Criar um projeto à distância é sempre um desafio, sobretudo quando envolve traduzir emoções e estilos de vida em cores, texturas e volumes. Mas, para o casal de arquitetos Carol Wenke e Luiz Felipe Feltrim, da C.W. Arquitetura e Interiores, essa missão foi transformada em uma experiência de conexão e sensibilidade.
De Lisboa, eles assinaram um projeto para uma cliente brasileira que sonhava com um refúgio de férias na capital portuguesa — um lar de alma leve, ensolarado e acolhedor. Mesmo a quilômetros de distância da cliente, o projeto fluiu com naturalidade. E o resultado final é uma tradução fiel de sua personalidade: solar, delicada e conectada ao essencial.

O desafio era tornar o imóvel, localizado na tradicional Lapa, em um espaço de estadia para férias. Mais do que isso, era necessário que ele transmitisse sensações específicas: o conforto de um refúgio aliado à familiaridade de uma casa.
Para isso, cada escolha — da planta baixa à composição dos ambientes — foi pensada com atenção ao tempo, à rotina e à alma de quem ocuparia o espaço. A paleta foi o primeiro gesto de suavidade. Tons de off white, branco fosco e palha definem a base, enquanto a madeira de carvalho traz a textura natural que aquece.

O projeto não se apoia em excesso, mas sim na precisão. Poucos objetos foram selecionados — e exatamente por isso, cada um deles carrega valor estético e simbólico. O tapete da área social, por exemplo, foi produzido sob medida, em tonalidade neutra, a pedido dos arquitetos. Ele organiza o espaço e funciona como base para as demais peças.
A ausência de plantas, por conta da utilização eventual do imóvel, não foi um problema. A natureza foi inserida de forma sutil e poética: nas fibras, nos tecidos e, principalmente, na arte. Um trio de quadros do fotógrafo brasileiro Marcelo Barbosa ocupa a parede sobre o sofá e reforça a identidade carioca em um cenário europeu. A curadoria dessas imagens funcionou como elo emocional e estético entre as duas geografias que definem a vida da moradora.

A madeira surge em diferentes momentos do projeto — no mobiliário, no piso, nos detalhes. Sempre com acabamento leve e sem brilho, reforçando a proposta de um décor contemporâneo que valoriza o silêncio visual. A iluminação, por sua vez, se encarrega de modular os climas.

Durante o dia, a luz natural inunda os ambientes. À noite, o jogo de abajures e pendentes transforma a atmosfera em algo mais intimista e reconfortante.
Apesar da distância, o vínculo entre cliente e arquitetos foi estabelecido com sintonia. As escolhas revelam não apenas bom gosto, mas escuta ativa. O projeto prova que a arquitetura de interiores vai muito além da estética: ela é também narrativa, cuidado, gesto.

Em tempos em que a urgência por pertencimento cresce, criar um espaço que abrace — mesmo que temporariamente — se torna quase um manifesto. E esse apartamento em Lisboa é, acima de tudo, um manifesto silencioso da elegância contida, da sofisticação na simplicidade e do afeto traduzido em forma, luz e matéria.





