Resumo
• Presentear com livros de design é uma forma elegante de inspirar o olhar, estimular a criatividade e oferecer cultura de um jeito afetivo e sofisticado.
• A seleção destaca o papel do mobiliário moderno brasileiro, revelando como fábricas, marcenarias e criadores anônimos ajudaram a construir nossa identidade no design.
• Obras sobre Ruy Ohtake e sobre luminárias brasileiras mostram como arquitetura, cor, forma e luz se encontram em peças autorais que são quase esculturas funcionais.
• O artesanato sustentável aparece como ponte entre natureza, arte e design, valorizando materiais naturais descartados e o trabalho de comunidades artesãs pelo país.
• Livros que abordam o design do século XX ampliam o repertório, conectando o leitor a ícones mundiais e a uma visão global das formas, cores e objetos do cotidiano.
Presentear com um livro de design é mais do que entregar um objeto. É abrir a possibilidade de inspirar o olhar, instigar a criatividade e oferecer ao leitor uma nova forma de compreender o mundo ao seu redor. Afinal, tudo que usamos, tocamos e escolhemos — de uma luminária a uma cadeira — carrega consigo a marca do design, suas escolhas de material, estética, ergonomia e conceito.
À medida que o fim do ano se aproxima, crescem as buscas por presentes significativos, que aliem conteúdo cultural, originalidade e beleza. É nesse cenário que os livros sobre design se tornam protagonistas silenciosos, capazes de provocar reflexão e encanto em leitores leigos, estudantes e profissionais da área.
Com curadoria cuidadosa, esta seleção reúne obras que exploram o universo do mobiliário brasileiro moderno, revisitam movimentos como o brutalismo tropical, abordam a relação entre sustentabilidade e artesanato, e ainda propõem um mergulho nos principais nomes do design do século XX — tudo com edições primorosas, fotografias impactantes e ensaios reflexivos que atravessam estética, história e identidade.
Entre marcenarias e ateliês
Na contramão dos holofotes voltados exclusivamente aos nomes consagrados do modernismo brasileiro, o livro “Anônimos – móvel moderno brasileiro além dos ícones” amplia o foco e destaca a contribuição de criadores, fábricas, editoras, lojas e escolas técnicas. A publicação, da Editora Olhares, costura uma narrativa visual com mais de duzentas imagens históricas e atuais, incluindo fotografias feitas dentro do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
Trata-se de um convite para compreender como o design nacional se moldou a partir de uma rede silenciosa de colaboradores, que muitas vezes permaneceram fora dos livros didáticos — mas cujas peças vivem até hoje em salas, escritórios e coleções de todo o país.
Ruy Ohtake e a curva como poesia visual
Já no livro “Ruy Ohtake – o design da forma”, vemos o traço do arquiteto ganhar autonomia fora dos edifícios. A publicação, organizada por Fabio Magalhães, Marili Brandão e Priscyla Gomes, explora a produção de mobiliário e objetos do arquiteto, revelando como sua linguagem — marcada por cores vibrantes, formas curvas e materiais como aço e MDF — se estendeu também ao universo do design industrial.
Ohtake enxergava o mobiliário como uma extensão natural da arquitetura. Sua busca por uma estética sensorial e escultural revela um capítulo fascinante da história recente do design brasileiro, que alia sofisticação técnica e expressão emocional.
Da natureza à criação
Em “Artesanato Sustentável: natureza, design e arte”, a autora Mônica Carvalho propõe um olhar sensível sobre o uso criativo de materiais naturais descartados, como sementes, fibras, cascas e frutos. Ao longo das páginas, o leitor conhece técnicas utilizadas na criação de colares, bolsas, pulseiras e peças únicas, produzidas por comunidades artesãs em diálogo com designers contemporâneos.
O livro também compartilha histórias de bastidores de projetos sociais e colaborações interdisciplinares, ressaltando o valor da sustentabilidade no design contemporâneo, não apenas como tendência estética, mas como filosofia de criação e responsabilidade.
Do brutalismo à contemporaneidade
Para quem busca um panorama mais acadêmico e histórico, a obra “Móvel Moderno no Brasil”, escrita por Maria Cecília Loschiavo dos Santos, é leitura obrigatória. Com rigor e fluidez, a autora percorre a trajetória do mobiliário brasileiro desde os anos 1920 até as criações autorais dos anos 1980, abordando aspectos sociais, econômicos, técnicos e estéticos.
Além de mapear a evolução formal e conceitual das peças, o livro destaca o papel de grandes ateliês e indústrias brasileiras, revelando como o móvel nacional soube incorporar influências internacionais sem perder seu traço identitário.
Luminárias como esculturas de luz
Há também espaço para os apaixonados pela luz. Em “Design Brasileiro: Luminárias”, o leitor mergulha em uma linha do tempo visual que apresenta 135 peças, assinadas por mais de cem designers brasileiros, entre nomes consagrados e novos talentos. A publicação organiza cronologicamente essa produção, permitindo acompanhar a evolução das luminárias como peças de design e arte funcional.
Entre os destaques, estão obras de Carlos Motta, Zanini de Zanine, os Irmãos Campana e o premiado Fernando Prado, mostrando como o Brasil consolidou uma linguagem própria também na criação de sistemas de iluminação autoral.
O século do design
O livro “Design of the 20th Century”, publicado pela Taschen, é uma imersão visual e teórica no universo do design moderno global. Com mais de 400 páginas ricamente ilustradas, a obra contempla nomes como Philippe Starck, Charles e Ray Eames, Harry Bertoia, Dieter Rams e muitos outros que ajudaram a redefinir a estética do século passado.
Através da análise de objetos cotidianos — cadeiras, luminárias, rádios, cartazes — o livro revela como o design se transformou em linguagem universal, refletindo as transformações culturais, industriais e políticas do mundo moderno.





