledo, presentes tanto nas áreas externas quanto internas, criam uma sensação de continuidade que aproxima a arquitetura da paisagem. Esse recurso oferece textura, peso visual e uma presença quase artesanal em meio à linguagem contemporânea dos volumes.
Um lar que respeita memórias e identidades
A decoração não foi pensada como um complemento estático, mas como uma extensão da história dos moradores. Peças de acervo da família convivem com novos móveis, criando uma narrativa afetiva que atravessa a casa. A mesa de jantar, adquirida especialmente para o projeto, se destaca ao lado de obras do pintor Jenner Augusto, tio-avô da proprietária, que adicionam intensidade cromática e memória às paredes.
Nessa convivência entre passado e presente, a casa encontra seu próprio ritmo. O design contemporâneo acolhe as lembranças familiares, e a estética dialoga com a sensibilidade dos moradores, sem se sobrepor à vida real que se desenrola em cada ambiente.
Convívio social como extensão da rotina

A área social, amplamente utilizada pela família, foi pensada para funcionar em diferentes escalas: da convivência diária aos encontros maiores. Sob a cobertura do térreo, a área gourmet integra cozinha, estar externo e espaços de convivência com fluidez. O conjunto conta com churrasqueira, coifas de alto desempenho, refrigeradores, bancadas amplas e todas as comodidades necessárias para quem realmente vive esses ambientes no cotidiano.

A piscina retangular, de linhas limpas e modernas, organiza o jardim e atua como eixo de contemplação. Ao redor dela, o deque em piso frio amplia a sensação de amplitude e convida ao uso constante, reforçando a relação entre lazer e vida cotidiana.
Paisagismo que abraça e organiza a arquitetura
O trabalho da paisagista Ana Paula Róseo costura a residência com sensibilidade. O uso de espécies tropicais, folhagens densas e palmeiras cria sombras naturais, suaviza transições e funciona como filtro visual entre os espaços. A vegetação interna, distribuída em vasos estratégicos, prolonga essa experiência, dissolvendo fronteiras e incorporando princípios da arquitetura biofílica, que privilegia a presença da natureza como elemento ativo no bem-estar.

As plantas criam microclimas mais agradáveis, reduzem a sensação térmica e oferecem privacidade. Ao mesmo tempo, reforçam a vocação da casa para o viver contemporâneo, no qual estética e funcionalidade se encontram no cotidiano.





