Entre os dias 18 de setembro e 19 de outubro de 2025, o Pavilhão da Oca, no coração do Parque Ibirapuera, se transforma em palco de uma das discussões mais urgentes do nosso tempo: como a arquitetura pode reagir, adaptar e propor soluções frente às emergências climáticas que moldam o mundo atual. Com curadoria do Instituto de Arquitetos do Brasil – São Paulo (IAB-SP), a 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo adota como tema central Extremos: Arquitetura para um Mundo Quente, e promete provocar não apenas os profissionais da área, mas também o público em geral.
A proposta é clara: refletir sobre o papel social, cultural e ambiental da arquitetura em um mundo cada vez mais imprevisível. Com entrada gratuita e uma programação robusta, o evento se impõe como um dos principais fóruns latino-americanos sobre urbanismo contemporâneo, paisagismo regenerativo e design sustentável.
Um mosaico global com mais de 200 experiências arquitetônicas
A Bienal reúne 179 projetos de 29 países, somados a uma curadoria nacional que contempla diferentes escalas e contextos brasileiros — do território ribeirinho amazônico às metrópoles em transição. A seleção foi feita a partir de uma chamada aberta internacional e complementada com convites específicos a projetos alinhados à proposta curatorial.
O resultado é um recorte diverso e provocativo da arquitetura contemporânea, que vai além da forma e mergulha em temas como justiça climática, habitação social, resiliência urbana, inovação material e ancestralidade. Do Brasil ao Paraguai, das Ilhas Canárias ao Reino Unido, cada instalação ou projeto presente na Oca funciona como um pequeno grito visual diante das transformações do planeta.
Arquitetura que habita a floresta e protege o litoral
Destaque para o Projeto Japiim, assinado pelo escritório Tetro Arquitetura, que propõe uma integração simbiótica entre o espaço construído e os ecossistemas amazônicos.

Inspirado pelos igapós, o projeto utiliza materiais biodegradáveis e explora a estética da sombra, da água e dos ciclos naturais. Trata-se de um exemplo notável de arquitetura que não apenas respeita a floresta, mas se propõe a existir com ela.
Na outra ponta, o projeto espanhol LIFE COSTadapta redefine o conceito de proteção costeira com soluções chamadas de “imunoterapia marítima”.

Com estruturas que aliam betão ecológico, recifes artificiais e espaços de uso comunitário, o projeto responde aos efeitos da elevação do nível do mar sem recorrer a barreiras rígidas, e sim ativando os próprios mecanismos da natureza.
Tecnologias naturais e sistemas vivos
Em meio a um debate frequentemente polarizado entre alta tecnologia e sustentabilidade, a instalação Woven Breathing Façade, do Reino Unido, aposta na inteligência dos próprios materiais. A fachada “respira” conforme as variações de calor, umidade e presença humana, movimentando-se lentamente sem o uso de motores ou energia elétrica. A madeira, nesse contexto, deixa de ser um mero revestimento para assumir o papel de organismo vivo.

Esse tipo de abordagem sensorial e experimental se reflete também na oficina Imaginando Arquiteturas, que usa inteligência artificial generativa para criar cenários urbanos sob impacto climático. Ao invés de propor respostas prontas, o objetivo é estimular a imaginação coletiva sobre futuros possíveis — ou inevitáveis.
Urbanismo regenerativo e protagonismo do espaço público
Projetos como o Distrito Itaqui, do escritório FGMF, e os novos parques na Zona Norte do Rio de Janeiro abordam a reconfiguração do tecido urbano a partir da reconexão com a paisagem.

No primeiro, edificações semienterradas se mimetizam à vegetação nativa de Itapevi, preservando 90% da área verde. Já no Rio, bairros com baixo IDH recebem parques concebidos com intensa participação comunitária, promovendo espaços de lazer, cultura e educação ambiental.
A mesma lógica de reconquista do espaço público está no projeto La Cuadrita, de Assunção, que transforma um cruzamento entre pedestres e ciclovia em um exemplo de mobilidade inclusiva e infraestrutura verde. Uma rua, antes funcional, passa a ser lugar de permanência, convívio e transição ecológica.
Patrimônio como laboratório para o futuro
Se a arquitetura pode construir o novo, também pode preservar e reinventar o antigo. O caso do Edifício Jorge Machado Moreira, no Rio de Janeiro, é emblemático.

Ícone da arquitetura moderna brasileira, o prédio da FAU/UFRJ está sendo restaurado e transformado em um centro de pesquisa viva sobre preservação patrimonial, arquitetura bioclimática e ensino. A reabertura da biblioteca com acervo raro é apenas o começo.
Uma bienal com múltiplas linguagens e acesso gratuito
Com mais de 40 oficinas, 80 debates, sessões de cinema e atividades em instituições parceiras, a Bienal de São Paulo se consolida como um espaço aberto e plural. O diálogo com o público não se restringe ao campo profissional: crianças, estudantes, artistas, ambientalistas e moradores da cidade estão convidados a imaginar coletivamente a cidade do amanhã.
Entre uma instalação e outra, entre uma mesa-redonda e uma caminhada pelas árvores do Ibirapuera, a 14ª Bienal nos lembra de que arquitetura não é apenas edifício: é gesto, política, território e resposta urgente a um mundo em desequilíbrio.
14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo
Data: 18 de setembro a 19 de outubro de 2025
Horário: terça a domingo, das 10 às 20h
Endereço: Pavilhão da Oca, Parque Ibirapuera — Av. Pedro Álvares Cabral, S/n – Portão 2 – Moema, São Paulo, SP
Ingressos: entrada gratuita

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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